quinta-feira, 29 de outubro de 2009

HALLOWEEN, SACI PERERÊ E DOMÍNIO CULTURAL

HALLOWEEN, SACI PERERÊ E DOMÍNIO CULTURAL
- pelo Dia do Saci

Paulo Matos (*)

Pelo Dia do Saci: a ampliação no Brasil das adesões à comemoração do Halloween neste dia 31 de outubro, o Dia das Bruxas, no arco do domínio econômico e cultural secular, reflete um estado de submissão a um folclore triste de neve e frio, sem brilho – que pede o Saci para alegrar-se. O Dia das Bruxas vindo de fora cresce sem a nossa história e beleza tropical.

O Halloween não tem nossa riqueza de multiplicidade étnica da maior natureza do mundo, que produziu o Saci Pererê, frutificado de países de capital concentrado extraído das minas gerais, em que vive um estágio econômico perverso e falimentar - um estado mental incompatível com estes nossos tempos de expansão libertária e igualitária.

Saci é o folclore do menino negro de barrete vermelho, de perna única, que alegra as matas. Uma mescla do indígena e do africano, brasileiro de raiz, que o grande incentivador do petróleo Monteiro Lobato cobra existência real desde 1917 - quando lançou seu manifesto. A nação cobra este retorno às raízes do Saci nestes tempos de projeção do Brasil e do bota-fora das bruxas que nos apavoram por séculos.

(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
 F.13-38771292 – 97014788

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

DIPLOMA DE JORNALISTA: QUAL SERIA A CONTRADIÇÃO?

DIPLOMA DE JORNALISTA:
QUAL SERIA A CONTRADIÇÃO?
21.10.2009

Paulo Matos (*)

Qual seria o conflito entre o princípio constitucional da liberdade de expressão e a exigência do diploma para o exercício do jornalismo? E qual seria sua diferença característica em relação às demais profissões, que exigem a formação específica para seu exercício, que permitisse esta análise? A argüição da defensora da existência deste embate impossível, a nosso ver, se equivoca como seus formuladores, adversários da informação sistematizada.

A questão enunciada nesta terça 20 em A Tribuna (A-6), em extenso artigo da presidente da Associação Nacional dos Jornais Judith Brito, se antepõe à tentativa de inserir esta exigência como norma constitucional. O que se anuncia, já que julgada inconstitucional em decisão recente pela mais alta corte - o STF, Supremo Tribunal Federal, contrariando os interesses da sociedade de massas corroída pela desinformação.

A dirigente crê a decisão peremptória e fatalmente destinada a ter o mesmo julgamento diante de novos juízos, não a vendo questionável na sua natureza dialética - embora a conexão entre o princípio e a exigência seja invisível para a maioria dos que vivem o mundo do Direito, para dizer o menos.

Esdrúxula – e não “clara e sábia”, como tenta tingir a decisão nossa articulista – é o parecer que suspende uma categoria profissional pelo chamado “Pretório Excelso”. Que ameaça, com sua edição, todas as demais – como médicos, dentistas, arquitetos, engenheiros, dentistas, enfim, em um “liberou geral”. A Constituição não alinha profissões, mas, contrario sensu, apenas o direito legal à sua existência.

Seria defender o princípio da “Liberdade de Expressão” o aniquilamento de um saber em construção, deixado ao léu ao sabor de interesses individuais? Não estaria configurado o exagero liberal? A reflexão é, esta sim, exigível, no reconhecimento da articulista da necessidade de preparação do gerador de informações.

A principal questão, entre tantas que justificam a exigência do diploma de curso de graduação de nível superior para o exercício profissional do jornalismo, é que a sociedade precisa dela, para uma informação qualificada. Para se preparar jornalistas capazes a desenvolver estes princípios nada como um curso superior de graduação em jornalismo, conquista secular.

Concluindo, sabemos que a exigência do diploma de jornalismo não impede de maneira alguma a Liberdade de Expressão – e o quanto falacioso é o argumento. Temos história: o primeiro Congresso dos Jornalistas a afirmar tal exigência é de 1918. A primeira regulamentação é de 1938. A fundação do primeiro curso de jornalismo do Brasil foi em 1947. E o reconhecimento jurídico da necessidade de formação superior, em 1969, aperfeiçoado pela legislação de 79. Isto não é pouco.

Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
Fone 13-38771292 - 97014788

sábado, 17 de outubro de 2009

A REVOLUÇÃO DE 1935

A REVOLUÇÃO DE 1935

Paulo Matos (*)

Neste dia 27 de novembro de 2009 registramos os 74 anos da Revolução de 1935. Um episódio pouco conhecido e ensinado e, quando isso é feito, impõem-se deformações frutificadas da época de graves contradições ideológicas entre os donos do poder e os revolucionários, que tinham expressiva atuação política no Brasil.

Essa Revolução chegava propondo reformas sociais, econômicas e políticas de que o Brasil carece até hoje: aumento de salários, nacionalização das empresas, proteção da pequena propriedade, defesa das liberdades públicas, sob o lema “Terra, pão e liberdade”.

Presente no livro das Autonomias de Santos, deste autor – “Santos, 115”, esta leitura da chamada “Intentona” comunista de 1935 foi uma tentativa de mudança política do país que, por sua extensão territorial e múltiplas realidades. Todo este processo de luta popular tem uma raiz histórica que passa pela derrota em 1935.

A Revolução de 1935 foi um movimento que, para crucificar seu significado, foi batizado de “Intentona Comunista” pelos setores dominantes da direita, “intentona”. Que em espanhol significa “instinto louco” ou “plano insensato”. Mas a Revolução de 35 no Brasil, da Aliança Nacional Libertadora – ANL – foi, na verdade, muito mais do que isso.

Na verdade, o movimento foi uma Frente Popular para combater o nazi-fascismo e fazer a revolução socialista, humanizando uma sociedade cruel e desigual, o primeiro e maior movimento popular de caráter nacional no Brasil. A palavra revolução tem hoje o sentido contrário de seu significado etimológico latino, em que “revolutio” se traduz como retorno ou volta. Mas revolução é futuro.

Segundo Emannuel Kant, a revolução é uma força necessária no processo evolutivo da humanidade, desde que seja real e transformadora das estruturas sociais. É o passo decisivo embora doloroso, escreve Kant, para construção da nova sociedade em bases éticas superiores.

É a ruptura da ordem social vigente e suas condutas consideradas normais no modo de pensar, crer e agir. A ANL foi a primeira organização política nacional das classes populares em mais de quatro séculos, escreveu Ronald H. Chilcote na Universidade da Califórnia em 1974, no livro “The Brazilian Communist Party – 1922/1972”.

Criada na onda das frentes populares européias, a Revolução de 35 recebeu apoios do rio grande do norte e Pernambuco e reagia contra um Brasil oligárquico e cruel com as maiorias. Era liderada pelo Partido Comunista Brasileiro, então “do Brasil”, cujo diferencial da história da esquerda no país era a prática da organização sem o empirismo da agitação política sem alvo objetivo, procurando superar as lutas anarquistas.

A história da Revolução de 1935, cuja data em 27 de novembro de 2009 registra os 74 anos de ocorrência, é uma história que os livros oficiais ou não contam ou deturpam drasticamente, sem revelar a barbárie da repressão sanguinária que se seguiram contra os que queriam evoluir a sociedade dos seus antigos marcos herdados.

Durante toda a idade média, pensamento que herdamos, considerou-se justa a desigualdade em favor da nobreza e do clero, o que se modifica com as revoluções inglesas de 1640 e francesa, 1789 – abrindo as portas para a transformação mundial que 1935 ousou.

Com seu esmagamento, o Brasil perdia sua oportunidade de crescer com igualdade, captando o sonho da solidariedade social em um dos maiores países do mundo com uma Frente Popular. Seu Presidente de Honra era Luiz Carlos Prestes, antigo líder da Coluna Tenentista que percorreu o Brasil de 1925 a 1927 sem uma única derrota, na defesa de reformas sociais que beneficiassem as maiorias. Preso em 1935, seria libertado com base na Lei de Proteção aos Animais pelo advogado Sobral Pinto.

Então com 38 anos, nascido em 3/1/1898, engenheiro pela Escola Militar do Rio de Janeiro em 1919, Prestes era Capitão-engenheiro em Santo Ângelo, RGS, no quartel que rebela. E se junta com Miguel Costa na famosa Coluna, em 1925. È em 1927 seu contato com Astrogildo Pereira, ex-anarquista fundador do PCB em 22, que o traz para a causa comunista.

Em 1929 Prestes é convidado pelo PCB para disputar a Presidência da República, não conseguindo um consenso entre os tenentes da Coluna. E deixa eleger Julio Prestes, da oligarquia paulista. Convidado por Vargas para a direção militar da Revolução de 1930, manifesta sua recusa através de um manifesto em abril.

Vitorioso o movimento de 1930, é preso em Buenos Aires. Quando sai da cadeia se filia ao PC. Convidado novamente por Vargas, outra vez recusa, compreendendo a necessidade da Revolução Popular para o Brasil. E vai para a União Soviética em 1931, com a família.

A história da Revolução de 35 começa no 3º Congresso do então PC do B, como foi fundado, que organizou a “Antimil” dentro dos quartéis, uma ordem secreta dos comunistas, a quem caberia o principal na organização do levante. A legalidade do PCB durou apenas três meses e dez dias depois da fundação em março de 1922, logo depois do que tinha cinco mil militantes.

O PCB comandava a Frente, embora fosse minoritária dentro dela. Seu crescimento sempre incomodou as classes dominantes, tornando-se uma das principais forças eleitorais em vários momentos de nossa história - fazendo com que se aniquilassem fisicamente seus membros, presos, torturados e assassinados, sempre.

A derrota da Revolução de 1935 impediu o país de se equalizar e avançar - preservando a injustiça social e as mazelas herdadas da colonização por países aonde as luzes da Revolução Francesa não chegaram. A missão decidida pela Internacional Socialista era fazer revoluções em todo o mundo para salvar do fascismo e romper o bloqueio econômico e político à União Soviética. E foi o que se fez aqui, embora estratégica e temporalmente errado.

Fundada em março de 1935 e presidida por Hercolino Cascardo, a Revolução de 1935 foi liderada pela ANL, a Aliança Libertadora Nacional, entidade legal e aberta com objetivos de transformação social. Que indica Prestes para a presidência de honra (pela voz de ninguém menos do que o filho do deputado socialista Mauricio de Lacerda, de nome Carlos Lacerda), nas cerimônias de lançamento em 30 de março desse ano.

Em 29 de junho, a ANL recebe a adesão dos anarquistas em SP e é fechada pelo Governo em 12 de julho, após defender a derrubada de Vargas em 11 desse mês – quando foram distribuídos 150 mil exemplares do jornal aliancista “A Platéia” com o manifesto desafiador.

O fechamento da ALN em julho pelo Governo serviu para a proposta do levante dos quartéis. Segundo Noé Gertel, presidente da Juventude Comunista Paulista, a ANL tinha duzentos mil militantes no país e forte apoio na classe média, integrada por expressivas lideranças nacionais, infiltrando-se nos quartéis e fundando entidades de atuação social, publicando jornais e fazendo eventos massivos.

Em setembro, Prestes passava a fazer parte da executiva da Internacional Socialista, junto com os principais líderes mundiais, de Stálin a Mao e Dolores Ibarri. A revolta explodiu primeiro em Natal, RGN, a 23 de novembro e a 24 e em Recife, PE, 27 no RJ, sendo derrotada em quatro dias e iniciando uma desproporcional caçada humana no país, tendo Prestes sido encarcerado por nove anos. Só em 1958 um mandato judicial interrompeu seu mandado de prisão preventiva.

A ANL projetava a construção de um futuro comum e comunista, majoritário, das maiorias, dirigido por um acordo coletivo e em prol de todos os seus membros, não apenas de alguns, como hoje. Combatida pelos fascistas da Associação Integralista Brasileira, a ABI de Plínio Salgado.

Eram os “Camisas (galinhas, chamavam) Verdes”, que tinham batalhas nas ruas com os comunistas. A Revolução de 35 era um resultado de uma trajetória que começa nas revoluções de 22 e 24, a revolução paulista de Isidoro, que fez nascer a Coluna Prestes-Miguel Costa em 1925. E a Revolução da Aliança Liberal dos tenentes de 30 – visando superar o atraso social.

Até 1930 o Brasil foi governado por uma oligarquia agro-comercial, as elites rurais do nordeste e os barões paulistas do café, mais os exportadores. A crise capitalista de 1929 nos EU moveu a Revolução tenentista de 30, quando Vargas institui o compromisso inter-classes dirigentes de fazendeiros a banqueiros e industriais para “segurar” o país das agitações anarquistas que cresciam desde fins do século XIX.

A Revolução de 35 significou um novo momento de aglutinação das forças reformadoras e progressistas. Ele nos remeteria ao acirramento da repressão e ao Estado Novo de 1937, que obedece à lógica fascista mundial em desenvolvimento na época na Itália e na Alemanha, instituindo-se então um governo forte que ameaça alinhar-se a Alemanha, só não o fazendo pela pressão dos comunistas nas ruas.

Os 400 sindicatos livres que apoiaram a Revolução eram os que não haviam se convertido ao sindicalismo oficial e controlado imposto a partir de 1931. Seriam fechados em 1946 e vinham junto com ex-tenentes reformistas, liberais excluídos do processo político, comunistas, socialistas e anarquistas. E o Brasil seria o mesmo.

(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=ls&uid=3193061565782244472
Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
Fone 13-38771292 - 97014788

PETRÓLEO, REPORTAGEM E RESGATE/LUX IN TENEBRIS I E II

PETRÓLEO, REPORTAGEM E RESGATE / lux in tenebris  I


Paulo Matos (*)

“Herói, que coisa tão simples, tão grande e tão difícil! Herói, que palavra mais linda! Só o povo, amiga, concebe, alimenta e cria o herói, que nasce de suas entranhas, que são as suas necessidades. O herói está na frente do povo quando ele se levanta, conquistando sua liberdade. Eterno no mundo, amiga, só o povo e a memória de seus heróis e poetas. É curto o tempo dos tiranos, é curta a noite da escravidão. É bela a manhã da liberdade que vale a pena morrer por ela, dar a vida pela certeza de que ela vem, quer chegará para os homens...” (Jorge Amado, introdução do livro “O Cavaleiro de Esperança Luiz Carlos Prestes”, 1942)

O jornal da cidade por seu ousado editor, jornalista maduro e cultor de Santos e do Santos, foram elementos somados para concretização da exposição desta história épica da luta O PETRÓLEO É NOSSO na cidade, há 60 anos. O herói que resgatamos como compromisso, no evento da sua morte na data de 30 de setembro de 1949, era um migrante com cinco filhos, militante do PCB.

Estava na faixa dos quarenta e morava no morro – militante da luta “O petróleo é nosso”, de nome Deoclécio, assassinado. Como na frase do recente Festival de Curtas, na área do cinema que nasce nessa época em Santos com Maurice: sua batalha era como a luz nas sombras, nesse renascimento de pós-guerra e da derrota (?) nazi-fascista, presente aqui. O petróleo existia e era do povo. Mas era preciso lutar por ele. Como agora pelo pré-sal.

Os registros mostram ser Deoclécio um líder, com participação social antiga até em lutas de caráter internacionalista. Como na greve contra os navios espanhóis do ditador fascista Francisco Franco -, pelo que foi preso em 1946, a 11/3. A riqueza que o país e a cidade anotam hoje deveu a ele, que não teve tempo de ter medo. Deoclécio Augusto Santana era morador do Morro da Penha e sergipano, “estrangeiro” de Camus como o presidente de Pernambuco. Mas homens existem em toda parte, derrubando fronteiras, trazendo sua força, a dos “de baixo”, das raízes populares.

Que razões levam alguém a ser herói assim, Don Quixote tropical igual a muitos que nunca tiveram expostos seus atos, substituídos por falsos líderes? Era de contestação o ambiente intelectual existente em Santos à época da morte de Dioclécio Santana. O comício na bacia do Macuco era do movimento “O petróleo é nosso”, pró-Petrobras, com ordens de proibição do governo aplicadas pelo DOPS – Delegacia de Ordem Política e Social. Era organizado pelo PCB, no movimento nacionalmente incorporado por parlamentares do PSB.


Aqueles homens faziam isto porque não eram seres comuns, eram os que ousaram lutar e ousaram vencer. E que vislumbraram a riqueza do coletivo, das massas. Uma luta da terra de Aldo Ripasarti e dos fundadores do Cento de Defesa do Petróleo em Santos em fevereiro de 1949, de que ele foi presidente, em tempos que pensar grande era crime. O pai de FHC, me contou o Júlio Bittencourt pai - o General Leônidas Cardoso - esteve por aqui nessa luta, veja você.


O PCB propôs agora um amplo movimento de massas que exija a convocação de um plebiscito para que o povo brasileiro se pronuncie soberanamente sobre a reestatização da Petrobras. Palavra da história, reeditando a batalha que resultou no Projeto de Lei 1.516 de dezembro de 1951, vitorioso na Lei 2004 de 1954. Uma luta de massas cujas raízes não podem ser esquecidas, que encontra seu momento preciso como Don Bosco, que viu o petróleo da Itália antes dele ser descoberto, sem nunca ter vindo aqui. O sonho, sempre, era concretizar a construção de uma sociedade farta, socialista e igualitária, com Pão, Terra e Liberdade. Era o lema da derrotada Revolução de 1935, que faremos.

(*) PAULO MATOS Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
Fone 13-38771292-97014788
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=ls&uid=3193061565782244472 Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
 F.13-38771292 – 97014788



PETRÓLEO, REPORTAGEM E RESGATE - lux in tenebris - II

Paulo Matos (*)

A luta do “Petróleo é nosso” era do tempo do renascimento cultural do pós-guerra, agora fria, da arte, dos comunistas em alta na cidade e no país. Eles faziam 14 vereadores em novembro de 1947 – mais dois na aliança com o PSB, alcançando a maioria dos 31. A visão dos comunistas que incorporaram a luta era social, coletiva e de futuro, valores inerentes à causa.


Foram cassados todos os eleitos, é claro, na “Cidade Vermelha” e no país inteiro, cidade que já fora a heróica “Barcelona Brasileira” operária. Nas eleições de 19 de janeiro de 1947 para a Assembléia Legislativa, o Partido Comunista Brasileiro foi o mais votado de Santos. E elegeu seu candidato, o professor e poeta Taibo Cadórniga, deputado estadual.


Eram tempos agitados estes de 1953, em que o Presidente Vargas cria a Petrobrás, a Lei 2004. Era o ano da morte do Presidente Stalin em cinco de março, ele que dirigira a poderosa União Soviética por 29 anos. Em 19 de junho, nos Estados Unidos, eram executados Julius e Ethel Rosemberg na cadeira elétrica por suposta espionagem para a URSS de conhecimentos sobre a bomba atômica. Era a “Guerra Fria” entre as superpotências.


Em 27 de julho, depois de três anos de combate e cinco milhões de mortos, é assinado o armistício entre China e Coréia do Norte com as Nações Unidas para por fim a guerra. Eram agora duas as Coréias e o Japão, que financiou os armamentos, retomava seu desenvolvimento econômico. No Brasil era instalada a Volkswagen em 15 de março, em 29 de abril ganhava a Palma de Ouro o filme de Lima Barreto “O Cangaceiro”. O país assumia a consciência de sua grandeza e autonomia nacional, desprezando seu passado colonial e dependente.


Aqui, o PCB conseguira nas eleições de 1947 quase 28% dos votos e conquistava, pela legislação vigente, 45% das cadeiras. Santos foi uma das cidades que mais elegeu vereadores do PCB no país, apesar das restrições. E teria um prefeito comunista eleito em 9/11/1947 – Leonardo Roitman - se a Autonomia não fosse cassada antes, no Projeto de Lei 748-B, em 22/10 desse ano. Mas ele foi o vereador mais votado proporcionalmente da história de Santos, com cerca de 6% dos votos.


Fatos locais refletem o mundo. Prestes, Portinari. Guerra Fria, o PCB cassado em todo o país em 7/5/1947. Felix, Veloso, Claudio Ribeiro, personagens de Santos. Era tempo da poesia e da literatura, de Patrícia Galvão, dos sindicatos e teatros, da poesia. Era o tempo da idéia, da cultura e da expressão popular. Dizia-se que qualquer um que não fosse idiota era comunista, era até moda “chique”. Mas tinha sentido humano. Clube de Arte. Artistas, comunistas, líderes operários e comunitários. Clube de Cinema, fundado em outubro de 1948 - Maurice Legeard, Roldão Mendes Rosa, David Capistrano pai, Corálio – militantes político-culturais.


O que essa luta significou para a conquista do monopólio da exploração do petróleo em 1954, na promulgação da Lei 2004 e criação da Petrobras? E entre estas duas questões, quais eram a visão e o sentido dos comunistas em incorporar desde sempre esta batalha em todo o país? Bem, esta luta foi simplesmente decisiva, vitória dos perdedores de 1935 que lutaram contra a deportação de Olga Benário Prestes. Mas agora esmagaram nas eleições, fizeram deputados e senadores e tiveram Yedo Fiúza como terceiro mais votado à Presidência da República – impossível derrotá-los na palavra.


E os fatos de hoje, a oposição ao novo Marco Regulatório, à Petrosal, o que tem a ver com a repressão implacável contra os que lutavam pelo petróleo brasileiro, como Dioclécio? Semelhanças do processo: imediatismo irracional, fome de royalties, submissão histórica e vai por ai. Ora, apesar de Marx escrever que a história não se repete senão como farsa ou tragédia, nada mudou fundamentalmente, é fácil ver as origens da determinação antinacional e submissa dos adversários da nação.


Em Santos, surgia nessa época o Clube de Arte. Artistas, comunistas, líderes operários e comunitários. Clube de Cinema, fundado em outubro de 1948 - Maurice Legeard, Roldão Mendes Rosa, David Capistrano pai, Julio Bittencourt pai na ópera, Corálio – militantes político-culturais. O que essa luta significou para a conquista do monopólio da exploração do petróleo em 1954, na promulgação da Lei 2004 e criação da Petrobras?


E entre estas duas questões, quais eram a visão e o sentido dos comunistas em incorporar desde sempre esta batalha em todo o país? Bem, esta luta foi simplesmente decisiva, vitória dos perdedores de 1935 que lutaram contra a deportação de Olga Benário Prestes. Mas agora esmagaram nas eleições, fizeram deputados e senadores e tiveram Yedo Fiúza como terceiro mais votado à Presidência da República e criaram o monopólio e a Petrobras – de olho no futuro, que não querem os inimigos da partilha e querem dar a concessão.



(*) PAULO MATOS
Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
F 13-38771292-97014788
Email: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=ls&uid=3193061565782244472 Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
F.13-38771292 – 97014788

A UTOPIA MAGISTRAL

''O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer'' (Einstein)

A UTOPIA MAGISTRAL

Paulo Matos (*)


“Utopia” traduz o céu, onde se aboliu a propriedade privada e se aboliu o jogo. A meta social é a utopia, presente neste desenho utópico. Nossos dicionários traduzem a palavra como país imaginário (de More), teoria irrealizável, fantasia, delírio, quimera. Em grego, não lugar (u topus), lugar nenhum. “Sir” Thomas More (1480-1535) escreveu o livro ”Utopia” que nos é próxima, pois teria sido imaginada a partir da ilha brasileira de Fernando de Noronha, em 1516 – onde tudo é de todos. Descreve na primeira parte o estado venal e na segunda a utopia a ser construída. Quer expressar uma vontade contra os desajustes sociais de seu tempo, a Inglaterra de Henrique VIII. Ela expulsava os fazendeiros de suas terras transformadas em pastagens, no império dos nobres.

Para contar sua história, More monta um artifício literário em que um diplomata viajante encontra Giles, um cidadão inglês austero. E Raphael Hitlodaie, em grego “contador de lorotas – um marinheiro que acompanhou Américo Vespúcio em suas descobertas nas suas quatro viagens. Este conta sua história na ilha que descobrira, a ilha mítica de Amaurote (utopia), onde vivera por quatro anos e dizia ser o país perfeito, o reverso, salienta, da Inglaterra de então.


Os soldados que voltavam da guerra tinham como destino a miséria, não existem asilos ou hospitais – os mendigos morriam nas valas em casebres insalubres, mas onde a lei penal era implacável. “Utopia”, no grego, significa “lugar nenhum”, escrito sobre um tempo de tiranos e corruptos. Só dezesseis anos após a morte de More o livro foi publicado em inglês. Com um discurso baseado nos diálogos de Platão, desenha a utopia comunista e igualitária em que todos possuem bens iguais. A ilha é uma família ou um conjunto doméstico, dividido em unidades familiares com vínculos de sangue. Grupos de 30 famílias são governados por “filarcas”, que defendem seus direitos ao trabalho e onde não existe desemprego, um “filarca-chefe” comanda dez grupos, 300 pessoas- e eles escolhem um príncipe.


O povo vive em 54 distritos, cada qual com uma área cultivável em volta, na profissão mais cultuada naquele espaço – a agricultura, mas todos aprendem profissões ou ofícios, em uma terra de poucas leis, pois que assim exige a natureza de seus habitantes. Já neste tempo se compreendia que a lei deveria ser compreendida para ser obedecida. Não há advogados, pois, segundo juízo emitido, “é um tipo de gente cuja profissão é dissimular os fatos e burlar as leis”. Há os executados, mas também meios de recuperação aos infratores, trabalhos forçados sua pena comum.


Antecedendo a Reforma Católica, o livro é liberal em termos religiosos e admite até os ateus. Existe um programa contínuo de educação, mas nem tudo é assim: quem sai de sua cidade pode ser punido como fugitivo ou voltar a ser escravo. Mas More antecipa o estado do bem estar social e sua visão é de vanguarda hoje, imagine-se no século XVI. É um libelo e serviu de base para inúmeros construtores ideológicos de teses libertárias que, como Marx, jamais dispensaram sua leitura. Lá o ouro só serve para fazer urinóis e latas de lixo. É céu, onde se aboliu a propriedade privada e se aboliu o jogo. A meta a utopia. Nossos dicionários traduzem a palavra como país imaginário (de More), teoria irrealizável, fantasia, delírio, quimera. Em grego, não lugar (u topus), lugar nenhum.


(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=ls&uid=3193061565782244472 Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
 F.13-38771292 – 97014788

AUTONOMIA DE SANTOS É O NOVO LIVRO DE PAULO MATOS

AS AUTONOMIAS NACIONAIS DA SANTOS LIBERTÁRIA

Paulo Matos (*)


Este trabalho reporta a história de Santos e os episódios dos cinco momentos históricos da cassação de sua Autonomia política, do direito do povo santista de exercer sua vontade e expressar-se livremente. Proibindo-o de eleger os seus prefeitos, vedando suas Autonomias em 1930, 1937, 1947, 1964 e 1969, na obra trágica da Ditadura Militar imposta em 1964, que registra. E antes, na cassação da Constituição Municipal santista de 1894, cujo veto anulou a Autonomia dos Municípios brasileiros.


A obra abre seu foco inicial sobre a cassação do prefeito eleito em 1968, Esmeraldo Tarquínio e busca compreender a insensatez dos fardados de plantão que destituíram suspendendo seus Direitos Políticos até 1979. Ele estava de volta no lema “começar de novo” em 1982, como candidato a deputado estadual, quando mergulhou na eternidade da história.

Este livro estende a análise para a promulgação e a revogação da Constituição Municipal santista de 1894, episódio único no país de elaboração de uma Carta Constitucional local e democrática, que ratificava a célebre natureza da liberdade e da autodeterminação, pois que afirmava a independência da cidade em relação aos demais poderes governamentais.

A obra conta a história do jornal A Tribuna do Povo fundada neste mesmo ano de 1894 e o órgão que a sucedeu, A Tribuna. Fala do porto e dos perfis econômicos da cidade então em desenvolvimento acelerado e das vitórias do Partido Comunista Brasileiro na cidade e no país nos anos 40, da “Câmara Vermelha” eleita em 1947 e dos personagens desta caminhada.

Este texto escreve sobre a teoria jurídica da Autonomia e os seus principais autores, assim como a história local da luta pela sua reconquista narrando episódios históricos nacionais que tiveram influência sobre a cidade, discorrendo sobre momentos históricos de cada episódio de cassação da Autonomia com destaque para 1968.

Este é o ano da eleição de Esmeraldo Tarquínio e da Revolução Mundial da juventude. Contamos 1969, ano de sua cassação. Fala da passeata santista desse ano e narra a notícia da cassação em fonte primária, assim como teorias jurídicas sobre a Autonomia entrevistando personagens e reportando vítimas do processo.

Era março, 1964. A 26 ocorre a revolta dos marinheiros e fuzileiros. Ela foi apoiada pela CGT, pela UNE e pela Frente de Mobilização Popular. A quebra de hierarquia militar foi esgrimida pelos oficiais golpistas contra o governo. A 31, o Golpe Militar que levaria o Brasil para a Idade Média. Em 1968, a 15, Santos elege o líder negro Tarquínio, a 28 a Ditadura Militar assassina o estudante Edson Luiz.

Cinco anos depois, em 13 de março de 1969, o cinema santista do Gonzaga Iporanga, na tradicional Cinelândia e em frente à resistente Ponderosa, apresentava o filme com Adam West – o Homem Morcego – “Os quatro implacáveis”. Nesse dia, levariam pela quinta vez a Autonomia santista cassando o mandato do prefeito eleito Esmeraldo Tarquínio, que faria 42 anos no dia 12 de abril seguinte.

Eram mais que “Os quatro implacáveis” do filme do Cine Iporanga de 1968 os integrantes do Conselho de Segurança Nacional da Ditadura Militar em 1969, mas o terror era o mesmo. Eles que, sabe-se lá porque, resolveram cuidar das nossas vidas, com brutalidade inerente aos “gorilas” de 1964.


(*) Paulo Matos - Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
 Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
 F.13-38771292 – 97014788

OLIMPÍADAS - MULTIPLICANDO O ZERO

OLIMPÍADAS
MULTIPLICANDO O ZERO

(*) Paulo Matos


A criação dos gregos inventores dessa "democracia" para poucos poderia ter melhor sorte. Falando sério sobre as Olimpíadas, gostaria mesmo é do cumprimento das metas da ONU até 2016. Moradia, saúde, educação, transporte coletivo deveriam ter tratamento mais do que imediato. Já existem verbas? Apliquemo-as, pois nestas prioridades! Não compreendo o por quê em projetá-las para depois dos estádios, que não iam ter nenhum investimento estatal, como os jogos.

Depois, os jogos realizados antes tiveram seus valores multiplicados e um forte cheiro de desvios no ar. Houve agregação de parentes pelos seus dirigentes, com supressão do dinheiro privado e uso exclusivo do público. Os dirigentes incrivelmente são os mesmos. O que se pode garantir é que as pessoas não levam a sério a marginalidade, produto final desta equação equívoca. Assim, nunca sairemos disso. Há sim uma inequívoca estratégia capitalista que visa multiplicar o zero. E uma política em fornecer alegria a quem não tem condições de sorrir. Ah, demos isenção de impostos ao Circo de Soleil!


Paulo Matos - Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
Fone 13-38771292 - 97014788

OS 20 ANOS DA INTERVENÇÃO NO ANCHIETA

TRÊS DE MAIO DE 2009
INTERVENÇÃO NO ANCHIETA, VINTE ANOS A CONCEPÇÃO DA LIBERDADE
FOI EM SANTOS QUE RENASCEU A LUTA ANTIMANICOMIAL NO PAÍS


ANCHIETA, A LIBERTAÇÃO DA TORTURA - I
- Fazendo história

Paulo Matos (*)

“Dizem que sou louco / Por pensar assim / Se eu sou muito louco

Por eu ser feliz / Mas louco é quem me diz / E não é feliz, não é feliz...”


Santos é magistral nas histórias das lutas e conquistas sociais. Já escrevia o autor do romance “A carne”, o principal romance de Júlio Ribeiro, escritor naturalista brasileiro, patrono da Cadeira 24 da Academia Brasileira de Letras: para ele, só aqui poderia ocorrer uma Revolução – isto em 1887 - e foram várias. E só aqui se faria a intervenção no Anchieta, isto em 1989, 200 anos depois da Revolução Francesa.

É este o tema de nosso livro, que conta esta incrível história.

O músico Raul Seixas partiria a 21 de agosto de 1989, mas antes nos premiou com o fundo musical deste filme libertário. Que foi a intervenção pela Prefeitura de Santos na Casa de Saúde Anchieta, há duas décadas, em três de maio. Isto após mostrar os encantos da diversidade, da metamorfose ambulante, do pensamento livre e progressista. Foi em Santos que renasceu para o Brasil a luta antimanicomial no país, escreveu o saudoso Austregésilo Carrano, a cidade que a escreveu - fundamentando sua lei agora novamente debatida, para avançar.

O Anchieta era um local de internação de pacientes de saúde mental. E que conjugava maltratos e sofrimentos com superlotação e total ausência de terapias, um “hospital” de altos muros na Vila Mathias, em que morria gente. Depois da “invasão do bem”, pessoas dançaram e cantaram com Raulzito, fantasiaram-se, pintaram-se e deram vazão a seus sonhos, por conta deste ato da gestão recém-eleita da prefeita Telma - que colocou fim à barbárie em um episódio de repercussão mundial, inaugurando novos tempos.

Há cinco anos foi lançado em Santos um livro, deste autor, que mais uma vez reportava sua história heróica e libertária cheia de exemplos. Mas este não era sobre seus encantos, mas seus horrores e suas soluções advindas da Itália do psiquiatra Franco Basaglia em 1971, mas antes da brasileira profissional rara da psiquiatria Nise da Silveira nos anos 30 – a única de uma classe masculina, a que inovou para além da barbárie vigente na área em todo o mundo, mudando para métodos humanos.

Estes horrores praticados em Santos no Anchieta, fundado em 1951, foram apagados por uma numerosa Ação Popular, organizada em todos os setores profissionais e sociais, eliminando uma chaga da cidade de quase meio século.

Foi em três de maio de 1989 que se revelaria ao mundo a tragédia local do manicômio – aqui na Casa “de Saúde” Anchieta -, instituto mundialmente combatido por amplo movimento social desde Isa da Silveira e passando por Basaglia. Para consagrar-se aqui na que foi chamada por Felix Guatari de a “quarta revolução mundial da psiquiatria”, agregando e inovando métodos multidisciplinares para soluções humanitárias para seres humanos, até 1989 submetidos a choques nada terapêuticos no chão.

Quem ordenou a classificação desta revolução santista –, depois de Pinel, Freud e Basaglia - foi o filósofo francês Felix Guatarri, que veio aqui ver – e com ele o mundo todo – a experiência santista, reportada nos principais jornais e TVs do mundo, do NY ao Los Angeles Times. A obra “Anchieta, 15 anos” – agora vinte - foi lançada dia 25 de outubro de 2004 na Faculdade de Psicologia da Universidade Católica de Santos e na Livraria Realejo.

O livro teve o apoio das ONGS que atuam na luta antimanicomial – assim como em livrarias da cidade e na Capital, na Praça Benedito Calixto. E no SESC, junto com o livro de Carrano Bueno, no lançamento de uma campanha nacional contra o eletrochoque. Iniciado há 10 anos, em 1994, a convite do então prefeito David Capistrano, foi retomado em 2004 e o texto foi editado com o apoio das entidades que atuam na questão.

Em três de maio de 1989 aconteceu uma “invasão do bem”, feita por médicos, psiquiatras e de todas as especialidades, dentistas, psicólogos, assistentes sociais, advogados, parlamentares e militantes sociais que adentraram ao prédio da Rua São Paulo, com jeito de prisão – mas bem pior, interrompendo uma tragédia de onde saiam muitos corpos.

Foi uma libertação não apenas de centenas de pessoas que tomavam choques e surras a pretexto de uma suposta anomalia ou dissidência mental, mas de uma cidade que tinha vergonha e medo da “Casa dos Horrores”, com que se ameaçavam as crianças levadas e bagunceiras. Seus muros impunham medo, como seus gritos. Seu fim tem sons de liberdade e civilidade.


ANCHIETA, A LIBERTAÇÃO DA TORTURA - II
- Fazendo história

Paulo Matos (*)


A “Casa dos Horrores”, como era chamada a Casa de Saúde Anchieta, era um local de internação de pessoas que sofriam de problemas mentais e vivia com pacientes muito acima da capacidade, como vemos nos ônibus lotados. Pessoas que lá eram torturadas, mortas ou degeneradas para sempre pelos choques “terapêuticos”. Ou longas estadas de meses em “chiqueirinhos” de um metro por um metro, escuros e sem quaisquer instalações surras. O gesto da intervenção foi mundial.

Às vezes, os pacientes revoltados, sem comida, acomodações recebiam remédios fortíssimos chamados “sossega leão” e choques elétricos, produzindo a loucura que não curava. Banhos, lazer, terapias eram palavras desconhecidas neste inferno de fome e doenças. A ação santista deu base à legislação nacional de 2001, A Lei 10.216, do deputado Paulo Delgado, limitando estas práticas cruéis no país.

Telma, a dirigente recém-eleita da cidade em 1988, fez como a primeira das ações honrar o compromisso do movimento que era desenvolvido na cidade e que ela fazia parte contra a brutalidade e a violência de centros de tortura que subsistiam na cidade, Vila Mathias. E fechou o Anchieta. São os livros que se preocupam com “os de baixo”. Aliás, são eles que fazem história.

A Intervenção municipal na Casa de Saúde Anchieta foi feita na gestão da prefeita Telma de Souza em Santos (1989-1992). E significou um marco para a cidade libertária e suas vocações expressas nestas batalhas pela vida, saudada mundialmente pelo seu vanguardismo, utilizando as inovações sobre o tema introduzido na Constituição de 1988, possibilitando a ação do Poder Público sobre hospitais psiquiátricos. Foi o primeiro do Brasil e, na sua forma, o mais avançado do mundo.

A intervenção municipal no lotado e doente hospício Anchieta em três de maio de 1989, onde seres humanos eram barbarizados, foi uma experiência inovadora no mundo na área da psiquiatria, da psicologia, da Assistência Social e dos Direitos Humanos, foi mundial e aprofundou a experiência italiana de Trieste de 1971. E consolidou uma estratégia terapêutica alternativa repleta de inovações, ma ótica da intervenção das famílias e da coletividade.

A convivência da cidade com um verdadeiro campo de concentração em pleno bairro da Vila Mathias, com seus gritos e torturas, colocava em questão seu caráter libertário e a legalidade o despejo de centenas de seres humanos. Tratados como animais em situações dramáticas e a presença de “chiqueirinhos” minúsculos de um metro por um metro, sem sanitários, em que pacientes eram castigados e trancados ali até por meses.

O livro de cinco anos atrás comemorou os então 15 anos de um evento de repercussão mundial – a intervenção municipal no manicômio Anchieta, em Santos, com a prefeita Telma e o então secretário de Saúde David Capistrano. E narra o marco inicial da Reforma Psiquiátrica brasileira, na cidade que foi vanguarda nacional dos direitos humanos. E é uma homenagem em vida ao psiquiatra e militante Domingos Stamato, alma e espírito da obra em que atuou como no episódio histórico.

O Anchieta era propriedade do psiquiatra Edmundo Maia, que foi assessor de Saúde Mental do presidente Jânio Quadros. Mantinha em Santos um manicômio bem diferente daquele que possuía em Taboão da Serra, em que estiveram internados Paulo Coelho e Raul Seixas, o “Raulzito” - que morreu em 21 de agosto de 1989, o “maluco beleza” foi o “fundo musical” da intervenção.

Stamato, junto com a psicóloga e professora Isabel Calil, participaram da retomada do movimento antimanicomial brasileiro nos anos 80 em Santos, cidade em que ressurgiu a luta contra os manicômios no país - como atestou o escritor e militante Austregésilo Carrano Bueno – já falecido -, no livro “Canto dos malditos” – que deu no filme mais premiado do país, “O bicho de sete cabeças” – uma das maiores senão a maior obra sobre o tema. O livro traz esta e todas as histórias das lutas, teorias e tragédias dos hospícios brasileiros, uma batalha retomada no combate as torturas da Ditadura Militar e que persistiram após seu fim.


ANCHIETA, A LIBERTAÇÃO DA TORTURA - III
- Fazendo história

Paulo Matos (*)


“Se eles são bonitos, sou Alain Delon / Se eles são famosos, sou Napoleão / Mas louco é quem me diz / Que não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor / não ser o normal / Se eu posso pensar que Deus sou eu e Brrrrr...”
(Raul Seixas)


A intervenção municipal no Anchieta, a primeira em um hospital no Brasil, teve como participante essencial o advogado Sérgio Sérvulo da Cunha, ex-chefe de gabinete do ministro Márcio Thomaz Bastos, então vice-prefeito e secretário de assuntos jurídicos, que faz seu depoimento e alinha as ações tomadas e a base constitucional destas ações. À época, sua edição teve apoio das ONGs Fórum de Saúde Mental, Maluco Beleza, Diferente Cidadão, Sem Grilo na Cuca, Franco Rotteli e ALIA / Associação libertária da infância e adolescência – uma entusiasmada gente humanitária.

Santos, a terra da caridade e da liberdade, como diz seu brasão, produziu um episódio de repercussão mundial - e que esteve presente em todas as televisões e jornais de todo o país e do exterior, do New York Times ao Miami Herald e Los Angeles Times -, agora reportado no livro sobre os 15 anos da intervenção municipal na Casa de Saúde Anchieta.

Objeto de denúncias há décadas, como a deste autor no jornal universitário “Entrevista” da Faculdade de Comunicação da Unisantos, então estudante de Jornalismo, em 1982, sete anos antes da intervenção municipal, no Anchieta ocorreram 50 mortos em apenas três anos, episódios que e acumulavam nas semanas anteriores à intervenção.

O Anchieta tinha problemas de superlotação e falta de pessoal (quase 600 pacientes em pouco mais de 200 vagas, vítimas de eletrochoques brutais e violências diversas desde a falta de alimentos e condições mínimas de vida) e nenhuma atitude do Estado ou da cidade.

Era o hospício apelidado de “Casa dos Horrores”, um pesadelo antigo para Santos – um dos mais cruéis do sistema existente no país e que a partir desse ato sofreu uma radical transformação, culminando doze anos depois com a Reforma Psiquiátrica na Lei federal 10.216, do deputado do PT mineiro Paulo Delgado, em seis de abril de 2001.

A Lei da Reforma Psiquiátrica foi inspirada na Lei 180, a Lei Basaglia de 1978, nos princípios da Organização Mundial de Saúde – avançando sobre as normas legais da época fascista que vigiam o Código Civil de 1916 e o Decreto-lei 24.599, de 3/7/1934. Dando início ao que seria a coroação de um processo mundial que se desenvolvia desde os anos 40 no mundo e que desde os anos 80 foi retomado em Santos para o Brasil.

O livro busca o resgate dos Direitos Humanos na causa da luta pela dignidade humana, contra os eletrochoques e abusos medicamentosos ocorridos na cidade e no país, em que ainda ocorrem aplicações desta “terapia” (o eletrochoque, aplicada aleatoriamente como os choques torturas da Ditadura Militar. Descoberto como método de amansar porcos para o abate “descoberto” pelos psiquiatras italianos Ugo Cerletti e Lucio Bini em 1938, à moda fascista.

O texto conta a inacreditável história dos 38 anos em que existiu a chamada “Casa dos Horrores”. E a tradição autoritária da psiquiatria institucional desde seu surgimento na Revolução Francesa, quando Phillipe Pinel separou os “loucos” dos marginais instituindo o manicômio. Registra a caminhada das lutas antimanicomial no mundo, no país e em Santos, assim como a política de Saúde Mental do Governo Lula, no exemplo de Santos, na marcha para a extinção dos manicômios.



ANCHIETA, A LIBERTAÇÃO DA TORTURA - IV
- Fazendo história

Paulo Matos (*)


“É você olhar no espelho / Se sentir um grandessíssimo idiota

Saber que é humano, ridículo, limitado / Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal / E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial

Que está contribuindo com sua parte / Para nosso belo quadro social...”


O autor da reforma psiquiátrica francesa Felix Guatarri, que como outras dezenas de personalidades de diversos países, a exemplo dos psiquiatras italianos Franco Basaglia e Franco Rotteli, estiveram em Santos para conhecer a experiência, chamou esta intervenção (a primeira do país em um hospital) de “a quarta revolução mundial da psiquiatria”.

As “quatro revoluções” foram as de Pinel, Freud, Basaglia e Santos, nessa ordem, aqui com participação popular permitindo sua concretização, ampliada em relação às demais. Santos extinguiu o manicômio através de um amplo programa alternativo e descentralizado em 1/3 do tempo do exemplo modelar de Trieste, na Itália, realizado por Franco Basaglia – de quem foi estagiário o diretor do programa santista, o psiquiatra Roberto Tykanori Kinoshita.

A intervenção no Anchieta concretizou as teses que reuniam militantes no mundo desde os anos 40, na teoria de Cooper e Laing, entre um contingente de profissionais que hoje aplica as lições de Santos no país, motivo de dezenas de teses universitárias. a crueldade dos manicômios brasileiros está descrita nos relatórios das caravanas nacionais de direitos humanos realizadas no governo Lula, descritas no livro, sob o comando do coordenador nacional de Saúde Mental - e antigo militante antimanicomial -, Pedro Delgado.

O livro, que traz na abertura a célebre carta de Antonin Artaud aos diretores dos manicômios, contestando a barbárie secular, registra os 15 anos da intervenção municipal na Casa de Saúde Anchieta, um hospício que existia em Santos desde 1951 e cujas práticas feriam os direitos humanos. A intervenção colocou Santos na vanguarda mundial da Saúde Mental. Sua capa é do renomado escultor e pintor Luiz Garcia Jorge, há 44 anos trabalhando na região. E formado na Escuela Superior de Belas Artes de Barcelona, com mais de 30 esculturas em áreas públicas nas cidades da Baixada Santista.

“Anchieta, 15 anos” tem diversos depoimentos de personagens que atuaram no processo. O livro possui 175 páginas e 60 capítulos da história da luta antimanicomial em Santos e no Brasil - na união de militantes reunidos na ARTSAM - Associação dos Trabalhadores da Saúde Mental, como Telma e o saudoso líder e psiquiatra Domingos Stamato, desde os anos 80. Foram os reconstrutores da luta antimanicomial no país.

A obra é um abrangente resgate desta trajetória histórica de defesa dos Direitos Humanos no país, ápice da luta antimanicomial, significado neste ato de repercussão mundial e que trouxe a Santos personalidades internacionais, na senda da extinção dos manicômios que Santos colocou em prática.

Na marcha da luta da chamada “psiquiatria democrática”, que Santos retomou no Brasil nos anos 80, na defesa do atendimento descentralizado e alternativo em oposição aos asilos cruéis e excludentes. O livro traz as reportagens no dia-a-dia destes tempos, ano a ano, de 1989 a 2004, repercutindo a intervenção e suas conseqüências na modificação dos paradigmas da Saúde Mental no país. Como na implantação de programas pelo Governo Lula, que citou a referência santista de Telma.

O livro comenta a Reforma Psiquiátrica brasileira de 2001 e traz os principais nomes da psiquiatria mundial e brasileira. Estão presentes desde os criadores dos métodos violentos de “tratamento” dos problemas mentais, como os que foram banidos de Santos apesar da resistência às mudanças.

Benjamim Rush, importante psiquiatra americano, avalie-se, dizia que os negros tinham lepra e que era preciso submetê-los para curá-los. Os continuadores brasileiros dessas políticas que traziam a violência como sua essência, Franco da Rocha e o Edmundo Maia local, o antigo diretor do Anchieta dos horrores.

A obra também destaca os reformadores da matéria, do italiano Franco Basaglia a Nise da Silveira. Era a psiquiatra antológica que desde os anos 30 propunha as reformulações – terapias alternativas, sem choques nem operações cerebrais. Concretizadas no modelo exemplar de Trieste promovido por Basaglia, que destruiu o manicômio - além as teorias do (anti) psiquiatra americano Thomas Szasz, que identifica a psiquiatria institucional como herdeira da Inquisição e da escravidão.

Trazendo as lições de Michel Foucault e o relato das infrações aos Direitos Humanos nos manicômios brasileiros, reveladas nas ações das Caravanas dos Direitos Humanos executadas pelo Ministério da Saúde e diversas entidades, no Governo Lula – que tinha o setor da Saúde Mental dirigido por um antigo militante antimanicomial, Pedro Delgado.

O livro revela ainda as questões jurídicas da questão e os princípios constitucionais que possibilitaram a intervenção, a primeira em um hospital no Brasil, no processo comandado pelo jurista Sérgio Sérvulo da Cunha, que entrevistamos. E comenta o Taylorismo, o sistema econômico gerando loucura. Machado de Assis, Hermann Hesse e Gabriel Garcia Márquez estão comentados em suas referências à questão, assim como a “industrialização” dos manicômios pela Ditadura Militar com fins econômicos e políticos destes contribuintes da tortura.

O livro traz ainda o comentário sobre os filmes que abordam a questão secular. O direito de indenização às vítimas dos eletrochoques, na proposta de Carrano Bueno – o herói da luta que nos deixou -, está considerado, em se historiando o método desde sua invenção nos anos 30 por Cerletti e Bini.

O objetivo do livro, mais uma tarefa de militância política, foi contribuir para a causa antimanicomial e a defesa dos Direitos Humanos, projetando Santos no país e no mundo no campo da vanguarda dos direitos sociais. Eles se exigem registrados por quem leva a história a sério, nessa derrubada dos pilares centrais do sistema econômico de opressão e exploração - oferecendo novos rumos para a sociedade humana.


O AUTOR


Paulo Matos é Jornalista, historiador pós-graduado e bacharel em Direito, formado pela Universidade Católica de Santos. Assessor de Imprensa e escritor de livros editados em Santos e de centenas de crônicas publicadas em jornais e revistas, seu último livro foi lançado em 2004 no tema da luta antimanicomial - cujo ato faz duas décadas - foi “Anchieta, 15 anos – a quarta revolução mundial da psiquiatria”, no registro do ato que resultaria na Reforma Psiquiátrica brasileira, foi militante político do movimento estudantil e popular desde a puberdade.

Matos é autor de livros sobre transporte coletivo urbano, (“Transporte coletivo em Santos, história e regeneração”, editado pela Prefeitura de Santos, no governo do Prefeito Oswaldo Justo, em 1987). E sindicalismo portuário (“Caixeiro, conferente, Tally Clerk – uma odisséia em um porto do Atlântico”), uma detalhada história da construção sindical escrito junto com o também jornalista Mauri Alexandrino, editado em 1996 pela Prefeitura de Santos, Prefeito David Capistrano.

Paulo Matos é autor também de ensaios sobre arquitetura (“Santos, Jurado - a ilha e o novo”, sobre o arquiteto e construtor do edifício Verde Mar em Santos e de uma dezena de prédios em São Paulo, que o tornaram famoso pelo estilo arquitetônico, João Artacho Jurado), editado em 1996. E ganhou o Prêmio Estadual Faria Lima de História em 1986, promovido pelo Governo do Estado – em um trabalho que conta a trajetória do movimento operário livre em Santos desde seu nascimento após a Abolição, fins do século XIX, intitulado “Santos Libertária”.

“Santos libertária, imprensa e movimento operário, 1879/1920” havia sido seu Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo, sendo depois ampliado e apresentado como sua monografia de pós-graduação em história em 1992 - depois de ganhar o prêmio estadual Faria Lima de história em 1986, registrando os cem anos da primeira greve geral brasileira em 1891.

Até hoje o jornalista busca patrocínio para publicação da obra histórica inédita sobre o período em que se originaram os sindicatos no Brasil e em que Santos era um dos três principais pólos nacionais, chamada "Barcelona Brasileira". É a primeira obra sobre o tema do sindicalismo livre e sua feição anarquista, que sucumbe nos anos 30 sob o peso da repressão e do sindicalismo oficial.

Formado em Direito em 2002, Matos apresentou como Trabalho de Conclusão de Curso a monografia “Catracas, cobradores e direitos sociais”, em que mostra todas as infrações legais praticadas pelos empresários do sistema de transporte coletivo em Santos - de cuja luta participou há 20 anos, como membro da coordenação da Associação dos Usuários, tendo sido vítima da Lei de Segurança Nacional em 1984.

Como militante estudantil e da organização popular, foi o coordenador da legalidade dos ambulantes de praia em Santos e de sua legalização pela primeira vez no país, em uma luta iniciada em 1983 e conquistada em 1986 que abriu centenas de vagas de trabalho. Membro da coordenação da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo, em 1984, foi indiciado na Lei de Segurança Nacional, então o último do país, anistiado político em 1998.


(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
 F.13-38771292 – 97014788


*****


RAUL SEIXAS, O SOM DO ANCHIETA

“Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar...”

“Dizem que sou louco
Por pensar assim
Se eu sou muito louco
Por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz...”

“Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
Que não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor / não ser o normal
E eu posso pensar que Deus sou eu e Brrrrr...”

“Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão”

“É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social”

“Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar...”

“Eu sou a mosca da sopa / E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão
Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar
“Eu prefiro ser/Essa metamorfose ambulante
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”

Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada

Por que você me pergunta
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar

Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim

Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor

Eu sou a dona de casa
Nos pegue-pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo
Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio

Eu sou o início, o fim e o meio...

PETRÓLEO DO PRÉ SAL: QUANDO NOVEMBRO CHEGAR

PETRÓLEO DO PRÉ SAL: QUANDO NOVEMBRO CHEGAR


Paulo Matos (*)


Dia 10 de novembro de 2009 chega para votação no Congresso o novo marco regulatório do pré sal. Não é o de 10 de agosto de 1937 do “Estado Novo” fascista do ex-presidente Getúlio Vargas, cuja presença foi vital para aprovação do monopólio da Petrobras e de sua criação em outubro de 1954, ditador eleito que foi. Seria um grande embate, não fosse a pequenez colonizadora fora de época que quer dominar nossos recursos. É o mês de Zumbi dos Palmares na Serra de Alagoas, libertando a escravidão. O embate desta vez tem até Assessoria Externa, multinacional, para derrubar o Brasil.

Esta era não é o do golpista Vargas de 1930. E nem o fascista de 1937, do Estado Novo. Mas do patriota de 1954, do nacionalista Vargas, o estadista que deu sua vida ao país. Vale lembrá-lo agora como a Deoclécio Santana, mártir santista-sergipano da luta em setembro de 1949. O presidente da Comissão Especial que trata do Projeto de Lei - que institui o modelo de partilha na exploração do petróleo e gás - calcula que o relatório será apresentado na próxima quarta-feira, dia 21, com espaço para dois dias de discussões. Na semana seguinte votam-se os destaques encerrando os trabalhos da Comissão no dia 5.

Foi cruel a decretação do nosso atraso, pelo que pagamos até hoje. Os Estados Unidos em 1927 tinham quase um milhão de poços. Em 15 anos, abrimos 65 poços, eles 380 mil. Foram 70 poços abertos por dia nos EU, nós quatro por ano, impedidos e reprimidos. São dados do livro “O escândalo do petróleo e do ferro”, de Monteiro Lobato.

Configuradas as razões do nosso atraso em relação aos Estados Unidos, se pode dizer impulsionado por interesses daquele país que encontraram emissários dispostos a fazer o papel de retardar nosso processo, reversamente temos agora um governo popular, que vai administrar da melhor maneira possível a necessidade de 600 milhões de dólares para esta exploração finita. E que se esforça por rejeitar estes ideólogos do atraso e da submissão, que persistem.

Quando da batalha terminada em 1954 pela criação da Petrobras, após intensa peleja com os representantes de Rockfeller e da Standard Oil, como nos conta Lobato, foi possível a Vargas - que durante algum tempo rejeitou esta batalha e não a viu logo – encampá-la - ele que mandou a Lei 2004 ao Congresso quando poderia decretá-la, aprová-la POR UNANIMIDADE. Hoje, as pessoas perguntam o porquê de existirem inimigos do sistema de partilha, que o Governo quer introduzir. As idades destes adversários não são as do Brasil ou do mundo, mas as suas próprias e exigem exaurir e usufruir a renda do ouro negro no limite delas, pela concessão. Dinheiro rápido!

O contrato de risco nestes casos é como aquele concurso de fartos, de ricos em fim de ano, em que todas as escolhas dão prêmios. Não é para descobrir, é para achar. Os que defendem sua entrega aos estrangeiros não são brasileiros, não vislumbram o futuro, não tem visão de um tempo do petróleo no final dos tempos, o que se enquadra em tempos de crescimento brasileiro com suas prioridades sociais. Que se executarão com ele.

A alteração do modelo regulatório que rege o setor a descoberta de se deve aos volumes expressivos (e de baixo risco de exploração) no pré-sal, sem mudar o sistema em relação aos contratos em vigor. O modelo a ser adotado é aquele vigente em 76% do petróleo mundial, não é novo nem criação do PT. E já não existe a realidade de 1997 quando o monopólio foi, no dizer tucano, “flexibilizado” sob a lei 9.478, que estabeleceu o regime de concessões no Brasil.

Soberania nacional e empresas incentivadas estão na pauta. O Governo federal deu à Petrobras o papel de controle para expansão do desenvolvimento do País e no incentivo à indústria nacional, para este desenvolvimento ficar aqui, ajudando nossas pessoas vitimadas por ser colônia sempre, descoberta por um país já sob domínio inglês. Por isso, a Petrobras será operadora única do sistema. Menos de 30% da área do pré-sal está concedida e nos 70% restantes o Estado tem soberania para decidir o que fazer com o que ainda não está licitado. Não vamos ser mais campeões apenas no futebol e fornecer craques para o mundo. Vamos explorá-lo como gente grande.


(*) Paulo Matos, jornalista, bacharel em Direito e Historiador pós-graduado, está escrevendo o livro "Verão Vermelho - os 60 anos da manifestação santista do movimento "O Petróleo é nosso", em 1949, que teve como mártir santista Deoclécio Santana.

E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
F.13-38771292 – 97014788

domingo, 11 de outubro de 2009

POUCA FARINHA

POUCA FARINHA

Paulo Matos (*)


Na fonte, uma placa: "Dona Noquinha e moradores desta praia ficam gratos pela valiosa doação dos irmãos Rafael e Modesto Roma. Deram à pobreza a maior riqueza: Água. 31-5-1953". Era o benefício construído pelos herdeiros dos antigos proprietários da área da Pouca Farinha, a família Modesto Roma.

Parte da área era do Serviço de Patrimônio da União e foi um dos primeiros núcleos visitados pelos portugueses no Brasil após a descoberta, o primeiro em nosso litoral. A expedição denominadora parou lá antes de vir para o porto de São Vicente, do lado de cá.

O núcleo é uma ocupação iniciada em torno do forte de Santo Amaro, construído ao lado em 1584 pelos espanhóis para defender a costa de piratas, cedido ao Circulo Militar em 1956 e retomado pela União em 1969. Ocupado no final dos anos 30 e é um favelão a beira-mar, com casas de concreto e de madeira que ainda hoje cresce com construções clandestinas feitas à socapa durante a noite, com pescadores e pequenas plantações.

Os moradores, hoje em torno de cinco mil, bebiam água da nascente antes da fonte e aguardam há décadas pelas melhorias prometidas – como uma estrada que a SUDELPA iria fazer ligando o núcleo à praia do Guiúba. Servida por barcas, água e luz mais posto policial, a comunidade fundada por pescadores vive e se desenvolve. Logo, a poluição gerada pela dragagem do porto eliminará os meios de sobrevivência de milhares, ali e em todo o litoral.

A fortaleza se ergueu durante a dominação espanhola sobre Portugal, no reinado de Felipe II da Espanha e I de Portugal. Antes, em 1583, o pirata Edward Fenton havia invadido a costa, depois Cavendish. Foi reconstruído em 1725 e seu patrono Santo Amaro (ou Mauro) se tornou santo por andar sobre as águas. Deveria ser patrono dos salva-vidas. Sua data é 15 de janeiro e nasceu no século VI, filho do senador romano Antichio.

Nos anos 50 a fortaleza recebia centenas de visitantes semanais e estava sendo restaurada, no esforço do então presidente do Circulo Militar ali instalado Rodolfo Petená, capitão reformado do Exército. Hermenegildo José de Oliveira, antigo zelador do Forte nessa época, como nos contou seu neto – o psicólogo Rivaldo Leão -, fez pesquisas arqueológicas no local - em que atuou na restauração do local feita com base em rifas feitas e vendidas por Petená, naquela considerada principal construção militar do estado.

O primeiro povoador da área foi Jorge Ferreira, que chegou junto com Martim Afonso em 1532 e o núcleo teve construída uma capela em homenagem a Santo Amaro. Que apesar de ter desabado e outra ter sido feita em seu lugar continuou com o nome original, mesmo após a concessão da capitania a Pero Lopes de Souza, irmão de Martim Afonso.

A fortaleza da Barra Grande ou e Santo Amaro, que escapou de ser de São Miguel, caiu em desuso militar em 1911 – quando teve como último comandante o capitão Souza Filho, sendo transformado em posto fiscal e depósito de pólvora. A construção pelos espanhóis da fortaleza que reuniu a comunidade local decorre de uma circunstância de poder, que delegou à Espanha a posse de Portugal por 60 anos.

Essa circunstância decorreu da aventura diplomática do século XVI, quando o reino português é colocado pelo jovem rei D. Sebastião em uma encruzilhada após este levar à morte toda sua família em uma viagem de conquista a Alcácer Quibir, em Marrocos. O sucessor mais próximo do reino era Felipe II da Espanha, que se tornaria o I de Portugal, pois era neto do ascendente D. Manuel, “o venturoso” com a rainha Isabel. Essa situação de dependência perduraria até 1640. Dela nasceu a Pouca Farinha.


Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos
Fone 13-38771292 - 97014788