domingo, 12 de julho de 2009

ORWEL, NATUREZA E REVOLUÇÃO

ORWEL, NATUREZA E REVOLUÇÃO
Paulo Matos (*)


Lançado há 64 anos, em 17/8/1945, o livro “A Revolução dos Bichos” ("Animals Farm", livro de George Orwel) é de incrível atualidade. Ele conta a história de ideais e compromissos do socialismo esquecido em nome do “dar certo” do sistema, sem alterar suas bases e modificar seus rumos, que se exigem radicalizados e precisos - com o pé na história.

“Bichos ingleses e irlandeses / bichos de todas as partes / eis a mensagem de esperança / que no futuro virá / cedo ou tarde virá o dia / cairá a tirania / e os campos da Inglaterra/ só aos bichos caberão.. Não mais argolas em nossas ventas, dorsos livres dos arreios, freios e esporas, descartados,chicotadas abolidas!
Muito mais ricos do que sonhamos / possuiremos daí por diante o trigo, o feno, e a cevada, pasto aveia e feijão / brilham os campos da Inglaterra / águas puras rolarão / ventos leves soprarão, saudando a redenção / lutemos todos por esse dia, mesmo que nos custe a vida / cavalos, vacas, perus e gansos/ liberdade conquistemos / bichos ingleses e irlandeses...


Era este o hino revolucionário que cantavam os bichos da “Granja do Solar”, antes da Revolução dos animais que, em grande alarido, fez o dono, senhor Jones, sair de espingarda em punho e impor o silêncio. Mas dias depois ele seria posto para fora pelos bichos, no ideal do fim da exploração e submissão ao homem. Socialista libertário, foi a forma encontrada por George Orwel para fazer sua crítica aos rumos da Revolução Soviética, cujo bloco dirigente optou pelo socialismo autoritário.

Aos bichos foram impostas modificações fundamentais na proposta inicial da Revolução, uma a uma, até ver seus líderes celebrarem negócios com os seres humanos - que um dia haviam os expulsado da fazenda. Usado pela direita para criticar o comunismo, o livro foi equivocadamente chamado de reacionário à época da União Soviética, pois crítico do stalinismo – na opção sim pelo aprofundamento revolucionário, não o contrário.

Orwel - na verdade o jornalista inglês Eric Blair, autor de "1984", "Lutando na Espanha" e "Mantenha o sistema" -, era um anarquista revolucionário e ideólogo legítimo heróico, que abandonou a redação para dar sua vida à Guerra Civil espanhola no POUM - Partido Operário Unificado Marxista, pela República e contra o fascismo franquista.

O cavalo Sansão, depois da "Revolução dos Bichos", tinha direito à aposentadoria e às galinhas aos seus ovos, as vacas ao seu leite. Eles viram, após a tomada do poder pelos porcos que utilizavam os cachorros como exército, seus sonhos - cantados em seu hino feito após a morte do “Major”, um velho porco que morrera deixando a projeção de uma nova sociedade – serem esquecidos. Os cavalos velhos vendidos ao matadouro, o leite dado aos líderes leitões.

Nenhum animal deveria jamais morar nos antigos domínios dos humanos. Foram criados sete mandamentos, entre eles: qualquer coisa que andar sobre duas pernas é inimigo; nenhum animal dormirá em cama; nenhum animal matará outro animal; e o mais importante, que todos os animais são iguais. Depois, com o tempo todos estes mandamentos foram sendo devidamente ignorados pelos novos donos do poder, que os alteravam sem cerimônia. A ameaça era sempre a volta dos humanos e da opressão.

As máximas iniciais esquecidas eram do tipo qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; nenhum animal usará roupas; nenhum animal dormirá em camas e nenhum animal beberá álcool. Ao final, olhando pela fresta da janela no interior da casa os porcos engravatados fumando charutos com os humanos, ninguém mais sabia quem era porco nem que era gente.

Os novos donos do poder, que passaram a usar ternos, fumar charutos e beber uísque, negociavam com os humanos da Granja de Pinkerton, de que eram inimigos. Assim como alteravam a história e desmereciam os feitos de Bola de Neve (porco-personagem com que caracterizam Leon Trotsky) – agora traidor - na Batalha do estábulo, que marcou a Revolução. Admirável poeta e herói, pensador maior da liberdade, Orwel – ou Blair – merece um quadro na galeria de personagens socialistas humanitários da história.


Paulo Matos Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
Fone 13-38771292 - 97014788

Nenhum comentário: