terça-feira, 29 de setembro de 2009

A UTOPIA MAGISTRAL

A UTOPIA MAGISTRAL

Paulo Matos (*)


“Utopia” traduz o céu, onde se aboliu a propriedade privada e se aboliu o jogo. A meta social é a utopia, presente neste desenho utópico. Nossos dicionários traduzem a palavra como país imaginário (de More), teoria irrealizável, fantasia, delírio, quimera. Em grego, não lugar (u topus), lugar nenhum. “Sir” Thomas More (1480-1535) escreveu o livro ”Utopia” que nos é próxima, pois teria sido imaginada a partir da ilha brasileira de Fernando de Noronha, em 1516 – onde tudo é de todos. Descreve na primeira parte o estado venal e na segunda a utopia a ser construída. Quer expressar uma vontade contra os desajustes sociais de seu tempo, a Inglaterra de Henrique VIII. Ela expulsava os fazendeiros de suas terras transformadas em pastagens, no império dos nobres.

Para contar sua história, More monta um artifício literário em que um diplomata viajante encontra Giles, um cidadão inglês austero. E Raphael Hitlodaie, em grego “contador de lorotas – um marinheiro que acompanhou Américo Vespúcio em suas descobertas nas suas quatro viagens. Este conta sua história na ilha que descobrira, a ilha mítica de Amaurote (utopia), onde vivera por quatro anos e dizia ser o país perfeito, o reverso, salienta, da Inglaterra de então.

Os soldados que voltavam da guerra tinham como destino a miséria, não existem asilos ou hospitais – os mendigos morriam nas valas em casebres insalubres, mas onde a lei penal era implacável. “Utopia”, no grego, significa “lugar nenhum”, escrito sobre um tempo de tiranos e corruptos. Só dezesseis anos após a morte de More o livro foi publicado em inglês. Com um discurso baseado nos diálogos de Platão, desenha a utopia comunista e igualitária em que todos possuem bens iguais.

A ilha é uma família ou um conjunto doméstico, dividido em unidades familiares com vínculos de sangue. Grupos de 30 famílias são governados por “filarcas”, que defendem seus direitos ao trabalho e onde não existe desemprego, um “filarca-chefe” comanda dez grupos, 300 pessoas- e eles escolhem um príncipe.

O povo vive em 54 distritos, cada qual com uma área cultivável em volta, na profissão mais cultuada naquele espaço – a agricultura, mas todos aprendem profissões ou ofícios, em uma terra de poucas leis, pois que assim exige a natureza de seus habitantes. Já neste tempo se compreendia que a lei deveria ser compreendida para ser obedecida. Não há advogados, pois, segundo juízo emitido, “é um tipo de gente cuja profissão é dissimular os fatos e burlar as leis”. Há os executados, mas também meios de recuperação aos infratores, trabalhos forçados sua pena comum.

Antecedendo a Reforma Católica, o livro é liberal em termos religiosos e admite até os ateus. Existe um programa contínuo de educação, mas nem tudo é assim: quem sai de sua cidade pode ser punido como fugitivo ou voltar a ser escravo. Mas More antecipa o estado do bem estar social e sua visão é de vanguarda hoje, imagine-se no século XVI. É um libelo e serviu de base para inúmeros construtores ideológicos de teses libertárias que, como Marx, jamais dispensaram sua leitura.

Cá o ouro só serve para fazer urinóis e latas de lixo. É céu, onde se aboliu a propriedade privada e se aboliu o jogo. A meta a utopia. Nossos dicionários traduzem a palavra como país imaginário (de More), teoria irrealizável, fantasia, delírio, quimera. Em grego, não lugar (u topus), lugar nenhum.


(*) Paulo Matos
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
F.13-38771292 – 97014788

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