quarta-feira, 8 de julho de 2009

A REVOLUÇÃO DE 1932, UMA HÍBRIDA EPOPÉIA

A REVOLUÇÃO DE 1932,
UMA HÍBRIDA EPOPÉIA

Paulo Matos (*)



Ao revés das teses recém-encampadas e promovidas pelo governador José Serra, se aliando a uma visão política e histórica antiga e ultrapassada sobre a Revolução Paulista de 1932 - tentando aliar aos pseudo-quatrocentões -, em tempos de revisão e atualização histórica à luz dos novos conhecimentos e no evento da passagem dos seus 77 anos tentamos contribuir para esse entendimento sem mitificá-la, oferecendo sim reflexão.

A Revolução se revela na importância de suas vítimas santistas – mas que mostra, além da feição épica, seu hibridismo na interpretação ideológica difusa. Essa epopéia tem no santista João Pinho, jovem integrante dos três mil voluntários que partiram daqui para o movimento. Foi a primeira heróica baixa entre os que se organizaram aqui e mergulharam na luta contra o governo da recém-implantada Revolução da Aliança Liberal em 1930, derrotando os oligarcas do PRP que se reorganizam em 1932.

É ideologicamente híbrida e equívoca a análise ideológica deste movimento que foi integrado pelos fundadores, neste ano da Revolução, do Centro dos Estudantes de Santos, que teve na luta seu primeiro presidente Edu Brancatto. Havia a pregação libertária típica da esquerda dos estudantes e jovens paulistas, mas o que moveu a Revolução foram interesses restauradores da oligarquia do café derrotada em 1930.

Mas a esquerda e a direita estavam presentes em ambos - nas ações de transformação social dos “tenentistas” de Vargas e na reação a estas medidas da oligarquia “bandeirante” – que hoje também não resistem a uma revisão histórica.

De um lado, o autoritarismo da Ditadura Vargas, que apesar disso, com seus “tenentes” – classe jovem e renovadora do Exército – implantou ações concessionárias aos trabalhadores da cidade e do campo através do interventor João Alberto e do próprio governo central que desbancou a reacionária “República Velha”, causando a reação dos paulistas.

Aqui em Santos, o “tenente” Miguel Costa – líder da coluna Prestes e que fundou o Partido Popular - apoiou a luta dos estivadores pela conquista do mercado de trabalho. Era lógico que os que destruíram o sistema o rejeitassem. As reivindicações paulistas de uma Constituinte e de um governador “civil e paulista” já haviam sido atendidas quando estourou o movimento, exigindo novas luzes para seu entendimento.

A linguagem revolucionária da convocação paulista não mostrava sua articulação conservadora das velhas oligarquias, de “Cristo contra Marx” - como pregavam os restauradores do PRP. O comandante militar de Vargas, entretanto, era um nazi-fascista notório, o general Góes Monteiro – que iria tentar fazer o Brasil apoiar Hitler.

A Revolução de 1932 foi produto de uma pregação midiática intensa, que mobilizou as massas para ela - apoiada por todos os jornais e rádios, que manipulavam notícias de vitória lançando à morte tropas de jovens paulistas sem armas nem equipamentos, só matracas imitando metralhadoras para “assustar” os inimigos.

Foi nos primeiros dias de agosto de 1932 em que tombou o santista João Pinho, no combate de Salto, sob o comando do Coronel Sampaio. Foi o batismo de fogo dos soldados de Santos na frente norte. No dia 18 de agosto tombou outro santista, Carolino Rodrigues, soldado do 8º B.C. R, a 24 o santista Alfredo Schamass, voluntário do 7º B.C.R., Januário dos Santos no dia 29, Ivampa Duarte Lisboa no dia 31.

Em setembro, partiria o santista Alfredo Albertini nessa luta heróica, no dia 2, o vicentino Durval Amaral no dia 3 e Eduardo Alves, da falange Acadêmica incorporada ao 8º B.C.R. no dia 7. Soldados, enfermeiros e médicos da Cruz Vermelha partiram de Santos para esta luta, que nasceria em uma manifestação estudantil em 31 de maio, data em que tombariam os quatro estudantes paulistas vítimas da repressão da ditadura.

Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo dariam suas iniciais para denominar o movimento, que seria o MMDC. Ficariam ainda no campo de batalha, entre outros, Antonio Damin, do Tiro de Guerra 598, 7º B.C. R, no dia 12. Pérsio de Queiroz Filho tombaria no dia 17 de setembro, como Sebastião Chagas e o Dr. Dagoberto F. de Gasgon, do pelotão de engenheiros da milícia cívica de Santos.

Necessitaríamos conhecer estes personagens e sua atuação para compreender o espírito que envolvia esta batalha a que se incorporaram. Estão na Praça José Bonifácio, da Catedral e do Fórum, inscritos no monumento de Anselmo Del Débio, inaugurado em 26 de janeiro de 1956, nos 127 anos da emancipação da cidade, os nomes dos que deram suas vidas à causa revolucionária – há 77 anos. Sob a luz das informações e da verdade, é preciso entendê-la, antes de aderir como o governador Serra.


(*) Paulo Matos - Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
Fone 13-38771292 - 97014788

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