sábado, 20 de março de 2010

GREGÓRIO BEZERRA


GREGÓRIO BEZERRA
Gregório Bezerra - Uma entrevista histórica
14/11/2008 - 30:43
Esta entrevista foi realizada quando Gregório Bezerra completara 76 anos no exílio. Documentário de Luiz Alberto Sanz, Lars Safstrom, Leonardo Cespedes e Staffan Lindqvist Postagem:

Maria do Carmo Andrade
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco

         
Gregório Bezerra, político, líder comunista e ex-sargento do Exército brasileiro, nasceu no dia 13 de março de 1900, no sítio Mocós, município de Panelas de Miranda, estado de Pernambuco. Filho de camponês paupérrimo e analfabeto, passou muita fome desde o ventre materno, porque sua mãe também passava fome.

         Nasceu num ano de grande seca, quando centenas de retirantes morriam pelas estradas afora, em busca de comida e água para beber. Não havia leite, nem materno nem de gado. Seus pais e seus irmãos mais velhos, que haviam perdido a safra anterior, perambulavam nas estradas da caatinga, em busca de trabalho para amenizar a situação crítica da família.

         Gregório começou a trabalhar na agricultura, preparando roçados, na idade em que deveria ter ido para a escola. Não teve, portanto, oportunidade de ser alfabetizado.

         Em 1917, depois de muitas andanças, já no Recife, trabalhando como ajudante de pedreiro, participou de uma passeata por melhores salários e em solidariedade ao movimento bolchevique na União Soviética. Foi preso, julgado e condenado a sete anos de prisão.

         Depois de um novo julgamento foi libertado em 1922. Como para conseguir emprego, precisava do certificado do serviço militar, resolveu entrar para o Exército no Recife. Em 1923, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde completou o serviço militar.

         Em 1925, decide se alfabetizar para fazer o curso de Sargento de Infantaria. Já segundo-sargento, é designado Instrutor da Companhia de metralhadoras pesadas na Vila Militar, tendo sido também instrutor de esportes. Em seguida, solicitou  transferência para a Sétima Região Militar, no Recife.

         Durante o período em que esteve no Exército, depois de alfabetizado, Gregório descobriu o comunismo, ideologia que abraçou durante toda sua vida, porque acreditava que só assim poderia haver uma sociedade mais justa e melhor. Em 1930, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, em 1935, era um dos líderes do movimento armado, Aliança Nacional Libertadora (ANL). Participou, como militar rebelde, da luta armada que tentou implantar o regime comunista no Brasil. Com a derrota do movimento, foi preso durante três anos, no Recife, e condenado a  28 anos de prisão, pelo Tribunal de Segurança Nacional.

         Foi transferido para a Ilha de Fernando de Noronha e posteriormente para o presídio da Ilha Grande no Rio de Janeiro, sendo enviado por fim ao presídio Frei Caneca, onde ficou na mesma cela que Luiz Carlos Prestes.

         Anistiado em 1945, e com a legalização do PCB, Gregório volta a Pernambuco e é eleito Deputado Federal pelo Partido, sendo o segundo mais votado de Pernambuco. Em 1948, o comunismo volta à ilegalidade e Gregório teve seu mandado cassado.

         Pouco depois, um incêndio no 15º Regimento de Infantaria do Exército em João Pessoa, Paraíba, é atribuído aos comunistas e Gregório é preso no Rio de Janeiro, conduzido a um presídio na Paraíba, onde permaneceu durante 91 dias, sendo levado depois para o Recife, onde ficou mais dois anos na prisão.

         Novo julgamento libertou Gregório, que passou a percorrer várias regiões brasileiras pregando a Reforma Agrária e organizando sindicatos de trabalhadores rurais. Em 1963, participou da organização de uma greve de 200 mil trabalhadores da zona canavieira de Pernambuco.

         Em 1964, quando o governador Miguel Arraes é deposto e preso, sai em busca de armas para os camponeses na tentativa de enfrentar o Golpe Militar, mas é preso na Usina Pedrosa, no município de Ribeirão-PE. Conduzido para o Recife, é torturado em praça pública, arrastado pelas ruas do bairro deCasa Forte, com uma corda amarrada ao pescoço.

         Incentivado por Paulo Cavalcanti, que estava com ele na mesma prisão, acusados no mesmo processo, Gregório começou a escrever suas memórias. Os manuscritos eram inicialmente entregues a Jurandir Bezerra, filho de Gregório, durante as visitas nos finais de semana. Depois ficaram sob a guarda do próprio Paulo Cavalcanti, que estudava a melhor oportunidade para publicá-los, pois acreditava que seria um “livro de grande interesse social e político, pelo estilo corrente, fácil de ler”.

         Em 1969, foi libertado juntamente com outros companheiros em troca do embaixador norte-americano, Charles B. Elbrick, que havia sido seqüestrado pela resistência à ditadura militar. Segue para o México e depois para a União Soviética, onde viveu durante dez anos.

         Quando Gregório foi exilado do Brasil, ficou sem notícia de seus manuscritos, pensando que tivessem sido apreendidos pelo Exército ou pela Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS). Resolveu, então, reescrever suas memórias, em Moscou, que foram publicadas com sucesso por Ênio Silveira.

         Beneficiado pela anistia em 1979, retorna ao Brasil. Deixa o Comitê Central do PCB, por divergências internas, e, em 1982, foi candidato a deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Pernambuco, ficando apenas como suplente.

         Morreu na cidade de São Paulo, no dia 23 de outubro de 1983.

         Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco, tendo reunindo milhares de pessoas. Do alto de uma galeria da Assembléia Legislativa, uma faixa pintada de vermelho, reproduzia os versos da música cantada por Elis Regina: choram Marias e Clarices no solo do Brasil.


Recife, 3 de novembro de 2005.
(Atualizado em 9 de setembro de 2009).


FONTES CONSULTADAS:

BEZERRA, Gregório. Memórias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. 2v.

CAVALCANTI, Paulo. A luta clandestina: o caso eu conto como o caso foi. Recife: Ed. Guararapes, 1985.

GREGÓRIO BEZERRA. In: Pernambuco de A/Z. Disponível em: <http://www.pe-az.com.br/biografias/gregório_bezerra.htm>. Acesso em: 10 out. 2005.

GREGÓRIO BEZERRA. In: Portal dos Municípios. Disponível em: <http://www.municipios.pe.gov.br/municipio/Gregorio_Bezerra.asp>. Acesso em: 13 out. 2005.


COMO CITAR ESTE TEXTO:

Fonte: ANDRADE, Maria do Carmo. Gregório BezerraPesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: dia  mês ano. Ex: 6 ago. 2009.


Bezerra, Gregório
(1900-1983): Nasceu na cidade de Panelas de Miranda, Pernambuco; Desde os 4 anos de idade já trabalhava na lavoura e, quando ficou órfão de pai e mãe, aos oito anos de idade, passou a ser escravo doméstico. Fugiu depois de dois anos de maus-tratos. Entre as várias atividades que exerceu, uma delas foi a de jornaleiro. Embora não soubesse ler os jornais que ele mesmo vendia, seu interesse pela política pôde ser despertado na medida em que conhecia a realidade brasileira de uma forma mais ampla na medida em que os seus colegas liam as notícias de jornais para ele. Em importante greve ocorrida em 1917, Gregório começa a atuar ativamente, lutando pela jornada de 8 horas e em favor da Revolução Bolchevique. Neste episódio foi preso, acusado de perturbar ordem pública e cumpriu 5 anos de prisão.
No ano de 1922 ele alista-se no Exército e decide se alfabetizar para entrar na Escola de Sargentos. Já a partir de 1927 passou a ler diversas obras marxistas e no ano de 1929 consegue entrar para a Escola de Sargentos. No ano seguinte ele filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e passa a proteger militantes perseguidos pelo movimento integralista da época. Em 1932 Gregório recebeu a missão de comandar um exército de analfabetos e flagelados da seca, que combateu os Paulistas na Revolução Constitucionalista.
Participante da Aliança Nacional Libertadora (ANL), sua principal tarefa foi filiar o maior número de militares à frente. Gregório obteve sucesso nesta tarefa, além de conseguir centenas de fuzis e munições para a frente. Teve a incumbência, ainda, de deflagrar o movimento revolucionário em Recife. Liderou a tomada do Quartel General e vários pontos importantes da cidade.
Com o movimento derrotado, Gregório foi preso, espancado e barbaramente torturado. Por participar dos eventos ligados à insurreição comunista, Gregório foi condenado a 27 anos de prisão. Em 1942 foi transferido para a Ilha Grande. No ano seguinte, quando passou para o presídio Frei Caneca, conheceu Prestes
Saiu da prisão em 1945. Recebeu do PCB a tarefa de reorganizar o partido em Pernambuco. Nas eleições de dezembro do mesmo ano, Gregório é o Deputado Federal mais votado para a Constituinte, aonde defendeu o direito de greve e a autonomia sindical; direito de votos aos analfabetos e aos militares; denúncia da exploração do trabalho, principalmente infantil; defesa da construção de creches para as mães solteiras e trabalhadoras, assim como sua obrigatoriedade em escolas, postos médicos, favelas e locais de trabalho. Foi defensor incondicional da Reforma Agrária Radical.
Em setembro de 1947 o PCB volta novamente à ilegalidade e o mandato de seus deputados são cassados, inclusive o de Gregório Bezerra. Em 1948 foi seqüestrado e preso por ordem do então presidente Dutra. Foi falsamente acusado de incendiar o quartel 15 R.I., em João Pessoa, na Paraíba. Sofreu várias tentativas de assassinato. Depois de dois anos de prisão foi absolvido por unanimidade pelo STM. Mesmo solto, continuou sendo perseguido. Entrou para a clandestinidade e continuou atuando na organização do PCB. Atuou em São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Paraná.
Em 1957 foi novamente preso por sua militância, principalmente formando Ligas Camponesas e sindicatos rurais. Foi liberto por habeas corpus. 
No V Congresso do partido, no ano de 1960, é eleito para o Comitê Central.
Com o Golpe Militar de 1964, Gregório foi novamente cassado, espancado e barbaramente torturado pelos militares. Durante o período em que esteve preso, foi levado às ruas de Recife, amarrado com cordas pelo pescoço e arrastado.
Foi processado e condenado por crime de lesa Pátria e por subversão a 19 anos de prisão e sua saúde e integridade física foram totalmente abalados. Foi libertado, somente, no ano de 1969, trocado, junto com 13 presos políticos, pela vida do embaixador americano seqüestrado no Brasil.
Foi enviado ao México, Cuba e URSS, onde recebeu assistência médica para tratar de sua saúde. Recuperado, passou a integrar o Movimento Internacional da Classe Operária no exílio. Retornou ao Brasil no ano de 1979, com a Anistia.
Em 1980 desliga-se do PC, solidarizando-se com Prestes, afirmando que continuaria fiel ao Marxismo-Leninismo e lutando pela Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.
Em 1982, candidata-se à Deputado Federal por Pernambuco, conseguindo a suplência. Pouco antes de morrer Gregório declarou: “Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das Ditaduras Fascistas”.
Fonte: Associação Política-Cultural Brasil/Cuba - Casa Gregório Bezerr


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