terça-feira, 30 de junho de 2009

GUARUJÁ, O JUBILEU DE DIAMANTE


GUARUJÁ
A PÉROLA DO ATLÂNTICO TEM SEU
JUBILEU DE DIAMANTE
75 ANOS DE AUTONOMIA
Paulo Matos (*)


Em 30 de junho de 1934 ano o governador paulista Armando de Salles Oliveira criou a Estância Balneária de Guarujá - pelo Decreto número 1.525. Era a emancipação administrativa.

A pesquisa histórica não tem dúvidas em apontar a ilha do Guaíbe, que depois se tornaria Santo Amaro, em que está Guarujá, como o primeiro local em que aportaram os colonizadores portugueses, em 1502 – na globalização iniciada pelos árabes com Maomé no século VII com a expansão islâmica. Era sua chegada no que seria o Brasil, nos primeiros anos do século XVI. Neste dia 30 de junho, sua Autonomia faz 75 anos. Não é o Jubileu de Pérola da Pérola do Atlântico, mas o Jubileu de Diamante.

Ao chegarem por aqui na expedição de reconhecimento e denominação, os europeus se estabeleceram do outro lado da barra que os índios chamavam Guarapissumã. Barra e mar que pensaram ser um rio e que denominaram “São Vicente”, na atual Ponta da Praia. E lá fundaram um porto em 1510 com esse nome, dando início ao que seria a capitania vicentina, que era maior do que é hoje o estado de São Paulo. Ao lado, Guarujá, na ilha de Santo Amaro.

Foi assim: São Vicente foi fundada onde hoje é Santos. Mas vamos para Guarujá, ao lado, que faz aniversário. Os europeus, ao chegarem e entrarem no canal que pensavam ser um rio, estacionaram na que chamaram “Ilha do Sol”, a atual Praia do Góes, território que seria a donataria do irmão de Martim Afonso, Pero Lopes de Souza, na fase seguinte da colonização.

Entre altos e baixos no desenvolvimento econômico, a presença de massivas invasões indígenas foi razão para a lenta ocupação, até o século XVIII. Fortalecendo-se em sua vocação de atrair pessoas em busca do lazer, de todas as partes, Guarujá – a cidade-ilha de Santo Amaro –, referência importante desse período, teve um curso um processo de desenvolvimento que fez com que, até o início deste século, estivesse quase desocupada, em estado primitivo.

A criação da Estância Balnearia do Guarujá, inaugurada em 1893, tem seu início na primeira metade do século XIX - quando o casal Chaves vendeu a Miguel Antonio Jorge um sítio denominado Glória. O filho e herdeiro deste proprietário o vendeu, em 1891, à firma Prado, Chaves & Companhia. E o herdeiro deste à família de Vicente de Carvalho – como conta Pedro Luiz Pereira de Souza, em seu livro Meus cinqüenta anos na Companhia Prado Chaves, editado em 1950.

A primeiro de março de 1923 foi instituído o Distrito de Paz em Guarujá, que abrangia todo o território insular. E a 30 de junho de 1926 o governador Carlos de Campos assinava a Lei número 2.184, que desmembrava Guarujá e instituía a sua prefeitura sanitária. Seria Juventino Malheiros, santista da área antigo, seu primeiro prefeito – até 1930. José Rodrigues Tucunduva seria o segundo, desde esse ano até o seguinte.

Em 1832, Guarujá foi transformado em vila e em fins do século XIX, começou a tornar-se balneário da elite. Na segunda década do século XX, construiu-se o hotel La Plage, cujo reinado durou até fins da década de 40, 4 anos depois da proibição do jogo no Brasil no governo Dutra. Quando começou a ser desativado, vindo a abrigar os correios, demolido na década de 60. Era o fim de uma era.

Em 1931, Guarujá foi integrado ao município de Santos. Um século depois de ser vila, em julho de 1932 o inventor da aviação, Santos Dumont, se suicidaria no Hotel La Plage – inconformado com o uso de seu invento para matar pessoas. O ar salgado de mar aberto não lhe permitiu assistir, calado, as batalhas fratricidas da Revolução Constitucionalista – o MMDC paulista contra a ditadura Vargas.

A autonomia

Território isolado na ilha de Santo Amaro, em que a partir de 1886 chegaram muitos estrangeiros, com todos os problemas de distância e acesso que necessitavam de balsas e lanchas, o espírito de emancipação era natural. Em 1931, ecoavam os efeitos da revolução brasileira da Aliança Liberal, do gaúcho Getúlio Vargas. A Revolução de 30 foi o movimento que depôs a República Velha, não aceitando a posse do eleito na política do café-com-leite, Minas Gerais e São Paulo, que fora Júlio Prestes – tomando posse Getúlio Vargas. A 21 de janeiro, o Interventor Federal em São Paulo, João Alberto Lins Barros, pelo Decreto número 4.844, extinguiu a prefeitura sanitária do Guarujá, reintegrando-o a Santos.

Na década de 50, a industrialização da Baixada Santista provocou um aumento substantivo na população e o dos preços dos lotes em Santos e São Vicente. Guarujá se torna alternativa para os menos favorecidos, que se instalam no Paicará. Foi antes de se reunir a Constituinte brasileira de 1934, democrática exigência arrancada pela Revolução Constitucionalista, o MMDC, que a 30 de junho desse ano o governador paulista, Armando de Salles Oliveira, criou a Estância Balneária de Guarujá - pelo Decreto número 1.525. Era a emancipação administrativa.

O Decreto subordinava a nova prefeitura ao Estado e nomeava prefeito o engenheiro Cyro de Melo Puppo, que governaria de 1934 a 1937. Seguiram-se outros prefeitos sanitários, entre os quais Oscar Sampaio, engenheiro, desse ano do Estado Novo de Vargas – o golpe de 10 de novembro, transformando o presidente eleito em 1934 em ditador – até 1941. Os engenheiros Gustavo Dias Oliva, Hernani Botto de Barros e Paulo Filgueiras Júnior governariam, respectivamente, de 1941 a 1943, desse ano ao seguinte e até 1945.

O médico Edgardo Boaventura seria prefeito de 1945 até 1946, ano em que a cidade teria dois outros dirigentes – Renata Crespi da Silva Prado, que governou até a proibição do jogo do país, que era uma grande fonte de renda na cidade - e os engenheiros Alexandre Martins Rodrigues e Gaspar Menna B. de Barros Falcão. O advogado e historiador José da Costa e Silva Sobrinho seria prefeito no biênio 1946-1947, ano em que também ocuparia o cargo Hermínio Amado. Álvaro da Cunha Parente, advogado, seria o último prefeito nomeado desta fase, governando até 1948.

No ano de 1947, a nova Lei Orgânica dos Municípios, decorrente da Constituição de 1946, proporcionara nova divisão administrativa e judiciária ao Estado. Através da qual muitas estâncias balneárias, hidrominerais e climáticas ganharam suas emancipações políticas, sendo transformadas em municípios. E, entre estas, Guarujá.

Finalmente, eleições!

Em 15 de novembro de 1947, realizaram-se as primeiras eleições e os eleitos tomaram posse em janeiro do ano seguinte, quando Guarujá teve seu primeiro prefeito eleito pelo voto direto. Era Abílio dos Santos Branco, que governaria té 1951. Guarujá se tornava município autônomo, definitivamente desmembrado de Santos – que perdia sua primeira área. Depois seria Cubatão (1949) e Bertioga (1991).

A Câmara de Vereadores de Guarujá se instalou com a emancipação, sendo Leôncio Camargo Filho seu primeiro presidente. Sua sede ocupou, inicialmente, a antiga estação de trem, na esquina das ruas Petrópolis e Leomil – mudando-se posteriormente para um prédio na esquina das ruas Quintino Bocaiúva e Mário Ribeiro, já em 1949. Só em 30 de junho de 1968 a Câmara de Vereadores teria sua sede junto ao Executivo, ocupando o terceiro andar do Paço Municipal, na Rua Mário Ribeiro 261.

O major da Aeronáutica João Torres L. Soares governou de 1952 a 1955, ano em que ocupou o cargo Hermínio Amado e Domingos de Souza, eleito para o quadriênio 1955-1959. José Bueno C. Assis governa de 1959 a 1962, vindo depois Jaime Daige, José Bueno C. Assis e Aníbal dos Reis, em 1963. É criada a Comarca de Guarujá, instalando-se o Poder Judiciário na cidade.

Até então, os processos tramitavam em Santos. Até a criação da Segunda Vara Cível em 1976, o juiz nomeado para o cargo atuou sozinho: Amador Cunha Bueno. Em 1974 a Enseada ganha o fórum e Vicente de Carvalho tem duas varas distritais em 1982, a terceira e a Quarta vara cíveis na sede do município chegam em 1991. Domingos de Souza governou de 1964 a 1969. Jaime Daige volta este ano e cumpre mandato até 1970, quando há intervenção da ditadura militar e entra o interventor federal Dr. Brenno Toledo Leite, até 1972.

Em 1972 é eleito Raphael Vitielo, que governa do ano seguinte até 1977, seguido por Daige, até 1982. Quando faz sua primeira gestão o atual prefeito Mauricí Mariano, advogado, de 1983 a 1988. Na sucessão, a população elege Waldir Tamburús, médico, para o mandato que vai de 1989 a 1992. Seguido por Ruy Gonzalez, que governa de 1992 a 1996. O prefeito Mauricí Mariano governou desde 1997 até o final do ano 2000, sendo reeleito até 2004, seguido por Farid Madi e pela prefeita Maria Antonieta de Brito, eleita em 2008.

Em 1953, a cidade ganhava um distrito, pois a Lei número 2.456, de 30 de dezembro desse ano, assinada pelo Governador Lucas Nogueira Garcez, criava o distrito de Vicente de Carvalho. Ele abrangia os antigos bairros do Itapema e a várzea do Paicará. E homenageava a memória do grande poeta e jurista santista, que outrora residira em Guarujá e lá fora proprietário de diversas áreas.

GUARUJÁ, A CIDADE HOJE

Com uma população projetada em 2008 de 304.274 habitantes, 1,6 milhões de turistas anuais, Guarujá fica a 87 quilômetros de São Paulo e a 429 do Rio de Janeiro, 32 de Cubatão e 30 de Bertioga, 128 de São Sebastião. Tem uma área de 142,7 Km2 e é a segunda maior concentração de ilhas do estado – 14. São elas:Guará, Prainha, Prainha Branca, dos Arvoredos (onde Fernando Lee, cientista brasileiro, desenvolve pesquisas de energia alternativa, piscicultura, genética vegetal e criação de aves de outras partes do mundo), do Mar Casado, das Cobras, Pompeva, Moela (o único farol da região), Aleluia, do Mato e do Sol à Pino.

A cidade localiza-se a 23o 59’de latitude sul e a 46o 15’de longitude oeste. Separada do continente pelo canal de Bertioga e da ilha de São Vicente pelo estuário de Santos. Limita-se ao norte com a área continental de Santos e com o município de Bertioga, a sul e a leste com o oceano Atlântico, a oeste com o município de Santos.

SANTO AMARO E SEU NOME

É a ilha em que fica Guarujá, a antiga Guaíbe dos brasílicos, ocupando-a integralmente. Recebeu essa denominação cristã dos portugueses e seu dia é 15 de janeiro. Apesar da chegada uma semana mais tarde, homenageou-se com seu nome o santo que, como Pedro, andava sobre as águas. Mauro, nome italiano que em português ficou Amaro, viveu por volta do ano 480 D.C., fim do Império Romano. Foi discípulo de São Bento, padroeiro da Europa e ficou célebre pela sua incondicional obediência a Deus. Amaro – ou Mauro ou Santo Amaro -, fez das águas a sua passagem para salvar do afogamento o irmão Plácido.

Alertado por São Bento, que os recebeu em doação, quando ainda pequenos, dos próprios pais - que, enquanto orava, em uma visão percebeu que Plácido, que havia ido buscar água em um lago, havia caído – correndo risco de vida, de acordo com o relato de São Gregório Magno. O santo abade chamou por Amaro e disse-lhe o que se passava. Este correu imediatamente sobre o lago e o puxou pelos cabelos, salvando-o. E só então percebendo que andou sobre as águas. Estupefato, narrou o ocorrido a São Bento que, humildemente, atribuiu o prodígio a merecimentos de Amaro. Este discípulo, porém, estava convicto do contrário, o que confirmou Plácido.

Plácido revelou ter tido a impressão de que estava agarrado à capa do abade, parecendo que este o tirava da água. Amaro fizera como o apóstolo Pedro no lago de Tiberíades. Depois, enviado pelo mestre à França, Amaro fundou lá o primeiro convento beneditino, que se expandiu logo, morrendo aos 72 anos, acometido de peste. Quanto a Plácido, ele teria sido martirizado na Sicília pelos sarracenos. Como São Vicente, que foi um mártir e sofredor, mas que manteve suas convicções. Aqui, Amaro deu nome a terra descoberta a partir da Ilha do Sol – acima da qual o sol se punha naqueles dias de janeiro. Ao lado, São Vicente.

GUARUJÁ E SEU NOME

Gu-ár-yyâ, abertura de um lado a outro. Para Chico Martins, a origem do nome Guarujá é a corrutela de Gu-ár-yyâ, “abertura de um lado a outro” de Gu recíproco - Ár “ladear”, Yâ “abrir, gretar, fender, rachar”, precedido de Y - relativo. Os verbos Ár e Yâ, estando no infinitivo sem caso (como cita João Mendes de Almeida), significam ação geral: lado, abertura - aludindo ao antigo aglomerado de rochedo, conhecido por sala de pedras, que separava a atual praia das Pitangueiras da praia de Guarujá, propriamente dita.

Nesse local, havia um furo ou passagem apertada, entre o grande bloco de rochas, produzindo pela própria natureza, permitindo a comunicação entre as duas praias, por baixo. Esse monumento natural, aliás, que nos aparece ainda hoje, em telas e fotografias, foi arrasado ou destruído, por duas vezes, por antigos prefeitos, em sua faina urbanizadora, ressalta Martins dos Santos. Para Frei Gaspar, Guaru era sapo e ya criar, assim Guaru-ya seria viveiro de sapos. Mas em confirmação à etimologia proposta por Chico Martins, aparecem lá mesmo, em lugares fora de ligação com o mar – mais dois Guarujás, o Mirim e o Guaçu.

O que poucos sabem é que um dos heróis da implantação turística em Guarujá, onde tiveram terras José Bonifácio e Vicente de Carvalho, teve também Valêncio Teixeira Leomil - que hoje é nome de avenida. Integrante da construção da Vila Balneária, no século XIX, foi traficante de escravos - sendo processado por isso e fugido do país. Como a maioria dos ricos que a usufruíram e a usufruem, herdeiros. Talvez por isto seja tão injusta socialmente.

(*) Paulo Matos, Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Fone 13-38771292 - 97014788

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