sábado, 17 de outubro de 2009

PETRÓLEO, REPORTAGEM E RESGATE/LUX IN TENEBRIS I E II

PETRÓLEO, REPORTAGEM E RESGATE / lux in tenebris  I


Paulo Matos (*)

“Herói, que coisa tão simples, tão grande e tão difícil! Herói, que palavra mais linda! Só o povo, amiga, concebe, alimenta e cria o herói, que nasce de suas entranhas, que são as suas necessidades. O herói está na frente do povo quando ele se levanta, conquistando sua liberdade. Eterno no mundo, amiga, só o povo e a memória de seus heróis e poetas. É curto o tempo dos tiranos, é curta a noite da escravidão. É bela a manhã da liberdade que vale a pena morrer por ela, dar a vida pela certeza de que ela vem, quer chegará para os homens...” (Jorge Amado, introdução do livro “O Cavaleiro de Esperança Luiz Carlos Prestes”, 1942)

O jornal da cidade por seu ousado editor, jornalista maduro e cultor de Santos e do Santos, foram elementos somados para concretização da exposição desta história épica da luta O PETRÓLEO É NOSSO na cidade, há 60 anos. O herói que resgatamos como compromisso, no evento da sua morte na data de 30 de setembro de 1949, era um migrante com cinco filhos, militante do PCB.

Estava na faixa dos quarenta e morava no morro – militante da luta “O petróleo é nosso”, de nome Deoclécio, assassinado. Como na frase do recente Festival de Curtas, na área do cinema que nasce nessa época em Santos com Maurice: sua batalha era como a luz nas sombras, nesse renascimento de pós-guerra e da derrota (?) nazi-fascista, presente aqui. O petróleo existia e era do povo. Mas era preciso lutar por ele. Como agora pelo pré-sal.

Os registros mostram ser Deoclécio um líder, com participação social antiga até em lutas de caráter internacionalista. Como na greve contra os navios espanhóis do ditador fascista Francisco Franco -, pelo que foi preso em 1946, a 11/3. A riqueza que o país e a cidade anotam hoje deveu a ele, que não teve tempo de ter medo. Deoclécio Augusto Santana era morador do Morro da Penha e sergipano, “estrangeiro” de Camus como o presidente de Pernambuco. Mas homens existem em toda parte, derrubando fronteiras, trazendo sua força, a dos “de baixo”, das raízes populares.

Que razões levam alguém a ser herói assim, Don Quixote tropical igual a muitos que nunca tiveram expostos seus atos, substituídos por falsos líderes? Era de contestação o ambiente intelectual existente em Santos à época da morte de Dioclécio Santana. O comício na bacia do Macuco era do movimento “O petróleo é nosso”, pró-Petrobras, com ordens de proibição do governo aplicadas pelo DOPS – Delegacia de Ordem Política e Social. Era organizado pelo PCB, no movimento nacionalmente incorporado por parlamentares do PSB.


Aqueles homens faziam isto porque não eram seres comuns, eram os que ousaram lutar e ousaram vencer. E que vislumbraram a riqueza do coletivo, das massas. Uma luta da terra de Aldo Ripasarti e dos fundadores do Cento de Defesa do Petróleo em Santos em fevereiro de 1949, de que ele foi presidente, em tempos que pensar grande era crime. O pai de FHC, me contou o Júlio Bittencourt pai - o General Leônidas Cardoso - esteve por aqui nessa luta, veja você.


O PCB propôs agora um amplo movimento de massas que exija a convocação de um plebiscito para que o povo brasileiro se pronuncie soberanamente sobre a reestatização da Petrobras. Palavra da história, reeditando a batalha que resultou no Projeto de Lei 1.516 de dezembro de 1951, vitorioso na Lei 2004 de 1954. Uma luta de massas cujas raízes não podem ser esquecidas, que encontra seu momento preciso como Don Bosco, que viu o petróleo da Itália antes dele ser descoberto, sem nunca ter vindo aqui. O sonho, sempre, era concretizar a construção de uma sociedade farta, socialista e igualitária, com Pão, Terra e Liberdade. Era o lema da derrotada Revolução de 1935, que faremos.

(*) PAULO MATOS Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
Fone 13-38771292-97014788
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PETRÓLEO, REPORTAGEM E RESGATE - lux in tenebris - II

Paulo Matos (*)

A luta do “Petróleo é nosso” era do tempo do renascimento cultural do pós-guerra, agora fria, da arte, dos comunistas em alta na cidade e no país. Eles faziam 14 vereadores em novembro de 1947 – mais dois na aliança com o PSB, alcançando a maioria dos 31. A visão dos comunistas que incorporaram a luta era social, coletiva e de futuro, valores inerentes à causa.


