sábado, 17 de outubro de 2009

A REVOLUÇÃO DE 1935

A REVOLUÇÃO DE 1935

Paulo Matos (*)

Neste dia 27 de novembro de 2009 registramos os 74 anos da Revolução de 1935. Um episódio pouco conhecido e ensinado e, quando isso é feito, impõem-se deformações frutificadas da época de graves contradições ideológicas entre os donos do poder e os revolucionários, que tinham expressiva atuação política no Brasil.

Essa Revolução chegava propondo reformas sociais, econômicas e políticas de que o Brasil carece até hoje: aumento de salários, nacionalização das empresas, proteção da pequena propriedade, defesa das liberdades públicas, sob o lema “Terra, pão e liberdade”.

Presente no livro das Autonomias de Santos, deste autor – “Santos, 115”, esta leitura da chamada “Intentona” comunista de 1935 foi uma tentativa de mudança política do país que, por sua extensão territorial e múltiplas realidades. Todo este processo de luta popular tem uma raiz histórica que passa pela derrota em 1935.

A Revolução de 1935 foi um movimento que, para crucificar seu significado, foi batizado de “Intentona Comunista” pelos setores dominantes da direita, “intentona”. Que em espanhol significa “instinto louco” ou “plano insensato”. Mas a Revolução de 35 no Brasil, da Aliança Nacional Libertadora – ANL – foi, na verdade, muito mais do que isso.

Na verdade, o movimento foi uma Frente Popular para combater o nazi-fascismo e fazer a revolução socialista, humanizando uma sociedade cruel e desigual, o primeiro e maior movimento popular de caráter nacional no Brasil. A palavra revolução tem hoje o sentido contrário de seu significado etimológico latino, em que “revolutio” se traduz como retorno ou volta. Mas revolução é futuro.

Segundo Emannuel Kant, a revolução é uma força necessária no processo evolutivo da humanidade, desde que seja real e transformadora das estruturas sociais. É o passo decisivo embora doloroso, escreve Kant, para construção da nova sociedade em bases éticas superiores.

É a ruptura da ordem social vigente e suas condutas consideradas normais no modo de pensar, crer e agir. A ANL foi a primeira organização política nacional das classes populares em mais de quatro séculos, escreveu Ronald H. Chilcote na Universidade da Califórnia em 1974, no livro “The Brazilian Communist Party – 1922/1972”.

Criada na onda das frentes populares européias, a Revolução de 35 recebeu apoios do rio grande do norte e Pernambuco e reagia contra um Brasil oligárquico e cruel com as maiorias. Era liderada pelo Partido Comunista Brasileiro, então “do Brasil”, cujo diferencial da história da esquerda no país era a prática da organização sem o empirismo da agitação política sem alvo objetivo, procurando superar as lutas anarquistas.

A história da Revolução de 1935, cuja data em 27 de novembro de 2009 registra os 74 anos de ocorrência, é uma história que os livros oficiais ou não contam ou deturpam drasticamente, sem revelar a barbárie da repressão sanguinária que se seguiram contra os que queriam evoluir a sociedade dos seus antigos marcos herdados.

Durante toda a idade média, pensamento que herdamos, considerou-se justa a desigualdade em favor da nobreza e do clero, o que se modifica com as revoluções inglesas de 1640 e francesa, 1789 – abrindo as portas para a transformação mundial que 1935 ousou.

Com seu esmagamento, o Brasil perdia sua oportunidade de crescer com igualdade, captando o sonho da solidariedade social em um dos maiores países do mundo com uma Frente Popular. Seu Presidente de Honra era Luiz Carlos Prestes, antigo líder da Coluna Tenentista que percorreu o Brasil de 1925 a 1927 sem uma única derrota, na defesa de reformas sociais que beneficiassem as maiorias. Preso em 1935, seria libertado com base na Lei de Proteção aos Animais pelo advogado Sobral Pinto.

Então com 38 anos, nascido em 3/1/1898, engenheiro pela Escola Militar do Rio de Janeiro em 1919, Prestes era Capitão-engenheiro em Santo Ângelo, RGS, no quartel que rebela. E se junta com Miguel Costa na famosa Coluna, em 1925. È em 1927 seu contato com Astrogildo Pereira, ex-anarquista fundador do PCB em 22, que o traz para a causa comunista.

Em 1929 Prestes é convidado pelo PCB para disputar a Presidência da República, não conseguindo um consenso entre os tenentes da Coluna. E deixa eleger Julio Prestes, da oligarquia paulista. Convidado por Vargas para a direção militar da Revolução de 1930, manifesta sua recusa através de um manifesto em abril.

Vitorioso o movimento de 1930, é preso em Buenos Aires. Quando sai da cadeia se filia ao PC. Convidado novamente por Vargas, outra vez recusa, compreendendo a necessidade da Revolução Popular para o Brasil. E vai para a União Soviética em 1931, com a família.

A história da Revolução de 35 começa no 3º Congresso do então PC do B, como foi fundado, que organizou a “Antimil” dentro dos quartéis, uma ordem secreta dos comunistas, a quem caberia o principal na organização do levante. A legalidade do PCB durou apenas três meses e dez dias depois da fundação em março de 1922, logo depois do que tinha cinco mil militantes.

O PCB comandava a Frente, embora fosse minoritária dentro dela. Seu crescimento sempre incomodou as classes dominantes, tornando-se uma das principais forças eleitorais em vários momentos de nossa história - fazendo com que se aniquilassem fisicamente seus membros, presos, torturados e assassinados, sempre.

A derrota da Revolução de 1935 impediu o país de se equalizar e avançar - preservando a injustiça social e as mazelas herdadas da colonização por países aonde as luzes da Revolução Francesa não chegaram. A missão decidida pela Internacional Socialista era fazer revoluções em todo o mundo para salvar do fascismo e romper o bloqueio econômico e político à União Soviética. E foi o que se fez aqui, embora estratégica e temporalmente errado.

Fundada em março de 1935 e presidida por Hercolino Cascardo, a Revolução de 1935 foi liderada pela ANL, a Aliança Libertadora Nacional, entidade legal e aberta com objetivos de transformação social. Que indica Prestes para a presidência de honra (pela voz de ninguém menos do que o filho do deputado socialista Mauricio de Lacerda, de nome Carlos Lacerda), nas cerimônias de lançamento em 30 de março desse ano.

Em 29 de junho, a ANL recebe a adesão dos anarquistas em SP e é fechada pelo Governo em 12 de julho, após defender a derrubada de Vargas em 11 desse mês – quando foram distribuídos 150 mil exemplares do jornal aliancista “A Platéia” com o manifesto desafiador.

O fechamento da ALN em julho pelo Governo serviu para a proposta do levante dos quartéis. Segundo Noé Gertel, presidente da Juventude Comunista Paulista, a ANL tinha duzentos mil militantes no país e forte apoio na classe média, integrada por expressivas lideranças nacionais, infiltrando-se nos quartéis e fundando entidades de atuação social, publicando jornais e fazendo eventos massivos.

Em setembro, Prestes passava a fazer parte da executiva da Internacional Socialista, junto com os principais líderes mundiais, de Stálin a Mao e Dolores Ibarri. A revolta explodiu primeiro em Natal, RGN, a 23 de novembro e a 24 e em Recife, PE, 27 no RJ, sendo derrotada em quatro dias e iniciando uma desproporcional caçada humana no país, tendo Prestes sido encarcerado por nove anos. Só em 1958 um mandato judicial interrompeu seu mandado de prisão preventiva.

A ANL projetava a construção de um futuro comum e comunista, majoritário, das maiorias, dirigido por um acordo coletivo e em prol de todos os seus membros, não apenas de alguns, como hoje. Combatida pelos fascistas da Associação Integralista Brasileira, a ABI de Plínio Salgado.

Eram os “Camisas (galinhas, chamavam) Verdes”, que tinham batalhas nas ruas com os comunistas. A Revolução de 35 era um resultado de uma trajetória que começa nas revoluções de 22 e 24, a revolução paulista de Isidoro, que fez nascer a Coluna Prestes-Miguel Costa em 1925. E a Revolução da Aliança Liberal dos tenentes de 30 – visando superar o atraso social.

Até 1930 o Brasil foi governado por uma oligarquia agro-comercial, as elites rurais do nordeste e os barões paulistas do café, mais os exportadores. A crise capitalista de 1929 nos EU moveu a Revolução tenentista de 30, quando Vargas institui o compromisso inter-classes dirigentes de fazendeiros a banqueiros e industriais para “segurar” o país das agitações anarquistas que cresciam desde fins do século XIX.

A Revolução de 35 significou um novo momento de aglutinação das forças reformadoras e progressistas. Ele nos remeteria ao acirramento da repressão e ao Estado Novo de 1937, que obedece à lógica fascista mundial em desenvolvimento na época na Itália e na Alemanha, instituindo-se então um governo forte que ameaça alinhar-se a Alemanha, só não o fazendo pela pressão dos comunistas nas ruas.

Os 400 sindicatos livres que apoiaram a Revolução eram os que não haviam se convertido ao sindicalismo oficial e controlado imposto a partir de 1931. Seriam fechados em 1946 e vinham junto com ex-tenentes reformistas, liberais excluídos do processo político, comunistas, socialistas e anarquistas. E o Brasil seria o mesmo.

(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
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