domingo, 12 de abril de 2009

OS 46 ANOS EM SANTOS DE ARMENIO MENDES - Uma história de construção

OS 46 ANOS EM SANTOS DE ARMENIO MENDES
Uma história de construção
Paulo Matos (*)


O amor ele trouxe de Portugal e o expandiu aqui, com sua obra. Há 46 anos de dedicação a Santos e ao seu desenvolvimento, gerando meios de vida para milhares, Armenio chegou em Santos em um 18 de abril de 1963, pasta de marceneiro sua bagagem, com que sobreviveu. O trabalho sua senha e garantia.

É o filho de Adriano Mendes, o pai que se foi quando ele tinha 12 anos e que mal conheceu - e de Maria do Carmo Medeiros, ainda hoje em Chão-de-Couce aos 88 anos -, uma vila que fica no eixo de três grandes cidades, Coimbra, Pombal e Tomar, Distrito de Leiria.

Há 46 anos ele viria para cá, para trabalhar como poucos, com avidez, até hoje – pés na construção e no exame minucioso de cada detalhe, que conhece desde quando marceneiro, que fazia trabalhos de porta em porta nas folgas do emprego. Santos e Portugal, este seu amálgama e sua paixão, sua unidade, que persevera humano na tarefa de fazer. Hoje, ele lidera como cônsul honorário da região os patrícios da comunidade lusitana, a quem serve humilde..

Filho e neto de pedreiro, quando pequeno foi trabalhar em uma olaria de telhas e tijolos até os 14 anos, optando por ser marceneiro. Trabalhou por quatro anos e temeroso do Serviço Militar - que poderia levá-lo às guerras nas províncias ultramarinas de Portugal na África, Angola, Guiné, Moçambique, de onde muitos voltavam mortos ou mutilados - veio para cá. Era a vida sua contribuição.

Até os 18 anos, ele podia pedir uma licença militar e se ausentar do país, o que fez. Amigos que viviam em São Paulo passaram por lá e o levaram, assinando uma “Carta de Chamada” para o Brasil. Armenio veio no navio “Cabo de São Vicente”. O tio açougueiro de São Paulo lhe conseguiu um emprego em um estaleiro naval em Vicente de Carvalho, oito horas por dia por onze meses. Um dia acidentou-se no trabalho, ao que o patrão disse que ele não sabia fazer nada. Enganou-se.

Marceneiro, saia nas horas que lhe sobravam para fazer portas e caixilhos. Fez parceria com a Casa Verde, para colocar os vidros, e ficou seu representante. Deu duro. Motorista do caminhão que adquiriu com suor e que trabalhou no aterro em Guarujá, consertador de bicicletas, dormia ao lado da oficina em Vicente de Carvalho, ao que o chamavam por uma janela para consertá-las, só, mas com certeza.

Essa certeza Armênio foi buscar na “terrinha” lusitana em 1971, a sua Dulcinéia Del Toboso, como D. Quixote: era Celeste e sua alegria imanente. E casou-se com ela, formando família que hoje trabalha com ele – Alex, Paulo, Carina e um montão de netos, sua alegria, parte de seu amor à humanidade na grande família que gerencia.

Armenio já entregou na cidade de Santos seis mil apartamentos, dois shoppings em Santos, um em São Vicente e o maior centro de convenções da região, impulsionando-a - o que, para ele, não basta. Hoje, este Mendes vive cercado pela cidade que ajuda a construir e por seus inúmeros netos. É social e progressista a memória que faz erigir, desenvolvendo e transformando bairros, criando estruturas para a cidade crescer e fazer convenções de grandes dimensões, embora sem incentivo público, apenas investimento pessoal.

Armenio é originário de família pobre como a Vila em que nascera na pátria lusitana - fazia-se pão-de-milho em casa para alimentar mãe e quatro irmãos –, alimento que aparecia nos fins-de-semana e que não raro tinha que excluir a mãe ou não daria para todos. A atividade familiar era o cultivo de azeite, uva e milho, original dos avós, que trabalhavam antes dos novos membros.

Este Mendes difere-se de pessoas que vemos todo dia por sua garra – chamaríamos libido, vontade, obstinação no sentido original alemão, como lhe definiu Hermann Hesse, entre Narciso e Goldmund: obstinação como a vontade do próprio ser, de fazer predominá-la no sentido da construção.

Armenio pratica a mágica da união de pessoas, de quem fortalece a unidade social no núcleo gerando atividades e empregos além de suas próprias necessidades. E que tem em sua volta pessoas felizes com seu jeito de ser e de tratar, sem explorar para cumular riquezas. O marido de Celeste é um homem que vê além de seu tempo, para o futuro, o que provou em quarenta e seis anos de trabalho gerando muitos empregos e vidas.

O trabalho é nossa matéria e nossa história, a precisão seu detalhe. E a precisão exigida por Fernando Pessoa para os navegantes – “navegar é preciso...”, escreveu, “viver não é preciso...” , foi projetada a partir do berço e do traço atento e exato de um homem. Na mente - e depois no papel e no suor - palácios urbanos que geram atividade econômica, trabalho e vida.

O segredo que trouxe não exigia guarda na viagem, pois que vinha dentro dele, de braço dado com a coragem: era a criatividade que, para o Físico Albert Einstein: em determinadas situações vale mais que o conhecimento - sem prescindir do trabalho e modernidade das torres que melhoram o ar.

Sorte? Inteligência? Vontade? Na verdade, ninguém poderá deixar de lado a característica implícita do esforço pessoal na concepção desta tarefa hercúlea de construir e agregar, demonstrada no dia-a-dia de uma fábrica que possibilita sonhos pessoais para muita gente.

(*) Paulo Matos é jornalista, historiador
pós-graduado e bacharel em Direito
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Blog: http://jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
Fone 13-97014788

Nenhum comentário: