segunda-feira, 1 de junho de 2009

MATTOS QUE FLORESCEM

MATTOS QUE FLORESCEM
Paulo Matos (*)


O filho de Brás Antunes Mattos, Nelson Mattos, teve mudado o nome para “Nelson” como o almirante inglês da Batalha de Trafalgar, uma batalha naval que ocorreu entre a França e Espanha contra a Inglaterra em 21 de outubro de 1805, na era napoleônica. Mas colocou o nome do filho “Braz”, como seu pai.

Nesse episódio histórico de Trafalgar, a esquadra inglesa tinha como comandante o almirante Nelson - para muitos o maior gênio em estratégia naval que já existiu.

A França queria invadir a Inglaterra pelo Canal da Mancha, mas antes tinha que se livrar do empecilho que era a marinha inglesa. Nelson tinha que evitar isso. O nosso Nelson cumpriu esta missão e defendeu uma categoria.

Entre vitórias, Mattos menciona a conquista do direito a férias e do décimo - terceiro salário por parte dos trabalhadores, fundo de garantia e pagamento de produção. "Mesmo com a Revolução de 64 tirando os direitos dos trabalhadores, batalhamos e conseguimos novamente", diz.

A coincidência do sobrenome não estabelece vínculo familiar, mas sem dúvida de alma. Ele já passou dos 80 e aniversariou em 16 de março, 83 anos em 2009. A efetiva contribuição de Nelson Mattos a esta terra se mostra em sua atividade e integração coletiva. Nelson Mattos, pai do vereador Brás Antunes, é o verdadeiro nome do sambista Nelson Sargento e este nosso Nelson foi e é um compositor de vidas.

Fundador do Fórum Sindical de Debates, Nelson nasceu em Santos no dia 13 de março de 1926. Advogado, contador, foi jogador de futebol, Presidente do Sindicato dos Conferentes de Carga e Descarga do Porto de Santos por oito gestões e funcionário público municipal, tendo ingressado na política em 1956 pelo extinto Partido Libertador. Antes de atuar como conferente, Mattos trabalhou em escritórios de contabilidade e de agências de navegação.

O sindicalista pertenceu a quase todas as agremiações partidárias da época, inclusive o MDB (atual PMDB), e foi presidente da Câmara de 1975 a 1976. Nas eleições de 1976, foi o mais votado da Arena, elegendo-se com 5.602 votos. Na gestão do prefeito nomeado Paulo Gomes Barbosa, exerceu o cargo de Secretário de Administração.

Nelson foi o mais longínquo presidente que o Sindicato dos Conferentes já teve, vereador por 26 anos – seis mandatos consecutivos, de 1956 a 1981, quando foi escolhido para dirigir a recém-criada secretaria de Administração do Município.

Secretário do prefeito Paulo Gomes Barbosa, era nove de janeiro de 1981 quando assumiu. Mas muita água tinha corrido para isso, inclusive na convivência com a portuária categoria que tinha tido gente como Antonio Gonçalves Carneiro a germiná-la, na resistência e no sacrifício.

Membro do PDC, o Partido Democrata Cristão, eleito foi para o Partido Libertador e depois para ARENA e MDB, sua caminhada foi certa. A Sala de Imprensa da Câmara, que hoje não existe mais, foi criada por Mattos com o nome de Remo Petrarchi, o conferente a quem derrotaria na disputa sindical, antigo e elegante dirigente da entidade. Em 1976, Nelson seria o quarto vereador mais votado da cidade.

É este Nelson que colocou em seu filho nome do pai Brás e que por isso é “Neto”, cuja mãe Eurides Gouvêa se tornou “Mattos”, que ia completar 24 anos quando se tornou Conferente do cais, lá pelo oitavo dia do mês de fevereiro, há 58 anos. Sua matrícula na Delegacia do Trabalho Marítimo tinha o número 272. Menos de cinco anos foram suficientes para que derrubasse Serafim Mendes da liderança sindical, concorrendo – e vencendo – Remo Petrarchi.

A habilidade para negociar foi a marca central de todo o seus sete mandatos, seis sucessivos, dezenove anos no comando da entidade fundada em 1932 após muita luta de gente como Manoel Gomes Duque e Orlando dos Santos.

Abrindo à participação na direção a um conselho, tratou logo de ampliar os direitos daqueles que um dia se dividiram entre “gangs” (os indicados das empresas) e os “lixas grossas”, os que disputavam de terno e gravata os postos de trabalho.

Líder político que apresentou o Projeto de Lei considerando Fórum Sindical de Debates como de Utilidade Pública, o que a Câmara revogou sobre pressão dos “gorilas” de 64, os mesmos que prenderam Orlando dos Santos e o derrubaram do poder sindical.

Ele esteve com o líder operário Aldo Ripasarti no “Raul Soares”, o navio-prisão ancorado no porto de Santos, masmorra de violência e tortura dos militares nestes tempos escuros. Mas Mattos foi pedir ao Capitão dos Portos a sua reintegração.

A trajetória de Mattos nas conquistas sindicais e nas questões sociais durante toda a sua vida tem tom de romance épico, de histórias heróicas de cavaleiros andantes, mas com a lucidez e a coragem de decidir o rumo certo na hora certa.

Nelson dirigiu o Sindicato nos piores tempos para os sindicalistas, entre normas e decretos baixados arbitrariamente e que exigiam negociações constantes, diante de poderes excepcionais. Nosso Nelson vale muito.

(*) PAULO MATOS - Jornalista, historiador pós-graduado e bacharel em Direito jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
Fone (13) 97014788

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