quarta-feira, 22 de julho de 2009

SANTOS-GUARUJÁ, A FALÁCIA DA PONTE DE OURO

SANTOS-GUARUJÁ,
A FALÁCIA DA PONTE DE OURO

Paulo Matos (*)


O anúncio da finalização dos questionamentos sobre a ponte Santos-Guarujá - um dos municípios mais pobres do país e com cruciais índices de favelização e miséria em uma centena de núcleos de moradias precárias -, revela a face dos dirigentes estatais de optar por projetos milionários destinados a poucos, seu desprezo diante da crise social.

Sem viabilidade financeira para ser bancada pela iniciativa privada, pois utilizada apenas em um terço do ano com movimentação que a justifique, a ponte receberá do governo dinheiro que falta para moradias, policlínicas, escolas, restaurantes populares, transporte, hospitais e melhorias no bem-estar das maiorias que amarguram carências básicas e cruciais, de onde decorre a crescente marginalidade.

Tem sido assim em toda nossa história de decisões dos “de cima”, obras escolhidas por interesses diversos, pelos fabricantes da tragédia social. Estes gastos são uma afronta aos interesses populares, com a entrega de verbas públicas a projetos distantes das patentes necessidades da população - e seus responsáveis vão responder por isso.

O verdadeiro debate popular e democrático não foi travado e a decisão da construção é unilateral, usada até agora como factóide pelo imenso sucesso que faz a proposta, apesar de não contribuir em nada para solução da crise de miserabilização que se amplia e consolida caoticamente e morbidamente.

Tudo isso vem para beneficiar turistas ricos que “geram empregos” sazonais e de baixa renda, sem registro, nos restaurantes e butiques de Guarujá longe do Paicará. Para sacramentar o erro, que, entretanto, tem inequívoco apoio popular graças à pregação midiática, será proibida a caminhões e, não duvidem, às bicicletas – na maior travessia de ciclistas do mundo – somando “virtudes”.

A consagração de uma ideologia que festeja uma ponte de três quilômetros com 70 ou 80 metros, que projeta até uma outra ponte e comemora a “beleza” de suas formas arquitetônicas inovadoras amargura e entristece, ao vislumbrarmos os resultados futuros das maneiras pelas quais se decidem as prioridades e anúncios da consolidação da tragédia social. Quem é que vai responder por isso?

(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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domingo, 19 de julho de 2009

REMÉDIOS E A CATÁSTROFE DO ESTADO

Senhor editor:

REMÉDIOS E A CATÁSTROFE DO ESTADO

Paulo Matos (*)



Por que castigar os mais frágeis? Apesar do amplo significado social e da importância da distribuição de medicamentos de alto custo pelo SUS, o sistema de distribuição implantado é catastrófico e sugere impor desistências, obrigando pessoas idosas e doentes a permanecerem mensalmente mal acomodadas durante horas em extensas filas.

Isto acontece na agência do AME na Ponta da Praia, condicionando este “amor” aos maltratos. Os medicamentos entregues com rotina obrigatória dependem vidas humanas e deveriam sê-lo nas residências, não coloca-los na dependência de atendimentos ineficientes, confusos e demorados – que exigem soluções imediatas.


Paulo Matos Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
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CORREDORES E CICLOVIAS

Senhor editor:

CORREDORES E CICLOVIAS

Paulo Matos (*)



Impossível negar os benefícios das medidas urbanas anunciadas pelo governo municipal, amenizando a crise do transporte popular. A proposta de implantar ciclovias e corredores de ônibus na Avenida Ana Costa é positiva, porém não prescinde da discussão prévia com técnicos urbanistas e populares, a quem preocupa a crise das demandas cada vez mais presentes nestes métodos. Evitando erros que estão prestes a serem cometidos com desperdício de dinheiro público e sacrifício dos interesses populares e não beneficiando apenas as empresas e agilidade dos ônibus.

Inicialmente, teremos que compatibilizar a largura da via com a implantação da ciclovia e, ao que se anuncia, implicará em redução dos espaços de terra das palmeiras imperiais. Estes espaços foram, em passado recente, alargado para permitir a regeneração dos vegetais que estavam apresentando sinais de fenescência e inclinação das majestosas árvores. Esta é uma das mais belas avenidas da cidade, que teve recentemente devastada sua cobertura vegetal por razões meramente estéticas.

Em segundo lugar, é preciso que se saiba que existem alternativas mais compatíveis com o fim de criar caminhos para as bicicletas, mais do que justificados, que é o de adoção de rotas laterais por vias menos densificadas, as ruas internas – método antigo. Mas acima de tudo, é necessária a clareza de que a atual crise do transporte coletivo e da redução de usuários resulta de diversos outros fatores que não a sua demora nos percursos devido à lentidão do tráfego de automóveis.

A superlotação dos veículos, que representa grave infração dos Direitos Humanos e nos leva a eras medievais, o custo elevado e injusto do pagamento por viagem e não por distância percorrida, alimentando lucros inexplicáveis e a inadaptação dos veículos para transporte de pessoas são algumas poucas destas razões.

Os atrasos que tornam imprevisíveis os destinos e as ausências de ônibus que não tem nenhuma disciplina de circulação e andam juntos veículos das mesmas linhas após longas esperas são apenas poucas recordações. Lembranças do sistema que expulsa e afasta usuários, obrigados a veículos calorentos e insuportáveis – fontes de contaminações diversas, que maltratam seus funcionários infringindo legislações diversas. Enfim, há muito o que se dirimir nas questões e o debate é seu equacionamento satisfatório e obrigatório. E temos certeza de que não faltará este interesse ao Governo Papa.

Paulo Matos Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
Fone 13-38771292 – 97014788



domingo, 12 de julho de 2009

ORWEL, NATUREZA E REVOLUÇÃO

ORWEL, NATUREZA E REVOLUÇÃO
Paulo Matos (*)


Lançado há 64 anos, em 17/8/1945, o livro “A Revolução dos Bichos” ("Animals Farm", livro de George Orwel) é de incrível atualidade. Ele conta a história de ideais e compromissos do socialismo esquecido em nome do “dar certo” do sistema, sem alterar suas bases e modificar seus rumos, que se exigem radicalizados e precisos - com o pé na história.

“Bichos ingleses e irlandeses / bichos de todas as partes / eis a mensagem de esperança / que no futuro virá / cedo ou tarde virá o dia / cairá a tirania / e os campos da Inglaterra/ só aos bichos caberão.. Não mais argolas em nossas ventas, dorsos livres dos arreios, freios e esporas, descartados,chicotadas abolidas!
Muito mais ricos do que sonhamos / possuiremos daí por diante o trigo, o feno, e a cevada, pasto aveia e feijão / brilham os campos da Inglaterra / águas puras rolarão / ventos leves soprarão, saudando a redenção / lutemos todos por esse dia, mesmo que nos custe a vida / cavalos, vacas, perus e gansos/ liberdade conquistemos / bichos ingleses e irlandeses...


Era este o hino revolucionário que cantavam os bichos da “Granja do Solar”, antes da Revolução dos animais que, em grande alarido, fez o dono, senhor Jones, sair de espingarda em punho e impor o silêncio. Mas dias depois ele seria posto para fora pelos bichos, no ideal do fim da exploração e submissão ao homem. Socialista libertário, foi a forma encontrada por George Orwel para fazer sua crítica aos rumos da Revolução Soviética, cujo bloco dirigente optou pelo socialismo autoritário.

Aos bichos foram impostas modificações fundamentais na proposta inicial da Revolução, uma a uma, até ver seus líderes celebrarem negócios com os seres humanos - que um dia haviam os expulsado da fazenda. Usado pela direita para criticar o comunismo, o livro foi equivocadamente chamado de reacionário à época da União Soviética, pois crítico do stalinismo – na opção sim pelo aprofundamento revolucionário, não o contrário.

Orwel - na verdade o jornalista inglês Eric Blair, autor de "1984", "Lutando na Espanha" e "Mantenha o sistema" -, era um anarquista revolucionário e ideólogo legítimo heróico, que abandonou a redação para dar sua vida à Guerra Civil espanhola no POUM - Partido Operário Unificado Marxista, pela República e contra o fascismo franquista.

O cavalo Sansão, depois da "Revolução dos Bichos", tinha direito à aposentadoria e às galinhas aos seus ovos, as vacas ao seu leite. Eles viram, após a tomada do poder pelos porcos que utilizavam os cachorros como exército, seus sonhos - cantados em seu hino feito após a morte do “Major”, um velho porco que morrera deixando a projeção de uma nova sociedade – serem esquecidos. Os cavalos velhos vendidos ao matadouro, o leite dado aos líderes leitões.

Nenhum animal deveria jamais morar nos antigos domínios dos humanos. Foram criados sete mandamentos, entre eles: qualquer coisa que andar sobre duas pernas é inimigo; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal matará outro animal; e o mais importante, que todos os animais são iguais. Depois, com o tempo todos estes mandamentos foram sendo devidamente ignorados pelos novos donos do poder, que os alteravam sem cerimônia. A ameaça era sempre a volta dos humanos e da opressão.

As máximas iniciais esquecidas eram do tipo qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; nenhum animal usará roupas; nenhum animal dormirá em camas e nenhum animal beberá álcool. Ao final, olhando pela fresta da janela no interior da casa os porcos engravatados fumando charutos com os humanos, ninguém mais sabia quem era porco nem que era gente.

Os novos donos do poder, que passaram a usar ternos, fumar charutos e beber uísque, negociavam com os humanos da Granja de Pinkerton, de que eram inimigos. Assim como alteravam a história e desmereciam os feitos de Bola de Neve (porco-personagem com que caracterizam Leon Trotsky) – agora traidor - na Batalha do estábulo, que marcou a Revolução. Admirável poeta e herói, pensador maior da liberdade, Orwel – ou Blair – merece um quadro na galeria de personagens socialistas humanitários da história.


Paulo Matos Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
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sábado, 11 de julho de 2009

CANTO À LIBERDADE E À AUTONOMIA

CANTO À LIBERDADE E À AUTONOMIA
A Autonomia da Vontade
Paulo Matos (*)


Liberdade, como a conhecemos desde o direito de ir e vir, implica em conhecimento da necessidade, que escapa à mera vontade. Não é a sujeição, mas domínio e afirmação humana, na visão de Marx e Engels, da Autonomia. E um homem só é homem se é livre e com seus direitos satisfeitos e realizados coletivamente e igualmente como na origem, por sua natureza.

Marx e Engels aceitam a tese de Spinoza, ou seja, liberdade como conhecimento da necessidade - enquanto Hegel a concilia com a história. A liberdade é, pois, a consciência histórica da necessidade. E esta é a da Autonomia da Vontade, que exige os direitos sociais inerentes ao ser desde que nasce.

O homem determinado externamente – e não por ele mesmo – é escravo, escreveu Spinoza. A liberdade não é somente a sujeição consciente à natureza, mas domínio do homem diante dela. Como escreveria Jean-Jacques Rousseau, o Príncipe Iluminista de 1789 e autor do Contrato Social: nele, as pessoas estabelecem seus limites.

Para Rousseau, na sociedade primitiva o homem vivia em estado de natureza, sem controle ou leis. Isso proporcionava amplos direitos ao indivíduo, mas liberava aos demais a invasão deles, restringindo-os.

Em nossa sociedade, construída sob a égide do contrato ou pacto social, os direitos de liberdade são relativos - limitados e condicionados pelo estado, em nome de seus representados -, que deve proteger e garantir a vida e seu exercício. Esse exercício, porém, não seguiu a natureza e seguiu pela acumulação.
Pedra angular da democracia, como a definiu Aristóteles, é positivo o direito à liberdade enquanto faculdade individual de autodeterminação, mas irracional quando permite a aniquilação do outro.

Na sociedade organizada, por razões de auto-preservação, era preciso instituir um contrato social. Em que o homem perdia a liberdade natural, mas ganhava a liberdade civil - delimitando os espaços da liberdade de cada um, para que ela possa ser exercida. Princípio e fim da democracia, a liberdade traz o ônus das limitações. É negativa quando depende da abstenção do estado. Não intervindo, por exemplo, nas manifestações do pensamento, garantindo-se, por decorrência, o seu exercício.

Ela é absoluta, sim, mas sua manifestação é ato exterior, que entra no mundo jurídico. E, portanto, está sujeita à função disciplinadora do estado, do qual se exige a proteção coletiva - que não pode eliminar sua essência. Mas há plenas condições de identificar e separar a livre manifestação e o implante de idéias e hábitos lucrativos para multinacionais impessoais, sociedades anônimas, na razão democrática da sociedade organizada.

Para Pontes de Miranda, liberdade absoluta supõe a unicidade do ser livre. E nessa perspectiva, nem Deus seria livre, porque criou as leis do universo, denotando sua relatividade social. Expoente liberal, John Locke demonstrou que o estado tem por finalidade defender os direitos humanos - não intervindo na ordem social senão para regulamentar as relações externas da vida do homem em sociedade. Para ele, o homem permanece com o seu direito natural, cumprindo ao estado garantir-lhes o exercício, não impedi-lo.

Locke, como Spinoza, refuta a concepção de Hobbes do contratualismo, para quem ao estado de natureza original contrapunha-se o estado de guerra. Racionalizando-o, afirmando sua razão de que a sociedade é útil. Os homens não transferiram ao estado sua liberdade de pensar, que continua livre. Nem ao seu estado-leviatã de monarcas - nem às forças de mercado, observem-se, capazes de ordenar seu pensamento. O homem é racional e criativo.

Montesquieu, no mesmo sentido da razão, argumenta que a liberdade não consiste em fazer o que se quer. Nem admitindo sua eliminação, nem advogando ser privilégio absoluto de poucos por razões divinas, como o que garantia o poder aos reis no absolutismo. Subordina a liberdade à lei, em um raciocínio claro: se um cidadão fosse livre para fazer o que a lei proíbe, já não o seria, pois outros teriam também poder sobre ele. O que traz inerente a igualdade de direitos, que conquistaria o mundo, instituindo o direito comum. Logo, a lei disciplina e garante a liberdade.

A Constituição Francesa de 1791 dizia que liberdade “... consiste em fazer tudo que não prejudique a outrem”, conceito reafirmado pela Constituição girondina de 1793. Que vai dar no dito popular “a liberdade de cada um começa onde termina a liberdade do outro, conhecida em todos os rincões.

Para Hegel, liberdade é a necessidade compreendida, o conhecimento da necessidade. Não é só teoria, como para Spinoza, mas história – o conhecimento histórico da necessidade. Que não implica em escravizar-se a ela conscientemente, mas a determiná-la. Cabe ao homem liberdade moral, de ação e decisão, com consciência de causa. No escombro das teorias liberais, chegaram as teses de direito social, subordinadas ao direito da sociedade e não apenas do indivíduo, admitindo-se a intervenção do estado nessa perspectiva.

Cresceu a compreensão de um direito coletivo: a liberdade não pode mais se tornar apenas privilégio dos mais fortes – favorecendo o predomínio do poder econômico e a escravização do homem pelo homem. Liberdade é ousar criar e transformar, não escravizar-se. É o domínio humano sobre a natureza e sobre a própria natureza.

Liberdade é Autonomia. E ela é ampla, indefinível por sua extensão, usual na sua prática. Sem ela inexistimos como seres vivos. Fugaz, estado de espírito, concreta, fundamental, é o mínimo de espaço individual que desfrutamos no universo pessoal, que é gigante em cada um. Perdemos quando pensamos ser invasora do alheio, vencemos quando a defendemos como conquista humana.

Somos, nós mesmos, um mundo mesclado de emoções, que tem nela substância de existência e o estímulo para viajar aos céus - também para mergulhar nos infernos da consciência ultrajada pelo seu não exercício voluntário. Acracia, alegria, anarquia, virtude com Buda, amor com Jesus, filosofia dos gregos, inspirou Spártacus e Zumbi, tomou a Bastilha. A onda libertária ultrapassa muralhas e cadafalsos em cavalgada, céleres. Os poderosos não a querem como escolta, tropel que desperta nos heróis que deram sua vida à causa.

A liberdade tem múltiplas faces, depende sempre de nossa perspectiva, pela qual medimos sua amplitude. Fazer ou não, para muitos, é sua essência. Utilizá-la ao máximo é a senha de crescimento espiritual e coletivo: os homens se agigantam com ela, os povos atingem suas metas no seu gozo.

O ser humano é pequeno quando está satisfeito, é menor quando se aperta o medo em seu peito, mas gigante quando junta o anseio ao pulmão, já diria a letra do mágico Taiguara. Reprimi-la sob o argumento de ordenar os caminhos a percorrer, por alguém fora de nós, é crime grave, gera dor – atentado, violência, homicídio e genocídio, quando praticado contra a sociedade.

Sua ausência aniquila vidas e sonhos. Há momentos em que a lei liberta e a liberdade oprime, mas quando seu significado é distorcido, confundida com liberalismo - que é a liberdade dos donos do dinheiro de exercer o poder decorrente para explorar e massacrar sem normas, livremente.

Seu anteposto é a ditadura, a coerção, a imposição, a opressão, a censura. Aquele que colocar a mão sobre mim para me ordenar é um usurpador, é um tirano: eu o declaro meu inimigo, disse Pierre-Joseph Proudhon, o chamado fundador do anarquismo, que não é senão a negação do poder, – a, o não do grego, archos, poder. Não ao poder!

Aprendemos a valorizar a liberdade pelo seu contrário, repudiando as formas que a querem aniquilar negando a vida. A força instrumentaliza a todos que deseja, desfaz seus dons, manipula, escraviza. Jamais me afastei deste amor insano à liberdade. Ao contrário, amadurecendo me fiz apaixonado compulsivamente, detrator implacável de qualquer de seus antagônicos germinativos do totalitarismo, do ovo da serpente – e que ela aparece nítida em seu interior, ainda inofensiva.

O desaparecimento de gente nossa na ausência da liberdade, parentes, amigos, conhecidos, líderes, é sempre uma marca trágica, tira um pouco do brilho da vida, tangencia a felicidade como uma cicatriz perene. A proporção desse lapso de vida decorre, quase sempre, da maneira que se impôs a perda, que marca delevelmente com marcas de morte. Morremos um pouco, perdemos luz. Por isso, a nós a liberdade!


(*) PAULO MATOS
Jornalista, historiador pós-graduado e bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com/
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sexta-feira, 10 de julho de 2009

ENCRUZILHADA, A HISTÓRIA DESMENTIDA

ENCRUZILHADA, A HISTÓRIA DESMENTIDA
Paulo Matos (*)


A Sociedade de Moradores e alguns habitantes do bairro da Encruzilhada, em Santos, encenaram uma votação em que se optou pela troca do nome do núcleo, assim historicamente denominado, escolhendo o do antigo dono das terras locais, o notável benemérito João Otávio. Equivocadamente, já há propostas de mudança na Câmara e isso desmente a história. Os vereadores devem rejeitar a alteração.

Em 1867, o então Presidente da Câmara, Inácio Cochrane, criou uma “via expressa” para a praia - a Avenida Otaviana, depois Conselheiro Nébias -, que seria o “Caminho Novo da Barra”. O encontro dos dois caminhos, o velho (a atual Rua Luiz de Camões) e o novo fizeram a encruzilhada que virou nome do bairro. É esta a raiz histórica e legítima da denominação do bairro, que não será jamais apagada por decisões efêmeras.

O Caminho Velho era por onde se chegava à praia do Boqueirão da Barra, que teria o Miramar de 1896 e o Parque Indígena de Julio Conceição, o maior orquidário ao ar livre do mundo e que deu origem ao Orquidário Municipal atual. Foi o primeiro ponto utilizado para banhos de mar. Era o caminho de quem morava no centro, Valongo e Paquetá. Saia da atual Praça da República e ia pela hoje Rua Brás Cubas, a atual Avenida Washington Luiz e Oswaldo Cruz.

O prefeito Silvio Fernandes Lopes denominou “Encruzilhada” o bairro, em 1968, em obediência à sua denominação tradicional e popular. Que agora se desrespeita, desconhecendo a origem secular da denominação e atribuindo-a a referência a religiões que não adotam. Não se trata nem de discriminação, mas desconhecimento histórico, simplesmente. A cidade perde com a mudança, intrinsecamente ligada à nossa história.

O notável benemérito João Otávio, menino pobre que enriqueceu e que doou sua fortuna para a Santa Casa, após destinar seus bens para a instalação e construção em sua chácara na Ponta da Praia do Instituto Escolástica Rosa, nome de sua mãe, decerto não gostaria de ver seu nome substituindo o do histórico bairro da Encruzilhada – cujas origens identificam a história de Santos, no cruzamento do antigo caminho para o mar.

Escrevendo sobre o bairro, diz Olao Rodrigues em seu livro “Cartilha de Santos”, editado em 1980, conta que “a atual Rua Luiz de Camões era...
“... um tortuoso caminho de terra mal batida e com águas pluviais estagnadas até que o sol forte as secasse. Tinha a designação popular de Caminho Velho e entrecruzava-se, obliqua, com a atual Rua Oswaldo Cruz. Não havia ainda a Conselheiro Nébias ou Otaviana, seu primeiro nome.Os dois atalhos formavam o caminho velho da barra” – onde havia uma cruz homenageando uma senhora que lá morreu.

Vamos rejeitar a mudança do nome e garantir a memória séria e histórica.

(*) Paulo Matos - Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
e-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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quarta-feira, 8 de julho de 2009

A REVOLUÇÃO DE 1932, UMA HÍBRIDA EPOPÉIA

A REVOLUÇÃO DE 1932,
UMA HÍBRIDA EPOPÉIA

Paulo Matos (*)



Ao revés das teses recém-encampadas e promovidas pelo governador José Serra, se aliando a uma visão política e histórica antiga e ultrapassada sobre a Revolução Paulista de 1932 - tentando aliar aos pseudo-quatrocentões -, em tempos de revisão e atualização histórica à luz dos novos conhecimentos e no evento da passagem dos seus 77 anos tentamos contribuir para esse entendimento sem mitificá-la, oferecendo sim reflexão.

A Revolução se revela na importância de suas vítimas santistas – mas que mostra, além da feição épica, seu hibridismo na interpretação ideológica difusa. Essa epopéia tem no santista João Pinho, jovem integrante dos três mil voluntários que partiram daqui para o movimento. Foi a primeira heróica baixa entre os que se organizaram aqui e mergulharam na luta contra o governo da recém-implantada Revolução da Aliança Liberal em 1930, derrotando os oligarcas do PRP que se reorganizam em 1932.

É ideologicamente híbrida e equívoca a análise ideológica deste movimento que foi integrado pelos fundadores, neste ano da Revolução, do Centro dos Estudantes de Santos, que teve na luta seu primeiro presidente Edu Brancatto. Havia a pregação libertária típica da esquerda dos estudantes e jovens paulistas, mas o que moveu a Revolução foram interesses restauradores da oligarquia do café derrotada em 1930.

Mas a esquerda e a direita estavam presentes em ambos - nas ações de transformação social dos “tenentistas” de Vargas e na reação a estas medidas da oligarquia “bandeirante” – que hoje também não resistem a uma revisão histórica.

De um lado, o autoritarismo da Ditadura Vargas, que apesar disso, com seus “tenentes” – classe jovem e renovadora do Exército – implantou ações concessionárias aos trabalhadores da cidade e do campo através do interventor João Alberto e do próprio governo central que desbancou a reacionária “República Velha”, causando a reação dos paulistas.

Aqui em Santos, o “tenente” Miguel Costa – líder da coluna Prestes e que fundou o Partido Popular - apoiou a luta dos estivadores pela conquista do mercado de trabalho. Era lógico que os que destruíram o sistema o rejeitassem. As reivindicações paulistas de uma Constituinte e de um governador “civil e paulista” já haviam sido atendidas quando estourou o movimento, exigindo novas luzes para seu entendimento.

A linguagem revolucionária da convocação paulista não mostrava sua articulação conservadora das velhas oligarquias, de “Cristo contra Marx” - como pregavam os restauradores do PRP. O comandante militar de Vargas, entretanto, era um nazi-fascista notório, o general Góes Monteiro – que iria tentar fazer o Brasil apoiar Hitler.

A Revolução de 1932 foi produto de uma pregação midiática intensa, que mobilizou as massas para ela - apoiada por todos os jornais e rádios, que manipulavam notícias de vitória lançando à morte tropas de jovens paulistas sem armas nem equipamentos, só matracas imitando metralhadoras para “assustar” os inimigos.

Foi nos primeiros dias de agosto de 1932 em que tombou o santista João Pinho, no combate de Salto, sob o comando do Coronel Sampaio. Foi o batismo de fogo dos soldados de Santos na frente norte. No dia 18 de agosto tombou outro santista, Carolino Rodrigues, soldado do 8º B.C. R, a 24 o santista Alfredo Schamass, voluntário do 7º B.C.R., Januário dos Santos no dia 29, Ivampa Duarte Lisboa no dia 31.

Em setembro, partiria o santista Alfredo Albertini nessa luta heróica, no dia 2, o vicentino Durval Amaral no dia 3 e Eduardo Alves, da falange Acadêmica incorporada ao 8º B.C.R. no dia 7. Soldados, enfermeiros e médicos da Cruz Vermelha partiram de Santos para esta luta, que nasceria em uma manifestação estudantil em 31 de maio, data em que tombariam os quatro estudantes paulistas vítimas da repressão da ditadura.

Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo dariam suas iniciais para denominar o movimento, que seria o MMDC. Ficariam ainda no campo de batalha, entre outros, Antonio Damin, do Tiro de Guerra 598, 7º B.C. R, no dia 12. Pérsio de Queiroz Filho tombaria no dia 17 de setembro, como Sebastião Chagas e o Dr. Dagoberto F. de Gasgon, do pelotão de engenheiros da milícia cívica de Santos.

Necessitaríamos conhecer estes personagens e sua atuação para compreender o espírito que envolvia esta batalha a que se incorporaram. Estão na Praça José Bonifácio, da Catedral e do Fórum, inscritos no monumento de Anselmo Del Débio, inaugurado em 26 de janeiro de 1956, nos 127 anos da emancipação da cidade, os nomes dos que deram suas vidas à causa revolucionária – há 77 anos. Sob a luz das informações e da verdade, é preciso entendê-la, antes de aderir como o governador Serra.


(*) Paulo Matos - Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
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quinta-feira, 2 de julho de 2009

O SENADO DO INCITATUS

O SENADO DO INCITATUS

Paulo Matos (*)


A NOTÍCIA: “O Plenário da Câmara dos Deputados vai votar na quarta-feira que vem (27) um requerimento de urgência para a votação dos projetos de lei essenciais da reforma política – o do voto em listas fechadas (4636/09) e o do financiamento público exclusivo para as campanhas eleitorais (4634/09). O acordo entre os líderes foi fechado nesta quinta-feira (21), por maioria, em reunião dos líderes partidários com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).”

Por que a representatividade do Senado e da Câmara não está na Reforma Política? Por que a questão absurda da proporcionalidade entre eleitores e deputados não está nem comentada entre as mudanças necessárias, sendo a maior delas? A desigualdade entre eles, na sua origem eleitoral, é estapafúrdia. Como instalar o financiamento público e o voto por lista sem reformar totalmente essa a representatividade instituidora da desigualdade?

Riem de nós os que conhecem nosso modelo, que se sugere elaborado pelo próprio Incitatus. Era o cavalo do Imperador Romano Calígula - que ele mesmo nomeou para o Senado. O Senado romano, em latim Senatus, é a mais remota assembleia política da Roma antiga, com origem nos Conselhos de Anciãos, da Antiguidade oriental (surgidos após o ano 4000 A.C.). Seu nome vem de senex, velho, idoso.

O senado era uma assembleia de notáveis - o conselho dos patres, ou chefes das famílias patrícias - que provinha já dos tempos da realeza romana. O Senado brasileiro nem original é, imita uma instituição que reúne estados diversos e não artificialmente divididos, o dos Estados Unidos – nosso modelo -, cujos estados tem origens heterogêneas e, por isso, necessariamente representados. Mas nós somos homogêneos, divididos após o poder instalado.

De acordo com Suetônio, o escritor, o eqüino senador Incitatus atinha dezoito assessores, quero dizer, criados, naquele tempo. Eram menos que o senador de Roraima ou Amapá, sem votos, mas poderosos. O cavalo tinha ainda uma estátua de tamanho real e um colar de pedras preciosas, sempre envolvido em mantas de cor púrpura.

Os senadores são o filtro das decisões da Câmara. O que e como filtram é que é o problema. No máximo, eles representam, além de si mesmos, um pequeno grupo privilegiado que lhes dá apoio logístico à campanha – geralmente financiados por seus suplentes, eleitos sem voto após bancarem campanhas.

O Senado tem três representantes por Estado, seja qual for seu número de eleitores. Áreas desérticas do norte e nordeste, territórios transformados em Estados ou Estados divididos em dois só para ganhar vagas de governador, deputados e senadores, têm três senadores cada. Pior: ainda que com poucos votos, eles têm suplentes eleitos sem um único voto – muitos deles em exercício.

Então vamos tentar entender: a Câmara mais alta do país, o Senado que filtra as decisões dos 513 deputados, tem senadores sem voto ou pouquíssimos votos, certo? Mas o absurdo não é único, tenham paciência. A própria Câmara federal também é assim. A norma legal fixa o mínimo de oito e o máximo de setenta deputados por Estado, limites que bagunçam completamente sua representatividade: uns tem muito mais do que representa seu povo, outros muito menos – de acordo com o perfil do eleitorado.

Senão, vejamos: dez minúsculos Estados do Norte, Nordeste e Centro-oeste, que tem o mínimo de oito deputados – juntos com cerca de 18 milhões de eleitores (AC, 670.000; AM, 3.200.000; AP, 300.000; MS, 2.300.000; MT 2.800.000; RN, 3.000.000; RO, 1.500.000; SE, 2.000.000; TO, 1.300.000; RR, 400.000) - reúnem 80 deles. São Paulo, com 41 milhões de habitantes, quase quatro vezes isso, tem 70, o limite.

Mas hoje é o dia da molecada, diria José Bonifácio quando foi exilado: deputados estaduais e federais tem votos em cidades que nunca estiveram, em um verdadeiro “show” de comunicação pessoal telepática. Foram eleitos com votos pulverizados, que nunca os elegeriam caso seu reduto fosse localizado caso existisse o voto distrital.

Nele os candidatos com pouco dinheiro ameaçam as grandes bolsas e campanhas, prescindindo de carros, aviões, helicópteros, milhares de cartazes e brindes, aparições “espontâneas” em festas e eventos – entre outros privilégios reservados a quem tem. Mas não se preocupem os atuais detentores do poder Legislativo, porque a reação à proposta do Presidente Lula de uma Constituinte exclusiva para a Reforma Partidária já foi abandonada, depois de acusada de “autoritária”.

E com a Reforma nas mãos dos interessados, deputados e senadores, imaginamos que como diria o iluminista Voltaire, tudo continuará a mesma coisa, quando se mudam apenas as pessoas e não os modelos. Nada disto está na pauta da Reforma Política. Durmam tranqüilos, senhores, sem ouvir o choro das crianças.



Paulo Matos - Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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