quarta-feira, 30 de setembro de 2009

HISTORIADOR DIZ QUE PRÉ-SAL REPETE DEBATE DA AUTONOMIA DE RESERVAS

HISTORIADOR DIZ QUE PRÉ-SAL REPETE DEBATE DA AUTONOMIA DE RESERVAS


Quarta-Feira, 30 de Setembro de 2009, 07:08
Da Redação

LUIZ FERNANDO YAMASHIRO


A história de Deoclécio Santana terá um novo resgate nas páginas de Verão Vermelho ­

Os 60 anos da luta O petróleo é nosso, livro que o historiador e jornalista Paulo Matos preten- de concluir até o final deste ano. Ex-militante do PCB, Matos diz que o ensacador foi vítima da perseguição comum naquela transição de década.

"Era assim com todo mundo que falava em petróleo no Brasil. Os Estados Unidos sabiam que tinha petróleo aqui, mas tinham planos de fazer do Brasil uma reserva futura. E o (presidente) Dutra era agente dos norte-americanos".
PÁGINAS AMARELAS

Folheando as amareladas edições do Jornal do Petróleo, um dos embriões da campanha pela autonomia, o historiador vê no atual debate em torno do pré-sal uma repetição do duelo daquela época. De um lado, uma ala nacionalista, defendendo o monopólio estatal; do outro, pessoas "ligadas ao capital internacional", que tentam, novamente, impedir o desenvolvimento do País.

"Esta aí a oposição (ao Governo Federal) querendo abrir a exploração a empresas estrangeiras, fazendo o que a UDN (União Democrática Nacional) fez lá atrás", diz, apontando a manchete de A Tribuna do último dia 22. "É aquilo que (Karl) Marx escreveu: a história se repete, a primeira vezcomo tragédia, a segunda, como farsa".

Na defesa de suas ideias, Matos argumenta que hoje, se não houver mobilização popular semelhante à de O petróleo é nosso, a riqueza gerada em solo nacional corre o risco de ir parar em contas bancárias estrangeiras.

"O petróleo brasileiro é de quem nasceu aqui, de quem trabalha aqui, de quem financiou a descoberta pagando imposto. Se não respeitarem isso, seremos uma Arábia Saudita: cheios de petróleo, com uma minoria milionária e o resto da população na pobreza".

DÍVIDA

Também militante do PCB e apoiador da campanha, o pintor santista Mário Gruber diz que a Petrobras só atingiu o status atual graças ao sacrifício de pessoas como Deoclécio. E do alto de seus 82 anos, dispara: "A empresa tem uma dívida histórica com ele. Aquela era uma época de muita repressão. Então, a morte não repercutiu como deveria".

A exemplo de Paulo Matos, Gruber também é refratário à participação de outros países na exploração do petróleo nacional. Mas, comparando as épocas, credita a apatia atual à falta de informação por parte dos brasileiros. "Se derem destaque ao assunto, informando corretamente, a população se interessa e vai às ruas".

SEM HOMENAGEM

Sem hesitar emchamar Deoclécio de mártir, o ex-presidente do Sindicato dos Petroleiros, Vasco Nunes, acredita que, cedo ou tarde, o reconhecimento virá. "Zumbi (líder do Quilombo dos Palmares) levou 400 anos para ser reconhecido. O Deoclécio morreu só há 60".

Em nota enviada a A Tribuna, a Petrobras "reconhece que Deoclécio Augusto Santana foi um mártir na luta pelo monopólio durante a campanha O Petróleo é Nosso, em sua atuação na cidade de Santos". Informou, porém, não haver homenagem oficial da companhia a ele.

Histórico do petróleo no Brasil

Nos anos 30, o escritor Monteiro Lobato passa a defender a existência de petróleo em solo nacional e a soberania do Brasil em relação à sua produção. Em 1939 é perfurado, na Bahia, o primeiro poço do País.

Em 3 de outubro de 1953, o presidente Getúlio Vargas sanciona a Lei 2.004, que constitui a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) e estabelece o monopólio do Governo Brasileiro sobre pesquisa, extração e refino do petróleo.

Nas quatro décadas seguintes, a empresa torna-se líder na comercialização de derivados no País e recebe, em 1992, o prêmio da Offshore Technology Conference (OTC), o mais importante do setor.

Em 1997, a produção da estatal coloca oficialmente o Brasil entre os 16 países que conseguem produzir mais de 1 milhão de barris de óleo por dia.

Nesse mesmo ano, no dia 6 de agosto, o presidente Fernando Henrique Cardoso sanciona a Lei nº 9.478, acabando com o monopólio do Brasil e abrindo as atividades petrolíferas a empresas privadas.

Em 21 de abril de 2006, o País atinge a autossuficiência em petróleo. No ano seguinte, a Petrobras torna-se a sétima maior empresa de petróleo do mundo com ações negociadas em bolsas de valores, de acordo com a Petroleum Intelligence Weekly (PIW).

No ano passado, foi reconhecida através de pesquisa da Management & Excellence (M&E) a petroleira mais sustentável do mundo e referência mundial em ética e sustentabilidade.

Neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o marco regulatório para a exploração do pré-sal, criando uma nova estatal, a Petro-sal. Diferentemente da Petrobras, esta nascerá sob o sistema de partilha de produção: o óleo extraído será dividido entre a empresa que faz a exploração e o Governo Federal.

Senhor Editor: LIVRO PETRÓLEO

Senhor Editor:
LIVRO PETRÓLEO

 Paulo Matos (*)


Na data do crime contra o herói do petróleo Deoclécio Augusto Santana neste último 30 de setembro, não posso dizer que fiquei surpreso com a excelência da matéria do colega Luiz Fernando Yamashiro. Ele que, no exercício mais pleno do jornalismo, contribui, com seu jornal, para consecução de avanço histórico e político sobre a questão. É-lhe nato o bom desempenho. A matéria – e o livro que preparo - amplia a ótica dos meros financistas para ingressar na radicalidade da mudança social necessária, incluindo valores sociais na educação.

A matéria e meu livro sobressaltam o aspecto social do tema, no rumo da mudança dos paradigmas do progresso. Motivo pelo qual foi o eleito o tema petróleo entre os que desejavam o futuro, os militantes de 1949. Foi o ano da fundação do Centro de Defesa do Petróleo em Santos, que teve Aldo Ripasarti presidente, preso. O tema é referência obrigatória que A Tribuna reporta em suas seis décadas. Parabéns.


(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
F.13-38771292 – 97014788

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A UTOPIA MAGISTRAL

A UTOPIA MAGISTRAL

Paulo Matos (*)


“Utopia” traduz o céu, onde se aboliu a propriedade privada e se aboliu o jogo. A meta social é a utopia, presente neste desenho utópico. Nossos dicionários traduzem a palavra como país imaginário (de More), teoria irrealizável, fantasia, delírio, quimera. Em grego, não lugar (u topus), lugar nenhum. “Sir” Thomas More (1480-1535) escreveu o livro ”Utopia” que nos é próxima, pois teria sido imaginada a partir da ilha brasileira de Fernando de Noronha, em 1516 – onde tudo é de todos. Descreve na primeira parte o estado venal e na segunda a utopia a ser construída. Quer expressar uma vontade contra os desajustes sociais de seu tempo, a Inglaterra de Henrique VIII. Ela expulsava os fazendeiros de suas terras transformadas em pastagens, no império dos nobres.

Para contar sua história, More monta um artifício literário em que um diplomata viajante encontra Giles, um cidadão inglês austero. E Raphael Hitlodaie, em grego “contador de lorotas – um marinheiro que acompanhou Américo Vespúcio em suas descobertas nas suas quatro viagens. Este conta sua história na ilha que descobrira, a ilha mítica de Amaurote (utopia), onde vivera por quatro anos e dizia ser o país perfeito, o reverso, salienta, da Inglaterra de então.

Os soldados que voltavam da guerra tinham como destino a miséria, não existem asilos ou hospitais – os mendigos morriam nas valas em casebres insalubres, mas onde a lei penal era implacável. “Utopia”, no grego, significa “lugar nenhum”, escrito sobre um tempo de tiranos e corruptos. Só dezesseis anos após a morte de More o livro foi publicado em inglês. Com um discurso baseado nos diálogos de Platão, desenha a utopia comunista e igualitária em que todos possuem bens iguais.

A ilha é uma família ou um conjunto doméstico, dividido em unidades familiares com vínculos de sangue. Grupos de 30 famílias são governados por “filarcas”, que defendem seus direitos ao trabalho e onde não existe desemprego, um “filarca-chefe” comanda dez grupos, 300 pessoas- e eles escolhem um príncipe.

O povo vive em 54 distritos, cada qual com uma área cultivável em volta, na profissão mais cultuada naquele espaço – a agricultura, mas todos aprendem profissões ou ofícios, em uma terra de poucas leis, pois que assim exige a natureza de seus habitantes. Já neste tempo se compreendia que a lei deveria ser compreendida para ser obedecida. Não há advogados, pois, segundo juízo emitido, “é um tipo de gente cuja profissão é dissimular os fatos e burlar as leis”. Há os executados, mas também meios de recuperação aos infratores, trabalhos forçados sua pena comum.

Antecedendo a Reforma Católica, o livro é liberal em termos religiosos e admite até os ateus. Existe um programa contínuo de educação, mas nem tudo é assim: quem sai de sua cidade pode ser punido como fugitivo ou voltar a ser escravo. Mas More antecipa o estado do bem estar social e sua visão é de vanguarda hoje, imagine-se no século XVI. É um libelo e serviu de base para inúmeros construtores ideológicos de teses libertárias que, como Marx, jamais dispensaram sua leitura.

Cá o ouro só serve para fazer urinóis e latas de lixo. É céu, onde se aboliu a propriedade privada e se aboliu o jogo. A meta a utopia. Nossos dicionários traduzem a palavra como país imaginário (de More), teoria irrealizável, fantasia, delírio, quimera. Em grego, não lugar (u topus), lugar nenhum.


(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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Salve Conde!

Salve Conde!

Paulo Matos (*)


A posse nesta terça do secular, emérito e nobiliário jornalista Carlos Conde na editoria-geral de A Tribuna, vindo de volta do Planalto que nos devolve e brinda, representa, para a categoria, um resgate histórico e de raiz - digno de reverência de excelência real e não formal a que faz jus, na resistência à censura e ao atraso, pelas luzes de seu patrimônio ético e moral.

Profissional exemplar de extensa vivência na obra desenvolvida, Conde, ao revés, se faz nobre. Não no sentido de fidalguia, mas como o fruto ligado umbilicalmente a terra e ao mar de seu ?Peixe?, em seu exercício nobilitante do fazer notícia e enfrentar restrições vencidas - como as que enfrentou e ajudou ao triunfo no sentido da profissão como ideologia .

Conde, nessa postura de tradição sublime, construiu uma carreira que nasceu - e se afirma agora - em sua própria pátria santista magistral, de cidade e de time como o que adotou por uma vida.

Guarda esta mágica inerente a polis que a cultiva altaneira e libertária em face dos agravos impostos e das vitórias arrancadas, seja nos campeonatos, nas greves, nos manifestos, nos gols ou autonomias consagradas ? que nobilitará seu meio, que retoma, amante da santiscidade que é. Resistir, para ele, é prosseguir sua senha e que saudamos.


(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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domingo, 27 de setembro de 2009

INQUISIÇÃO À BEIRA-MAR

INQUISIÇÃO À BEIRA-MAR

Paulo Matos (*)


Ao final do século XX, um jornalista foi condenado pela Lei de Imprensa, em ação movida pela Igreja Católica (Processo Penal 66 / 99 da Sexta Vara Criminal de Santos), após recurso em todas as instâncias e que seguiu até o Supremo Tribunal Federal e Supremo Tribunal de Justiça.


Tudo isso ocorreu por eu ter escrito, no jornal “Diário do Litoral”, em 22 de maio de 1999 e na revista “Destaque”, em março de 1999, - a matéria “Andréa, a princesa árabe”. Denunciando que a Igreja Católica estava usando métodos para expulsar da moradia a jovem Andréa Mahtuk, que residia no local desde pequena com sua mãe, a época dos fatos já falecida.


A Igreja queria aproveitar financeiramente o imóvel que recebera como herança. E a moradora estava lá. Embora filha da usufrutuária que falecera, não era herdeira legal, mas morava lá. É que herdeiro de usufrutuário não herda o usufruto. Mediante testemunhas cuidadosamente providenciadas, morrendo no leito e já sem condições de assinar, a Igreja Católica levou a herança da tia de Andréa. A mãe, irmã dela, ficou lá. Morreu e deixou Andréa, tocada pra fora.


Fui condenado após longa batalha jurídica que chegou no STF e no STJ a três meses de limitação de fim de semana e multa. Mas valeu a pena: a vítima recebeu indenização para se mudar do local e, no espaço ocioso que a Cúria Diocesana ocupara, antes uma praça pública - fato que denunciei -, doze anos depois começaria finalmente a construção de uma creche para as miseráveis famílias do bairro tão necessitado. Foi o que a reportagem conquistou.


O título da reportagem evocava as perseguições dos cristãos contra os árabes nas Cruzadas, já que o clima de guerra contra a jovem residente em uma valorizada área em que estava a casa no Gonzaga era patente e sua descendência era árabe.


Como paralelo, cito as ações da Igreja Católica na Inquisição e ao fato da Igreja ter reservado área pública, atrás do Fórum da praça José Bonifácio, em Santos, centro, e, ao invés de usá-la para construir uma creche, como tinha alegado no pedido, usava só para guardar ali o Mitsubishi do Padre. A contribuição do Papa Pio XIIU para o genocídio nazista também foi lembrada no artigo.


Por isso fui processado e condenado – e só um órgão nacional de imprensa, o DCI (Diário do Comércio e Indústria) reportou o episódio, na edição de 28 de agosto de 2001, além do pequeno jornal “Travessia” (agosto de 2000), local e o jornal Diário do Litoral, este em fevereiro de 2000.


Em dezembro de 1999 escrevi um a matéria sobre o fato na revista “Destaque”, intitulada “É natal: em Santos, a Inquisição à beira-mar”, ilustrada por um quadro clássico de Masaccio, renascentista italiano, retratando a crucificação de São Pedro de cabeça para baixo – um retrato da situação.


A inicial foi impetrada pela Mitra Diocesana de Santos e o Padre Antonio Baldan em 15 de julho de 1999, pouco antes do prazo final, através dos advogados Aldo Rodrigues de Souza e Luciano Pereira de Souza, pedindo a condenação por delitos de imprensa, Artigo 21 da Lei 5.250/67, a Lei de Imprensa.


A ação foi julgada procedente em 26 de julho de 2000 pela juíza da 6ª Vara Criminal, Silvana Amneris Rolo Pereira Borges e a primeira audiência foi em 8 de fevereiro desse ano. O advogado Aldo dos Santos Pinto pediu, inicialmente, o trancamento da ação pelo Artigo 44 da Lei de Imprensa.


O recurso em sentido estrito 1.197.435/7 foi denegado pelo juiz Marco Nahun em 11 de abril de 2000Com a decisão condenatória, o acórdão (decisão) do recurso ao TECRIM - Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo, assinado pelo juiz Marco Nahun em 29 de maio de 2001, repetiu a decisão, a partir do que se procedeu aos recursos especial e extraordinário junto ao STF e STJ.


O Recurso Especial, baseado na tese de afronta à lei federal, (nº. 1249777 / 1-1) fundamentou-se no Artigo 105, III, “a” e “c” da Constituição federal por alegação de ofensa ao Artigo 27, VIII e IX da Lei 5.250/67 e ao Artigo 41 do Código de Processo Penal.


O Recurso Extraordinário ao STJ, baseado no Artigo 102, III, “a” da Constituição federal, sob alegação de contrariedade aos Artigos 5º, IV, LIV e LV, e 220 da Magna Carta. Contra a inadmissão do Recurso Especial foi interposto o Agravo de Instrumento nº. 441.912-SP, que não foi reconhecido pelo Ministro Hamilton Carvalhido, relator. O habeas-corpus foi denegado em 10 de setembro de 2002 pelo presidente da quarta câmara do TECRIM, juiz Devienne Ferraz.


Iniciada com um trecho de um texto do jovem Marx, a defesa em segunda instância no TACRIM – Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo – foi o recurso do advogado Aldo dos Santos Pinto, pedindo a reforma da sentença imposta pela Sexta Vara Criminal local, em primeira instância.


Na peça jurídica de 18 folhas, a defesa da liberdade de imprensa encabeça o elenco de razões pelas quais o jurista pleiteia a anulação da sentença e a absolvição do jornalista – citando o artigo de Karl Marx publicado no jornal alemão Rhemische Rzeitung sobre o direito de informação, em maio de 1842.


Um ano após iniciado, em julho de 1999, o recurso foi contra a decisão prolatada no processo de “difamação”, número 66/99, pela juíza Silvana Amneris Rôlo Pereira Borges, condenando o jornalista pelo artigo 21 da lei de imprensa - 5.250, de 9/2/67.


Pela condenação final paguei 2,33 salários mínimos de multa e fiquei durante 3 meses e 15 dias, durante 5 horas nos sábados e domingos, submetido à privação de direitos, pena imposta pela Vara de Execuções Criminais, o que na verdade me custou a posição no Tribunal do Júri, em que era membro. Condenado, nunca mais. O recurso teve efeito suspensivo. Segundo consta dos autos, “Matos defendeu Andréa despejada de sua casa por força alienígena ao direito”. O processo conteve 5 acusações de difamação.


A REPORTAGEM


A ação se deveu a um artigo de jornal intitulado “Andréa, a princesa árabe”, publicado em março de 1997 e que reportava o episódio vivido por Andréa Mahtuk, 27. Moradora de uma casa no Gonzaga, bairro turístico central de Santos, estava há quatro anos resistindo contra sua expulsão do imóvel em que residia e que a igreja era futura herdeira. Mas embora herdeira presumida, a Igreja ainda não tinha a posse, tinha a posse “nua”. Mas já ordenara a demolição da casa e o corte da água e luz, ainda com a jovem residindo nela.

Imediatamente após o pagamento da indenização a que a Igreja se recusava a saldar antes do escândalo, a casa foi demolida e aberto um estacionamento.A ação foi movida através da pessoa jurídica da Igreja na cidade, a Mitra Diocesana, junto com o ex-pároco da Catedral, Antonio Baldan. A igreja foi representada pelo advogado Aldo de Souza, que é professor na Faculdade Católica de Direito, em que o réu estudava.


Indiciado na Lei de Segurança Nacional em 1984, quando membro da coordenação da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo, condenado, para custear o recurso ao Tribunal, ameacei fazer panfletagens e manifestações nas missas da Igreja Católica na cidade, pedindo apoio e solidariedade, o que afinal não foi feito.


O objetivo da reportagem foi o mesmo do propósito secular da igreja, de resgatar direitos e promover a justiça. A meta solidária foi atingida: foi paga a reivindicada indenização à moradora e locada uma nova moradia para ela. assim como o início das obras de um equipamento social coletivo atrás da catedral só vieram após a publicação do artigo. cercada por uma população carente, foram iniciadas obras no local depois de 13 anos da posse da área”.


Escrevi na época que os representantes da Igreja local que me acionaram “não tem nada em comum com o Papa João Paulo II “que perdoou o homem que tentou lhe tirar a vida”, tentando sensibilizar os autores. “No caso – emendei -, quem quase perde a vida foi a moradora atingida pela demolição”. Não foi oferecida ao réu a oportunidade de retratação, que segundo declarei, não faria: “prefiro a fogueira com a verdade, ser um Spinosa do que um Galileu, que abjurou”.


O processo teve diversas audiências com depoimentos das testemunhas e das partes, entre os quais vizinhos de Andréa e o vereador e líder do prefeito, Odair Gonzalez. Uma das cinco acusações do processo era que a reportagem deste autor acusava a Igreja de ter ocupado e murado uma área pública atrás da Catedral, na área central da cidade, sem lhe dar destinação social – “ocupada apenas para guardar carro de padre”.


A juíza aceitou que a Igreja, como locatária, tinha poderes para demolir a casa, inclusive com morador dentro, sem pedir imissão de posse. E que teria posse legítima do imóvel, “sem denotar que esta era uma posse nua, sem uso e fruto, pois que apesar da posse gradativa firmada no testamento, na medida da morte das usufrutuárias, apenas uma das três irmãs tinha falecido, a mãe de Andréa. como se vê, dois mil anos ainda significam alguma coisa.


Andréa


Santista e filha de pai libanês, Andréa é filha de Arlete, uma usufrutuária falecida e que morava no local desde pequena. O representante da igreja confirmou que foi autorizado o inicio da demolição e as testemunhas o fato de que ela sempre residiu na casa, desmentindo a alegação dele que o imóvel estava vazio. O que também foi comprovado por diversas correspondências, recebidas por Andréa naquele endereço nos últimos anos.


“Este episódio fará história”, disse este autor na época. Buscando a justiça e o direito que alcançou, o episódio fez paralelo com uma os tempos em que vigia o terror da inquisição. Começava assim a matéria: “Esta história tem jeito de fábula medieval, não ocorresse nos dias de hoje em Santos, litoral paulista.


Em uma casa acastelada e semi-destruída do início do século – um castelo? – se desenvolve um desses incríveis debates em torno da propriedade, esta cruel instituição. Lá, uma linda jovem de origem libanesa – princesa árabe ? – resiste heroicamente às tentativas de expulsão da casa em que mora desde criança”. Uma “fábula” que ressuscitou conceitos medievais.


Flagrante


Segundo meu advogado, o objetivo social da denúncia, motivada pela legítima defesa de outrem (Andréa) e o interesse dos carentes moradores do centro, descaracteriza a difamação, conforme a Lei de Imprensa e o Inciso 4 do Artigo V da Constituição de 1988.


Após a interposta a ação penal, o advogado encaminhou uma defesa prévia de doze páginas, sendo os autos enviados ao Ministério Público, que optou por aceitar o processo, tendo então sido impetrado recurso junto ao Tribunal de Alçada Criminal em São Paulo, pedindo o trancamento da ação - segundo o artigo 44, Parágrafo II, da Lei de Imprensa –, que denegou o pedido.


A casa, que foi demolida dias após a reportagem, para instalação de um estacionamento da UNIPARK, se localizava na área nobre do Gonzaga, na Avenida Marechal Deodoro 23, a 50 metros da praça independência. De arquitetura clássica, construída no início do século e adquirida na década de 20, foi uma das primeiras edificações no local. Nela residiu a então famosa costureira Germana Silva, tia da moradora, que viajava para a França freqüentemente e freqüentava o noticiário dos jornais. Foi um dos primeiros casarões do centro turístico de Santos.


O testamento foi feito no leito de morte de Dona Germana, cega e com câncer, diante de testemunhas providenciadas pela Igreja, há quase 40 anos, em 11 de março de 1963. Uma das usufrutuárias era a mãe de Andréa (e duas irmãs), que residiu no local até o fim da vida, em 1991 – deixando a filha. Como segundo as leis o usufruto não é hereditário, a Igreja Católica acreditava-se dona do bem e em condições de seu usufruto, mas havia a filha da usufrutuária falecida residindo no local.


A sentença


A empresa que locou a área demoliu a casa e fez um estacionamento pagou a indenização e prestações mensais a Andréa - de forma que ela pudesse locar um apartamento, segundo foi acertado para sua saída do local. Nesse acordo triangular, assinado pela Igreja - e ao contrário do que foi declarado no processo, feito apenas após a publicação da matéria - o antigo locador permaneceu pagando as parcelas para Andréa mesmo após a sua saída do local, o que enunciava acordo anterior.


Esse acordo condicionava à retirada a ação de usucapião que Andréa sustentava, pois residia na casa desde pequena. Apesar do evidente o interesse da Igreja, a herdeira, nesta retirada do processo de usucapião, na sentença a juíza não entendeu assim. para ela, a igreja não influiu: “nenhum dos querelantes concorreu para tal desfecho”, escreveu.


E qual seria o interesse do locatário nessa atitude, se ele pagaria aluguel fosse qual fosse o proprietário? Seria este mesmo um fato jurídico irrelevante, como escreveu a juíza na sentença? Existiram outras diversas contradições legais na sentença. A meritíssima juíza local aceitou também a inclusão de palavras ao talante do acusador na peça inicial, agregadas às escritas pelo réu como sendo apostas por ele – inclusive repetindo o texto (modificado) na sentença, com palavras que não existem no texto original.


No ímpeto da urgente solução do problema, que ameaçava a vida de Andréa, utilizei “terminologia expressiva”, tornada “afrontosa”, como diz a sentença, pelas modificações inseridas. Mas denota que a ação teve objetivo social, o que descaracteriza a difamação, reza a lei de imprensa.


Na acusação relativa ao fato de que o jornalista acusa a Igreja por ter cercado a área atrás da catedral por 13 anos, privando-a do uso público só para guardar carro de padre – a antiga praça D. Idílio José Soares, atrás do fórum -, a juíza atribui à demora na construção do equipamento social e coletivo pela “falta de recursos.” Sem atentar para os balancetes da fundação D. David, responsável pelas obras sociais da igreja, que continham e contem verbas de sobra, levantou o Dr. Aldo dos Santos Pinto na ocasião.


Um povo sem praça


Ainda na análise da sentença, a propósito da área atrás da catedral, a juíza diz que a igreja “não se apossou” do bem. “Quer dizer, para ela a igreja não tomou posse, segundo qualquer dicionário. Então como se explica o muro? Diz ainda que o espaço não é público - o que de fato deixou de ser após o muro católico.


Para a Igreja, isso não significa exclusão de posse de da comunidade, desconhecendo a densa freqüência popular à antiga praça, que homenageava D. Idílio - antigo bispo de Santos, criador da mantenedora São Leopoldo e da hoje denominada Universidade Católica de Santos. “Hoje existe apenas uma placa sem área e um povo sem praça”, registrei na ocasião.


Na sentença, a juíza adjetivou por sua conta, como fez a Igreja, o termo ‘apossou’, utilizado para descrever o processo de doação pela Prefeitura e posterior muramento do espaço, considerou o termo de ‘criminoso’, atentando contra os dicionários que o consideram sinônimo de ‘tomou posse’. A juíza considerou também, equivocada e inexplicavelmente, sem que nada indicasse ou demonstrasse o fato, que o quarto ocupado pela jovem era dissociado da casa demolida pela igreja.


Na verdade, o quarto era localizado centralmente em uma única construção no terreno sob um único teto, destelhado na mesma ação para desocupar o imóvel. E concluiu a juíza que a igreja demolira apenas a “sua” parte – parte que não tinha e nem poderia, lembrei na época -, que a retirada do telhado do imóvel não interferia no cômodo ocupado, “quando caminhava para causar seu desabamento, de conseqüências imprevisíveis”, escrevi.


Ainda que mendigos tivesse ocupado o imóvel uma semana antes, não tendo sido feita a ‘turbação necessária’ no dia seguinte – o uso da força, permitida neste caso para retirar os invasores, desde que imediatamente após o ato -, o imóvel não poderia ser demolido com ocupantes dentro”, lembrei.


Frisei ainda que o episódio faz lembrar o descrito na história da Sociedade Humanitária, entidade santista e uma das mais antigas associações mutualistas do país, de atendimento aos caixeiros de loja que não tinham assistência médica ou social nos idos de 1879, da sua fundação.


Quando a Humanitária tinha um imóvel, no início do século, que restava sem demolir em uma futura praça já limpa de construções, diante da reclamação de um vereador quanto ao fato, outro argumentou que lá ficava a única e então rara biblioteca, no primeiro andar. “Então porque não demolir o térreo?”, inquiriu o edil.


Argumentou a Igreja e acatou a juíza que a igreja era locadora da parte pertencente às usufrutuárias remanescentes - embora não exista no processo nenhum contrato de locação ou recibo, portanto nenhuma comprovação da posse “legítima”. O episódio, mais do que custou em aborrecimentos e despesas, impedimentos e limitações, foi nobre no sentido que o inspirou. Orgulho-me desta reportagem. Os árabes continuam vítimas, como Andréa.



Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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O PETRÓLEO E SUA CAMINHADA

O PETRÓLEO E SUA CAMINHADA

Paulo Matos (*)


Os povos da Mesopotâmia, do Egito, da Pérsia e da Judéia já utilizavam o betume, que aparece no Brasil em 1858 - na concessão de uma licença de exploração. É usado para pavimentação de estradas, calafetação de grandes construções, aquecimento e iluminação de casas, bem como lubrificantes e até laxativo. Os registros históricos da utilização do petróleo remontam a 4000 a.C. devido a exsudações e afloramentos freqüentes no Oriente Médio.

No início da era cristã, os árabes davam ao petróleo fins bélicos e de iluminação. O petróleo de Baku, no Azerbaijão, já era produzido em escala comercial, para os padrões da época, quando Marco Polo viajou pelo norte da Pérsia, em 1271. Os chineses já perfuravam poços, usando hastes de bambu, no mínimo em 347 BCE.


Em 1850, James Young, na Escócia, descobriu que o petróleo podia ser extraído do carvão e xisto betuminoso e criou processos de refinação. O primeiro poço moderno foi perfurado em Bibiheybət (Bibi-Heybat), próximo a Baku, no Azerbaijão, no ano de 1846. A moderna indústria petrolífera data de meados do século XIX. O primeiro poço comercial da Romênia foi perfurado em 1857. O primeiro poço nas Américas foi perfurado no Canadá, em 1858. O Azerbaijão foi o maior produtor de petróleo no século XIX e no final do século XIX sua produção era de mais da metade da produção mundial.


Em agosto de 1859 o norte-americano Edwin Laurentine Drake, perfurou o primeiro poço nos Estados Unidos para a procura do petróleo (a uma profundidade de 21 metros), no estado da Pensilvânia. O poço revelou-se produtor e a data passou a ser considerada pelos norte-americanos, a do nascimento da moderna indústria petrolífera. A produção de óleo cru nos Estados Unidos, de dois mil barris em 1859, aumentou para aproximadamente três milhões em 1863 e para dez milhões de barris em 1874.

Após a Segunda Guerra Mundial, o movimento pela descolonização foi seguido pelo direito das nações disporem livremente dos próprios recursos naturais. Nesse contexto, os países do Golfo Pérsico passaram a manifestar o desejo de libertar-se das companhias petrolíferas ocidentais.


Assim, em 1948, com o apoio dos Estados Unidos enquanto superpotência, obtiveram o fim do "acordo da Linha Vermelha". Empresas recém-chegadas, como a estadunidense Getty Oil Company, ofereceram melhores condições à Arábia Saudita, obrigando as companhias petrolíferas, determinadas a manter as suas posições, a conceder a este país, em 1950, uma fatia dos lucros da exploração petrolífera na base de 50/50. Essa concessão foi estendida ao Bahrein e, posteriormente, ao Kuwait e ao Iraque.


Como as multinacionais anglo-americanas (as "sete irmãs"), conservassem o controle dos preços e dos volumes de produção, 1950 foi também o ano da primeira tentativa de contestação. No Irã, o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh nacionalizou as jazidas do país. Os britânicos, prejudicados, organizaram um bloco militar em favor das exportações. Durante quatro anos os iranianos resistiram até que, em 1954, os estadunidenses eliminaram Mossadegh, assumiram o controle do petróleo iraniano e, de passagem, afastaram os ingleses.


Em 1960, a Arábia Saudita, o Kuwait, o Irã, o Iraque e a Venezuela criaram a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) permitindo que, pela primeira vez na História, os países produtores de petróleo se unissem contra as "sete irmãs".


Ainda demoraria uma década, entretanto, para que a correlação de forças entre países consumidores e países produtores fosse alterada. Isso aconteceu quando, devido a um acidente que danificou o oleoduto entre a Arábia Saudita e o mar Mediterrâneo, levou a uma diminuição da oferta de 5 mil barris/dia no mercado. Como consequência, os preços do petróleo subiram, e a OPEP deu-se conta de seu poder.


As nacionalizações voltaram à ordem do dia nos países árabes: em 1972, o Iraque recuperou o controle da sua indústria petrolífera, nacionalizando-a em 1975. Sem desejar ser reduzidas a meros compradores de petróleo, as companhias ocidentais introduziram uma nova figura jurídica para manter o seu "status": os "contratos de partilha da produção". Por eles, passaram a se associar à produção local do petróleo e a comercializar por sua própria conta uma parte da produção da jazida.


O petróleo está associado a grandes estruturas que comunicam a crosta e o manto da terra, sobretudo nos limites entre placas tectônicas. O petróleo e gás natural são encontrados tanto em terra quanto no mar, principalmente nas bacias sedimentares (onde se encontram meios mais porosos - reservatórios), mas também em rochas do embasamento cristalino.


Os hidrocarbonetos, portanto, ocupam espaços porosos nas rochas, sejam eles entre grãos ou fraturas. São efetuados estudos das potencialidades das estruturas acumuladoras (armadilhas ou trapas), principalmente através de sísmica que é o principal método geofísico para a pesquisa dos hidrocarbonetos.



(*) PAULO MATOS
Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
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A NECESSÁRIA PARTILHA DO PETRÓLEO - I e II

A NECESSÁRIA PARTILHA DO PETRÓLEO - I
Paulo Matos (*)


São para lá de otimistas os dados informados pela AGU, a Advocacia Geral da União, sobre o petróleo visto à distância por Don Bosco. Eles alertam para a formação de um grande fundo social capaz de regenerar o país na correção de suas carências, em uma espécie de segunda chance divina, que perdemos no passado na submissão a interesses estrangeiros – que se manifestam agora abertamente através de brasileiros que querem outro modelo de exploração que não o da partilha, que já partilha o que é nosso.


Como a proposta do contrato de partilha na exploração do petróleo de pré sal – ganha quem der a maior parte do óleo para a União, para o Estado se tornar proprietário do óleo -, em nome do povo brasileiro. O que se sugere óbvio, mas não para todos, que o desejam suas rendas repartido com outros países. Parceria para instalar uma indústria de refino no Brasil e agregar valor, ao invés de doá-lo em forma de óleo cru. Mas o que parece lógico e lúcido encontra forte oposição. Por que haveria gente disposta a entregar para multinacionais nossas riquezas?


Em plástico, um barril de petróleo de US$ 60 pegaria US$ 1 mil na mesma quantidade de produto. Alguns países não agregam valor, nunca tiveram indústria de refino – a Venezuela e alguns países árabes – que vendem o óleo bruto. Onde não se agrega valor, a apropriação da riqueza é feita em outros lugares, informa. Como isso seria garantido?


Detalhando as formas existentes, são três projetos de lei: para as áreas ainda não licitadas se cria a forma de contrato de partilha, mantendo os contratos anteriores e respeitando as áreas já concedidas. O que for ganho pela União na exploração de petróleo nas áreas do pré-sal vai para um fundo, destinado à área social, à educação, saúde, combate à pobreza. O terceiro projeto cria o que pode vir a ser a Petrosal, a nova estatal do petróleo.


E o embate no Congresso, que quando do processo que criou a Petrobras e o monopólio em 1954 teve a conquista da unanimidade na própria Câmara federal. A AGU explica que do ponto de vista jurídico a Constituição deixa claro que o petróleo é da União. A maneira de explorar esse petróleo pode ser diretamente ou mediante licitação. Então a lei estará no desenho. Está se construindo uma nova lei, que é a partilha, na qual a parte da União é mais ou menos de 60%. O modelo internacional é a Noruega, porque lá tem uma empresa estatal que gerencia, que fiscaliza o sistema de partilha. Mas não é uma cópia. Temos características próprias, como a nossa realidade e nossas opções.


O sistema de partilha vai mudar as relações do Estado na área de investimentos. Quando foi feita a legislação de concessão, em 1997, o Brasil tinha uma situação em que o Estado estava sem dinheiro, investidor internacional não vinha para o Brasil e a Petrobrás não tinha capacidade de investimento. E o petróleo era de qualidade ruim, o chamado petróleo pesado. Hoje o Brasil tem capacidade de investimento pelo seu potencial e pela situação econômica.


Hoje, a Petrobras está com alta capacidade de investimento. E o petróleo que o Brasil tomou posse na área do pré-sal é de alta qualidade, com grande retorno financeiro. Segundo dados de técnicos da área de petróleo, as multinacionais privadas hoje têm acesso só a 10% de todas as reservas mundiais. A maioria está na mão dos Estados.


Essa é uma área que está no ocidente, em um país civilizado, que tem instituições democráticas, imprensa livre. A grande preocupação é que não podemos entregar esse patrimônio em um modelo de concessão feito numa época em que o Brasil atraia a vinda de capital internacional. Não vai ter concessão na área do pré-sal, a não ser aquelas que já foram feitas, como Tupi, em que alguma delas são áreas de concessão.



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A NECESSÁRIA PARTILHA DO PETRÓLEO - II
Paulo Matos (*)


As novas áreas são a maioria no pré sal. Avalia-se que das áreas que já foram concedidas correspondem a 25% e 75% vai ser explorado nesse novo modelo das parcerias, gerando recursos para mudança dos paradigmas sociais na saúde e na educação, na moradia. Desde outubro ou novembro de 2007 a União suspendeu os leilões em área de pré-sal exatamente para começar a preparar esse novo modelo. A previsão sobre o impacto na economia é o medo do fenômeno holandês, causando a entrada de dólares muito alta na economia.


A moeda ficou numa situação cambial supervalorizada, afetando taxa de câmbio, as exportações e o comércio exterior. E a outra preocupação é que aconteceu com países árabes e a Venezuela, onde a nação inteira parou de produzir outras coisas para viver da renda do óleo. Por isso a idéia de criar o fundo, que poderá inclusive aplicar esses valores no exterior e ampliar a indústria petroquímica no Brasil.


A preocupação jurídica: o objetivo é o máximo de ganho para o Estado, o máximo de potencial para o país, para agregar valores, mas sem fechar janelas. É ter capacidade de gerir as oportunidades sem impedir que a economia sobreviva disso. O fundo vai ser voltado para a área social, para a saúde, que são aquelas maiores carências do Brasil, exatamente para que a indústria brasileira e o mercado brasileiro não fiquem viciados por esse dinheiro.


O tamanho do fundo com a partilha do que vier da exploração do pré-sal, se pegar aquilo que já tem hoje, descobertos, dá para se falar em US$ 5 trilhões a 6 trilhões. Quando se fala que o pré-sal pode ser 10 ou 100 vezes maior do que isso que foi descoberto, vai chegar aos números que estão falando (entre US$ 300 trilhões a US$ 400 trilhões). É por isso que não podemos errar neste momento. Para a AGU, é melhor fazer um critério mais favorável à União agora porque amanhã, se precisar, tem por onde ceder. Fenômenos mágicos nos aguardam se soubermos impedir o nefasto destino dos “internacionalistas”.


O primeiro homem que viu - da Itália - as tremendas reservas de petróleo do Mato Grosso, que na época se escrevia com dois “t”, escreve um artigo na página dois do número inicial do “Jornal do Petróleo” de 1937, 72 anos – cujos originais possuímos -, foi o fundador da Congregação Salesiana, D. Bosco, hoje São João Bosco, em 1883. Foi quando, 56 anos antes da descoberta, ele teve um sonho entre 29 e 30 de agosto, em que viu o petróleo no pantanal mato-grossense. E isso está escrito na página 390 do volume XVI de suas memórias biográficas, editadas em 1935 pela Societá Editrice Internazionale. É a primeira notícia do petróleo.


Repetem-se hoje os argumentos do final da década de 40 e meados dos 50, da luta popular “O petróleo é nosso” de fatos marcantes em Santos, que veio reagir aos adversários do petróleo nacional. Atuaram intensamente, mas tendo revertido a própria opinião de Vargas, que mantinha no Conselho Nacional de Petróleo Fleury da Rocha para impedir a exploração. Uma postura nacionalista que o leva ao suicídio em agosto de 1954, ano de fundação da Petrobras que escapou de ser “Petrobrax” com FHC – que acabou com o monopólio em 1997.


Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
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PETRÓLEO E LAVAGEM CEREBRAL

PETRÓLEO E LAVAGEM CEREBRAL

- Petróleo, “por um Brasil rico e culto”, diz o “Jornal do Petróleo” de 1937. Que a democracia popular que elegemos para o Governo nos dê essa garantia.

Paulo Matos (*)


Nos escreve Dinarco o boletim da AEPET NOTICIAS, enviado através do histórico petroleiro e jornalista Vasco Nunes, sobre os processos e tergiversações pelos quais os gringos se apossam de nosso petróleo. Que não queriam nos deixar descobrir nos tempos de Monteiro Lobato, pelo que mataram e prenderam, em tramas inacreditáveis de desaparecimentos e envenenamentos.


A estratégia não mudou: quem já leu o livro “O escândalo do petróleo e do ferro”, uma das armas de Lobato nessa batalha, escrito em 1936 na primeira edição (depoimentos apresentados à Comissão do Petróleo) observa isso. Era o tempo da Lei Fleury, outro criminoso, na filosofia dos trustes de “não tirar petróleo, nem deixar que o tirem”, visando resguarda-lo em tempos de vacas gordas. Hoje, eles invadem, por armas ou por subornos.

No livro de Lobato, consta que o verdadeiro descobridor do petróleo pelo qual ele lutou foi Oscar Cordeiro, que em 22/1/39 viu brotar da terra o ouro negro que construiria o país. Apesar da quase homofonia, não o confundamos com Omar Carneiro, este que citado no texto de hoje é o presidente da Shell, que montou um lobby para quebrar o monopólio conquistado pelo sangue e suor de brasileiros.


Sangue e suor de gente como Aldo Ripasarti e Deoclécio Santana, entre tantos, que morreu com uma bala dos policiais em Santos em 1947, gritando que o Brasil tinha petróleo, o que era proibido...Tantas foram as histórias me repassadas por Ripasarti, antes de partir, este que ficou presidente da Frente de Defesa do Petróleo e da Economia Nacional fundada nesse ano - na solenidade do aniversário da tomada de Monte Castelo - aqui em Santos...


Os Estados Unidos descobriram o petróleo 80 anos antes de nós, em 1859. Em 1927 tinham quase um milhão de poços. Em 15 anos, abrimos 65 poços, eles 380 mil. Foram 70 por dia, nós 4 por ano! São dados do livro. “Tivessem um serviço geológico como o nosso... México, Venezuela, Colômbia, Chile, Peru, todos descobrem e exploram o petróleo. Mas o Brasil... Não tem! Mas Lobato, como Dumont, insistiu, contra tudo e contra todos os agentes do imperialismo.


Agentes como o que a Shell tem agora, um Goebels, digo, um Goebel (a homofonia, desta feita, se aplica), pregador da mesma sistemática imperialista para a quebra do monopólio conquistado em 1954, afinal revogado criminosamente em 1997. A “liberdade de imprensa”nas mãos do capital perverte a verdade como a palavra democracia, a que coloca aspas, a liberdade de votar mas não de mudar o regime de poucos sobre muitos...


Mentem, mentem, mentem fazendo referências “equivocadas”para desqualificar pessoas dignas e comprometidas com o país, para fazer contratos vantajoso$ para os abutres, rejeitando até o ex-deputado Luiz Alfredo Salomão, indicado pelo Lula, para a fiscalização da ANP.

Assim como o Visconde de Sabugosa foi o Anjo Gabriel do petróleo que anunciou em 37 e que chegou em 39, em Lobato – mera não, brilhante coincidência! -, os carrascos do povo voltariam 60 anos após.


Tenho comigo – coisa rara – edições do “Jornal do Petróleo”, de 1937, que tinha como diretor responsável José Augusto Adail de Oliveira, enviado a Santos para um senhor chamado Guilherme Herzog. Marcas dos primeiros tempos dessa luta de ouro pelo ouro negro. “Nosso programa: por um Brasil rico e culto”, alinha-se como manchete na sua primeira página, com as fotos de Hilário Freire e Monteiro Lobato - o que se torna símbolo a partir do número 2.


1938, abril: o Governo decreta a nacionalização dos poços de petróleo. É a grande senha do progresso nacional, por mais escolas e hospitais, por apoio aos camponeses. A luta prosseguiria, seria vitoriosa, construiria - mas, sem uma transformação social de base, voltaria às mãos dos que queriam impedir que o Brasil soubesse que tem petróleo e o explorasse. Que um novo amanhã preserve nossos direitos a uma pátria de petróleo, pão, terra e liberdade. Que o governo da democracia popular traga esta garantia.


(*) PAULO MATOS
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CENTRO DOS ESTUDANTES DE SANTOS - em 2010, 78 anos

CENTRO DOS ESTUDANTES DE SANTOS
EM 2010, 78 ANOS

PAULO MATOS (*)


Fundado em oito de janeiro de 1932, após percorrer mais de dois terços do século passado como exemplo de organização social e ação coletiva, a história dos 78 anos de participação social do Centro dos Estudantes de Santos – que completa neste janeiro de 2010, - tem muito da dedicação dos transformadores sociais. Como os militantes da JC – a Juventude Comunista do então clandestino Partido Comunista Brasileiro.


Foram estas forças as responsáveis pelos momentos locais de 1968, que inseriram Santos no mundo neste ano mágico, em busca de melhores dias para a sociedade. Apesar da devastação da ditadura militar contra a organização estudantil, após 1964, ela sobreviveu, física e politicamente, se reerguendo durante este ano, terminado com o Ato Institucional nº 5 em 13 de dezembro.


Em 1968, os meninos ficaram adultos e fizeram a opção pelo ataque às estruturas vigentes. Vestiam as roupas dos trabalhadores e as idéias dos transformadores, protestando, em todo o planeta. Queriam mudar, intervir na realidade cruel e adversa construída pelos poderosos.


Realizaram, então, mundialmente, as maiores mobilizações estudantis de todos os tempos, reivindicando liberdades, em um fenômeno que Marcuse explicou em Eros. Foi esse espírito que reuniu sempre os estudantes do CES que, 34 anos após 1968, faz 70 anos.


Fui seu personagem, hoje sua memória. Um resgate possível, em parte, pela abertura democrática dos arquivos do Estado. Está lá o Relatório Reservado/ 98, do CES, entre outras fontes e contribuições dos que restaram vivos e que fizeram possível este registro.


Edmar Cid Ferreira, personalidade cultural do ano e página da revista Isto é, presidente do Banco Santos e do Museu de Imagem e Som de São Paulo, já foi diretor do CES – o Centro dos Estudantes de Santos, nos anos 60. Também o hoje empresário Omar Laino, ambos militantes do CES. E o ex-deputado Gastone Righi, entre outros notáveis, como o hoje governador Mário Covas, Esmeraldo Tarquínio, Oswaldo Justo, Edmur Mesquita e Vicente Cascione. A entidade foi um celeiro de craques, como se diz na área esportiva.


O CES integrou e produziu muita gente boa. Nasceu em oito de janeiro de 1932, no salão do Ginásio Luso Brasileiro: os estudantes se organizavam na primeira entidade geral do país, antes mesmo da UNE. No dia doze, era eleita a diretoria provisória, oficializada no dia vinte. Logo após, os estudantes do CES formam a Falange Acadêmica, que iria engrossar os seis mil voluntários santistas que iriam para a frente de batalha no MMDC – a sigla formada pelas iniciais de Marcos, Miragaia, Drauzio e Camargo, os estudantes assassinados a 23 de maio em São Paulo e que deram nome à Revolução Constitucionalista de 1932.


Presidido por Daniel Gomes e Marcelo Árias em 2001, desde onze de setembro de 2000, ligados ao Partido Comunista do Brasil e estudantes de Direito, o CES hoje integra universitários e secundaristas. Na meta da retomada da mobilização dos estudantes pela redução das mensalidades, construindo e reconstruindo entidades - como afirma o dirigente estudantil. Antes dele ocupou o cargo Márcio Souza – presidente da junta de reconstrução - e Marcelo Lima, que por quase uma década controlou o CES.


A TRAJETÓRIA


O primeiro presidente da entidade, respeitada e atuante nos destinos da cidade, foi Edu Brancato – com a diretoria integrada ainda por Oswaldo Paulino, Eugênio Caetano dos Reis, Benigno Maia, Constantino de Menezes e outros. Em todas as lutas sociais, desde 1934, na gestão de José Leandro de Barros Pimentel – a greve pelos passes escolares nos bondes -, passando pelo O petróleo é nosso em 1946/1947, o CES esteve presente.


Foi o CES que em 1950, na gestão do presidente Inel Alves de Camargo, depois diretor da fazenda municipal, mobilizou a comunidade pela criação do Instituto Municipal do Comércio. Que se tornaria o Colégio José Bonifácio e que criaria a primeira faculdade na cidade, depois fechada. Outra luta que o CES venceu foi em relação à meia - entrada nos cinemas e a meia – passagem dos ônibus, conquistas então inéditas no país. A batalha contra o aumento das taxas escolares foi outra tarefa dos militantes do CES histórico, tornando responsável a juventude.


SEDES E PRESIDENTES


A primeira sede do CES foi a em cima da Galeria Brancato de Brinquedos, sendo a seguir alugada uma sala na rua do Comércio 15, depois outra na Brás Cubas. No sorteio da Associação Predial e através de uma campanha do rádio e de toda a imprensa, foi adquirida a sede da rua Sete de setembro 71. Em 1937, o presidente foi José Ubeira Franco e, em 1939, Mário Romiti, que inaugurou uma quadra de vôlei e basquete. Em 1940, assume Roberto Sasdelli - reeleito duas vezes -, vindo depois Florival Pinto, Roberto Blanco, Mário Cardoso (reeleito) e Horácio Perdiz – que liquidou as dividas da compra da sede.


Em 1947, na gestão de Valter Resende de Melo, ocorrem manifestações contra os aumentos escolares e problemas com a polícia. Vem depois os presidentes José Camargo da Cunha, Ynel Alves de Camargo, Silvio Antunes de Carvalho e Nelson Malavasi.

A 28 de março de 1955, na gestão de Oswaldo Leituga, é comprada a nova sede, na avenida Ana Costa 308. Custou Cr$ 560 mil - em que está até hoje, inaugurada em 8 de janeiro de 1957, no jubileu de ouro da entidade.


O estudante Milton Fuschini dirige a entidade e de 1960 a 1963, a presidência é novamente ocupada por Leituga. Em 1964, o presidente é José Alves Filho, membro da Juventude Comunista do PCB – em clima de altas conturbações políticas e do congresso estudantil, operário e camponês, em pleno 31 de março – cadeia pra muita gente. Gerson Martins, hoje advogado, era o secretário-geral.


ATIVIDADES


A sede da Ana Costa, a segunda, havia sido adquirida do pai de uma militante da casa, com os recursos auferidos com os grandes bailes que promovia na Sociedade Humanitária, em que só se ia de terno. Nos velhos tempos, anos 50, atuou como diretor cultural Gastone Righi – o depois advogado que, em 1964, libertaria os 1.200 presos do Raul Soares –o navio-prisão da ditadura que oprimiu esta cidade, um dos primeiros vinte cassados no país quando deputado federal.


A entidade promovia blocos carnavalescos, patuscados, olimpíadas, travessia do canal estudantil, cursos de alfabetização, jornalismo e biblioteconomia, concurso da rainha dos estudantes, teatro de vanguarda e montagem de barraca de praia – dos já citados maiores bailes da cidade, na Sociedade Humanitária.


O CES mantinha convênios com os clubes esportivos para livre freqüência dos estudantes – tarefas aglutinadoras reforçadas nas gestões dos militantes da Juventude Comunista. Na entidade militou Luiz Rodrigues Corvo, que aos 18 anos era secretário do comitê central do PCB, eleito vereador em Santos e o primeiro a ser cassado pela própria Câmara, amedrontada pelos gorilas que fariam a tragédia de 1964.


Em 1956, o CES promove um auspicioso concurso literário, o Penas de Ouro, então o maior do país. Em 1963, às vésperas do golpe militar, Thomezão e Valtinho, em mesas de xadrez nos trilhos do bonde na Avenida Ana Costa, impediam a circulação dos coletivos - pela redução das tarifas. Em 1968, Thomézinho, o irmão menor do Thomezão, ambos no céu, seria preso comigo no CES – fazendo história.


O DAY AFTER

Em 1964, a intervenção da ditadura sobre a entidade nomeou, para dirigi-la, o estudante Takeo Siosaki, sargento do Exército e presidente do grêmio do Canadá - em 20/3/65. Foi ele quem empossou Gilberto Minas e Miriam Pedro na direção do CES, estes que com que os membros da JC fizeram entendimentos que possibilitaram a reconstrução de 1968 - em uma assembléia dos grêmios estudantis da Baixada Santista, em 17 de agosto. Uma tarefa da juventude do PCB desde o início, concluída com a invasão do prédio pelos estudantes, reocupando seu espaço.


Em julho, no dia cinco, Santos se insere no mundial 1968, realizando uma grande passeata, articulada no CES junto com a UNE, a AUBS e a UEE – contra a ditadura e a violência, que havia assassinado Edson Luiz. A AUBS, Associação dos Universitários da Baixada Santista, presidida pelo depois jornalista João Moreira Sampaio Neto, ganhava uma sala no CES.


A TOMADA DA SEDE

No dia doze de novembro de 1968, os agentes do DOPS – Delegacia de Ordem Política e Social -, invadem o CES e prendem este hoje jornalista e o colega Nilton Thomé. O fato ocorreu durante a visita do então governador - interventor Abreu Sodré à Sociedade Italiana, em frente, descobrindo os cartazes produzidos para a passeata do dia quatro, que havíamos escondido no quintal. A manifestação foi impedida pela maciça repressão, com a praça Mauá, onde se realizaria o ato, ocupado militarmente.


O processo em função do fato (alegaram um inverossímil atentado ao governador), da Sétima Vara da Justiça Federal de SP, com sentença de 16/4/75 - assinada pelo juiz Dr. João Gomes Martins Filho -, toma dos estudantes sua sede, em termos antijurídicos, mas legais, nestes tempos de arbítrio. A representação estudantil havia sido reformulada pelo Governo Federal, inconstitucionalmente, pelo Decreto Lei 228, de 28/2/1967, proibindo sua existência.



O CURTO VERÃO DA DEMOCRACIA


O CES atuou intensamente neste curto período de abertura política de 1968, encerrado pelo Ato cinco. Promovendo passeatas, vigílias, panfletagens e dezenas de assembléias densamente freqüentadas, fazendo adultos os meninos de então. Foi o tempo da prisão de Max e Clóvis, a qual reagimos em diversas manifestações. O CES era dirigido pela junta integrada por Edmir Elias Albino (Carmo), Jaime Rodrigues Estrella Júnior (o Cebola, do José Bonifácio) e Antonio Carlos Paim (Canadá), eleita na assembléia que reconstruiu a entidade.


Antes dessa que chamávamos troika, concretizando o trabalho de Aníbal Ortega (do Martim Afonso) e Edvaldo Alves (do Luiza Macuco) - militantes da JC encarregados de renascer o CES, nos planos elaborados no bonde 17 -, tomou posse a junta composta pelos estudantes Daniel Gomes Rodrigues (presidente do GEVC, o grêmio do Canadá), Aníbal Ortega, Bartolomeu Lima (Luiza Macuco) e Luiz Pinto Dias.


Mas eis que em treze de dezembro chega o arbitrário Ato Institucional número cinco – quinhentas cassações e dez mil presos em todo o país. O CES é fechado, os grêmios proibidos, substituídos por Centros Cívicos – tudo dentro dos planos de controle dos estudantes pela ditadura. Em dezembro, o telex manda desocupar a sede: já estávamos longe. Iríamos operar a clandestina FME – Frente de Mobilização Estudantil, com pichações em toda a cidade denunciando a ditadura, combatida pelo CCC – o Comando de Caça aos Comunistas.


CEBOLA

Um dos membros da junta governativa do CES em 1968, Jaime Estrella Júnior - o Cebola - hoje denomina a Estação Rodoviária, uma homenagem do prefeito David Capistrano. Em 1975, resistiu à tortura imposta pelos militares no DOI-CODI, na época do assassinato na tortura do jornalista Vladimir Herzog, onde foi obrigado a pisar em brasa por tentar reorganizar o Partido Comunista Brasileiro. Era da Junta Governativa com Antonio Carlos Paim e Edmir Elias Albino.

Nessa época de barbárie, o patrimônio da entidade passa para a União, que o cede – apesar de não ser seu - para o MEC. Que o passa para a Universidade de São Carlos, por sua vez para o Projeto Rondon, que sai do prédio em 1981.

A propriedade retorna ao MEC que, em 1984, então dirigido por Marco Antonio Labella, ameaça vendê-lo para custear uma creche para a Universidade. Só em 1989, através de projeto do deputado federal do PT, Gumercindo Milhomem, a sede da Ana Costa voltaria às mãos dos estudantes – retomada de fato em 1982, a 22 de outubro.


A legalização da entidade caminhou com o advogado Sérgio Sérvulo da Cunha. A biblioteca do CES, que foi uma das maiores do país, desapareceu após as ocupações governamentais, junto com tudo o que existia lá, destruído como a sede.


PODE ME PRENDER, PODE ME BATER, QUE EU NÃO MUDO DE OPINIÃO...: EM 1980, A RESSURREIÇÃO!


Em 1980, o auge: ocorre o Congresso de Reconstrução do CES, que permaneceu inativo desde 1968, na Faculdade de Arquitetura – palco democrático de inúmeras manifestações nestes tempos. Foi a eleição de maior participação da juventude na entidade, que amplia sua representatividade para os universitários, além dos secundaristas – que já atuavam juntos em 1968.


Desse massivo encontro de centenas de estudantes, saem três chapas para a disputa: Todo Mundo no Centro, liderada por Eduardo Sanovicz (Arquitetura) e articulada pelos integrantes do PCB, então clandestino, e Mobilização Estudantil - que tinha, como candidato a presidente, o estudante Dogival Vieira dos Santos (Jornalismo).


Era a chapa de que eu fazia parte, reunindo o que seria a base estudantil do PT que estava sendo fundado. E os estudantes reunidos no MR-8, liderados por Marco Antonio Campanella (Turismo), na chapa Chega Mais, nome de uma novela global de então. Como pano de fundo, divergências quanto aos métodos de combate ao aumento das mensalidades escolares.


A eleição de 11 e 12 de junho de 1980 foi a maior que o CES teve em toda sua existência, apesar da repressão em algumas escolas impedindo o pleito, algumas promovendo até excursões para impedi-lo, como o Colégio Santista. Com cerca de 17 mil votos no total, quase um terço dos 60 mil estudantes da época, em 59 urnas nas faculdades e em 25 colégios particulares, em Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande. Venceu a Todo Mundo com 6.845 votos, 1.231 de diferença, seguido da Mobilização com 5.674 e da Chega Mais com 4.168. Foi um dos grandes momentos da entidade, que fez história.


As diretorias são renovadas até 1987, um vácuo até 1989, prosseguindo após até este fim de século. Mas na fachada da sede já não há, nas colunas, as cores da bandeira paulista - e da liberdade -, o preto e o vermelho, a alma do CES.

PETRÓLEO, CAMINHO PARA O FUTURO NA ENERGIA

PETRÓLEO, CAMINHO PARA O FUTURO NA ENERGIA
- o óleo é da União

Paulo Matos (*)


A exploração do petróleo e do gás da bacia de Santos deve durar vinte anos, tempo aquém do que se projeta o ”ouro negro” descoberto no século XIX na América do Norte e no século XX por aqui, respectivamente 1859 e 1939. Os Estados Unidos descobriram o petróleo 80 anos antes de nós, em 1859. Em 1927 tinham quase um milhão de poços. Em 15 anos, abrimos 65 poços, eles 380 mil.


Foram 70 poços abertos por dia nos EU, nós quatro por ano. São dados do livro “O escândalo do petróleo e do ferro”, de Monteiro Lobato. “Tivessem um serviço geológico como o nosso... México, Venezuela, Colômbia, Chile, Peru, todos descobrem e exploram o petróleo. Mas o Brasil... Não tem!“. Ultrapassamos a resistência antinacional. Mas ela volta como um amor saudoso, só que eivado de atraso.


Configurado nosso atraso em relação aos Estados Unidos, se pode dizer um atraso impulsionado por interesses daquele país que encontraram emissários dispostos a fazer o papel de retardar nosso processo, reversamente temos agora um governo popular, que vai administrar da melhor maneira possível a necessidade de 600 milhões de dólares para esta exploração finita, capacitando para novos processos energéticos alternativos e não impactantes. E que se esforça por rejeitar os ideólogos do atraso.


Por uma coincidência histórica, esse momento ocorre após um quarto de século de Ditadura Militar pró-americana por eles instalada, com breve intervalo nacionalista de Geisel – com gente disposta a explorar a riqueza acumulada há 130 milhões de anos na separação dos continentes do Brasil e da África.


Com dificuldades técnicas superáveis pela melhor tecnologia mundial do setor de exploração do petróleo no mar, onde está 80% de todo nosso petróleo, contrariando os ideólogos da desnacionalização foi enviada ao Congresso o novo Marco Regulatório, exatamente o que fez Getulio Vargas quando criou a Petrobras – para a que obteve unanimidade apesar da Standard Oil e do Ibrahym Sued – que expressava a voz do atraso diariamente em sua coluna social. A Petrobras é a única operadora, pelo novo Marco Regulatório, sócia obrigatória de tudo – e não poderia ser de outra maneira.


O modelo de produção proposto é o da partilha, revertendo o nefasto passado recente quando o monopólio foi quebrado há 12 anos. Método usado pelos países que tem grandes reservas e que abrange 77% do petróleo existente, 10% mistos e apenas 3% em mãos privadas, o que desejam abracemos como suicidas.


Campos, a cidade que mais recebe royalties no Brasil do petróleo está oferecendo faculdades gratuitas a sua gente, tem a maior renda per capita do país com seis mil reais por habitante. O crescimento populacional resultante da exploração e de seus lucros chegou a 33% em Rio das Ostras no Rio de Janeiro em seis anos.


A praia de Rio das Ostras tem calçadas de porcelanato. Macaé cresceu 600% em 10 anos e está com 180 mil habitantes. Questões sociais e urbanas se apresentam. A discussão sobre as verbas dos estados movimenta a cena política e Lula quer a distribuição para todos, mesmo os que não produzem.


Lá se vão os tempos em que o presidente americano Truman da Guerra Fria catitava Vargas para estender os domínios da Standard Oil que Lobato combatia. Mas torres se projetaram em todo o país na luta “O petróleo é nosso” e nosso presidente encampou a idéia da Petrobras e do monopólio engrandecedor.


Construía Getulio Vargas um processo que tornou possível agora, para 190 milhões de brasileiros, um novo pacto social estendendo os benefícios negados por tanto tempo na saúde e na educação, eliminando a pobreza e contemplando o melhor eco-sistema do mundo. É pouco?



(*) PAULO MATOS
Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
Email: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
 F.13-38771292 – 97014788

O HERÓI RIPASARTI

O HERÓI RIPASARTI

Paulo Matos (*)


Santos registra com glória os 88 anos do nascimento de Aldo Ripasarti neste 21 de dezembro. Aldo foi presidente do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, alçado ao cargo depois de sucessivas debandadas dos que ocupavam cargos de direção acima dele, em face da intensa repressão, dispondo-se a enfrentar as forças que queriam impor o silêncio dos brasileiros na questão.


Loquaz e perseverante na pregação revolucionária e na necessidade de transformação econômica da sociedade, fala rápida e incisiva, o filho de Adelino e Maria Aldo Ripasarti foi aprendiz de barbeiro desde os nove anos lá pelas bandas do bairro do Campo Grande. Onde, dizia, ter conhecido meu avô paterno e ter feito sua última barba, morador que era da Rua Duque de Caxias, autodidata, ingressou na Agência Marítima Martinelli aos 17 anos, só saindo para as lutas da Itália, de onde voltou engajado nas lutas sociais.

Nascido a 12 de dezembro de 1921, paulistano de berço, Aldo ia fazer 14 anos quando seu pai Adelino morreu na Itália. Sua mãe Maria era espanhola e foi ao consulado italiano local receber o que tinha direito.


“Diante de um funcionário ríspido e prepotente que tinha atrás de si um retrato do `Dulce´ fascista Benito Mussolini, explodi de ódio sobre aquele que maltratava minha mãe e que naquele momento era a representação do fascismo”, contou ele. Dali em diante esteve na luta contra todas as formas de opressão.


Casado com dona Benedita Santos Ripasarti desde 20 de dezembro de 1960, sua vida foi uma seqüência de lutas contra a opressão, o que lhe custou dezenas de prisões, torturas que narrou, demissões e opressões diversas. Liderança popular, alto, esguio, falante, de olhos azuis, esteve no porto desde 22 de janeiro de 1954, nas vagas de conferente garantidas pelo Governo aos ex-combatentes da FEB na Itália, para onde foi e ganhou uma medalha de heroísmo na luta antifascista, que recebeu em 30 de julho de 1954.


Preso no Carandiru de 1947 a 1950, lhe foi negada a liberdade condicional mesmo sendo um ex-combatente valoroso. A série de apelos feitos em sua defesa, mesmo das mais expressivas personalidades e entidades, não funcionavam. Eram, ao contrário, demonstrações para os verdugos da sua importância social, implicando em denegar sua libertação.

Ele nos “contratou” para escrever sua longa história de participação no movimento social e de defesa do petróleo. Isso ocorreu há cerca de 20 anos, quando gravamos e colhemos dados sobre ele em seu apartamento que ele utilizava para tal, na galeria AD Moreira, na Avenida Floriano Peixoto. O trabalho, interrompido, resultou na coleta de depoimentos que escrevemos e aqui apresentamos. Integrante da direção do Sindicato dos Conferentes por diversas vezes, foi ativo militante das lutas sociais.


Militante ativo das lutas dos trabalhadores do cais foi preso por 92 dias no “Raul Soares” – o navio-prisão que encarcerou e torturou centenas de cidadãos santistas na época do Golpe Militar de 1964, tendo recebido o titulo de Cidadão Santista das mãos do então vereador Fábio Mesquita em 1996, aliás, por indicação deste autor.


Aldo foi presidente do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo, alçado ao cargo depois de sucessivas debandadas dos que ocupavam cargos de direção acima dele, em face da intensa repressão, dispondo-se a enfrentar as forças que queriam impor o silêncio dos brasileiros na questão do petróleo.



(*) PAULO MATOS
Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
Email: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
F.13-38771292 – 97014788

Maurice e Paicará – Luiz Garcia Jorge

Maurice e Paicará – Luiz Garcia Jorge

O "amigo em comum" era eu



Fomos varias vezes para filmar um documentário, quem sabe um filme: Rubens Ewald Filho, Maurice Legeard e um fotografo que agora me foge o nome, que tinha um estúdio na Rua: João Pessoa. Com uma câmera filmadora. Segundo Maurice, o roteiro estava em sua cabeça. Foram poucos dias, mais eu presenciei imagens chocantes, homens, mulheres e crianças morando em uma montanha de lixo, assisti até a uma refeição que uma família estava fazendo, moscas e urubus para todos os lados, e um lagarto de estimação amarrado com uma corda, comendo ou tentando comer no prato de uma criança. Cercas de arame farpado separando não me lembro o que, mas dando um aspecto ainda mais deprimente.


Gente muito perto da montanha de lixo, comercializando um porco esquartejado, do que tinham destacado a cabeça, que me lembro eu levantei a altura da minha e pedi a Maurice filmar, enquanto eu pulava segurando ela como se fosse uma mascara. Maurice, claro não deu a mínima importância - porque ele tinha roteiro em sua cabeça. Também não ligou quando eu sugeri fazer um desfile de moda, sobe as tabuas podres que unindo algumas palafitas formavam uma passarela, que terminava em um pequeno cubículo com uma privada onde defecavam em cima de mangue, os moradores das palafitas do entorno. Não me lembro mais quanto e o que foi filmado.


Será que Rubens e o fotografo sabem do destino do filme? Lembro que muitos anos depois, quando eu ainda fazia a decoração do baile do Havaí durante uma festa, num rápido encontro com Rubens me lembrou com certo ar de ironia da historia da filmagem do Paicará.


Na ponderosa um restaurante do Espanhol Demetrio se dava as grandes noitadas, só que fatalmente no decorrer das horas já sobre a influencia de muitas cervejas regadas a conhaque a conversa ia ficando surrealista e muitas vezes agressiva a ponto de uma noite me engalfinhar com ele na porrada, mais logo esquecíamos e ficávamos de novo amigos.


Até que uma noite jantando no Almeida numa pequena mesa um na frente do outro sem mais nem menos começou a me insultar chamando me de vira lata, adjetivo que usava muito, e outras agressões verbais que realmente me ofenderam desta vez revidei com palavras que eu sabia que o machucariam e assim foi, ficamos alguns tempos ( anos ) sem nós falarmos.


Isso até que um amigo em comum me falou que ele estava doente e que deveria me reconciliar, para o que primeiro teria que convencer Maurice a me receber, reatamos nossa amizade a primeira visita que lhe fiz e ai tive a oportunidade de conhecer o Maurice que se escondia de trás de toda essa agressividade e os últimos (muitos)meses o visitei uma ou duas vezes por semana, quando me entregava filmes que tinha selecionado para eu ver , na próxima visita sofria uma sabatina.

Deixou muitas saudades.



Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
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