Foram cassados todos os eleitos, é claro, na “Cidade Vermelha” e no país inteiro, cidade que já fora a heróica “Barcelona Brasileira” operária. Nas eleições de 19 de janeiro de 1947 para a Assembléia Legislativa, o Partido Comunista Brasileiro foi o mais votado de Santos. E elegeu seu candidato, o professor e poeta Taibo Cadórniga, deputado estadual.


Eram tempos agitados estes de 1953, em que o Presidente Vargas cria a Petrobrás, a Lei 2004. Era o ano da morte do Presidente Stalin em cinco de março, ele que dirigira a poderosa União Soviética por 29 anos. Em 19 de junho, nos Estados Unidos, eram executados Julius e Ethel Rosemberg na cadeira elétrica por suposta espionagem para a URSS de conhecimentos sobre a bomba atômica. Era a “Guerra Fria” entre as superpotências.


Em 27 de julho, depois de três anos de combate e cinco milhões de mortos, é assinado o armistício entre China e Coréia do Norte com as Nações Unidas para por fim a guerra. Eram agora duas as Coréias e o Japão, que financiou os armamentos, retomava seu desenvolvimento econômico. No Brasil era instalada a Volkswagen em 15 de março, em 29 de abril ganhava a Palma de Ouro o filme de Lima Barreto “O Cangaceiro”. O país assumia a consciência de sua grandeza e autonomia nacional, desprezando seu passado colonial e dependente.


Aqui, o PCB conseguira nas eleições de 1947 quase 28% dos votos e conquistava, pela legislação vigente, 45% das cadeiras. Santos foi uma das cidades que mais elegeu vereadores do PCB no país, apesar das restrições. E teria um prefeito comunista eleito em 9/11/1947 – Leonardo Roitman - se a Autonomia não fosse cassada antes, no Projeto de Lei 748-B, em 22/10 desse ano. Mas ele foi o vereador mais votado proporcionalmente da história de Santos, com cerca de 6% dos votos.


Fatos locais refletem o mundo. Prestes, Portinari. Guerra Fria, o PCB cassado em todo o país em 7/5/1947. Felix, Veloso, Claudio Ribeiro, personagens de Santos. Era tempo da poesia e da literatura, de Patrícia Galvão, dos sindicatos e teatros, da poesia. Era o tempo da idéia, da cultura e da expressão popular. Dizia-se que qualquer um que não fosse idiota era comunista, era até moda “chique”. Mas tinha sentido humano. Clube de Arte. Artistas, comunistas, líderes operários e comunitários. Clube de Cinema, fundado em outubro de 1948 - Maurice Legeard, Roldão Mendes Rosa, David Capistrano pai, Corálio – militantes político-culturais.


O que essa luta significou para a conquista do monopólio da exploração do petróleo em 1954, na promulgação da Lei 2004 e criação da Petrobras? E entre estas duas questões, quais eram a visão e o sentido dos comunistas em incorporar desde sempre esta batalha em todo o país? Bem, esta luta foi simplesmente decisiva, vitória dos perdedores de 1935 que lutaram contra a deportação de Olga Benário Prestes. Mas agora esmagaram nas eleições, fizeram deputados e senadores e tiveram Yedo Fiúza como terceiro mais votado à Presidência da República – impossível derrotá-los na palavra.


E os fatos de hoje, a oposição ao novo Marco Regulatório, à Petrosal, o que tem a ver com a repressão implacável contra os que lutavam pelo petróleo brasileiro, como Dioclécio? Semelhanças do processo: imediatismo irracional, fome de royalties, submissão histórica e vai por ai. Ora, apesar de Marx escrever que a história não se repete senão como farsa ou tragédia, nada mudou fundamentalmente, é fácil ver as origens da determinação antinacional e submissa dos adversários da nação.


Em Santos, surgia nessa época o Clube de Arte. Artistas, comunistas, líderes operários e comunitários. Clube de Cinema, fundado em outubro de 1948 - Maurice Legeard, Roldão Mendes Rosa, David Capistrano pai, Julio Bittencourt pai na ópera, Corálio – militantes político-culturais. O que essa luta significou para a conquista do monopólio da exploração do petróleo em 1954, na promulgação da Lei 2004 e criação da Petrobras?


E entre estas duas questões, quais eram a visão e o sentido dos comunistas em incorporar desde sempre esta batalha em todo o país? Bem, esta luta foi simplesmente decisiva, vitória dos perdedores de 1935 que lutaram contra a deportação de Olga Benário Prestes. Mas agora esmagaram nas eleições, fizeram deputados e senadores e tiveram Yedo Fiúza como terceiro mais votado à Presidência da República e criaram o monopólio e a Petrobras – de olho no futuro, que não querem os inimigos da partilha e querem dar a concessão.



(*) PAULO MATOS
Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito
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