quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

ARMENIO, A POSSIBILIDADE DA ALEGRIA

ARMENIO, A POSSIBILIDADE DA ALEGRIA
(*) Paulo Matos
O fato é que as notícias circularam baixinho, em tom temeroso, entre interlocutores sempre inseguros: o líder estaria fora de campo, sabe-se lá por quanto tempo. A rede em torno dele não é grande, restrita, até. Mas envolve gente de todas as classes, anônimos e famosos, diferentes.

É gente com quem ele opera e modo humano, atento, preocupado, intenso. E as notícias não eram boas, preocupantes, o nosso Mendes estaria contundido e a beira do gramado, sendo atendido. O futuro sem este papo era vazio e impreciso.

A preocupação rolava solta, as informações eram insuficientes, enfim, era a voz rouca das ruas que falava nele. Mas o som de sua voz alegre fez uma catarse, me ligou - no momento dos boatos intensos -, provocou o efeito salutar.

Era a conscientização de uma lembrança fortemente emocional, que tinha marcado espaço por sua fora e energia, até então reprimida e não refletida, que explodia como um grito de gol agora na certeza da continuidade daquele papo experto que aponta o futuro insistente.

Para nossas vidas trouxemos um homem que, vindo do mar, Santos recebia há 46 anos, carregando uma pasta de marceneiro. Se originava de lugar humilde e antigo como ao tempo de seu surgimento no Império Romano, uma vila lusitana.

Armenio vinha disposto e seu segredo não exigia guarda na viagem, chaves ou cofres, pois pois que vinha dentro dele de braço dado com a coragem: era a criatividade que, para o Físico Albert Einstein, em determinadas situações vale mais que o conhecimento - o que se provou aqui.

Sua história é exemplar, curiosa e atraente, é uma notícia por seus detalhes atípicos, que se pode aferir, que ele conta, satisfeito. São raros os eventos semelhantes protagonizados por imigrantes portugueses como ele.

Armenio difere-se da de pessoas que vemos todo dia por sua garra – chamaríamos libido, vontade, obstinação no sentido original alemão. Quem explica esse sentido é o escritor Herman Hesse, descrevendo a construção da palavra naquele idioma no livro "Narciso e Goldmund”: obstinação, a vontade ("des eigenenn") do próprio ser ("sinn").

Frio, dizem-no quase todos que não o conhecem, ao contrário seu jeito discreto de ser agregou muita gente produtivamente. E em muito maior número do que em meras relações formais, ou seja, dialeticamente, ao avesso do pressuposto inicial. Sem fazer festa, é mais amigo do que os outros.

As pessoas, ao receberem a notícia de sua vitalidade retomada, foram tomadas por uma irradiação coletiva e eficaz de expressão otimista. E ficaram em festa. É fácil vê-las manifestas: difícil aquilatá-las na natureza social de sua existência, como fenômeno ao som de um fado destes que faz dançar o próprio coração. Dançarino, que o diga sua parceira predileta dos céus.

Ele vencera outra vez e a esta altura sua torcida avassalava como em um côro de crianças cantando em Villa-Lobos no estádio. Reconquistava o palácio principal de seu império, seu próprio ser promotor de emoções com que lida (aparentemente) sem transmitir emoções. Porque é sério e preciso e, repete ele, alguém tem que sê-lo.

Seu prazer mais caro no sentido de querença, do sítio preferido dos animais, ato de querer sem querelar, é o charuto, o vinho e a conversa franca que rola na mesa, que habita leal e lépido com seu raciocínio rápido e conclusões assertivas por trás das camisas bordadas em seu “A.M.” por sua Celeste.

Na verdade sensível, forçado a disfarçar, Armenio comanda com cara de durão um universo de Atividade em que se coloca e se traduz em meio a milhares de beneficiados, ele responsável por eles, indutor.

É bom dizer logo que o problema que teve Armenio era genético e poderia acontecer a qualquer hora, não significou esgotamento. Portanto, paira distante qualquer outra hipótese para este Mauá, feito como ele, senão a de continuar com a gente na velocidade máxima de sua obra magna.

Magna de compromissos “prime”, primordial, primeiro, principal – no compromisso do fio de bigode que um dia tirou, sério e sempre no prazo, há mais de 30 anos.

A referência ao Barão e depois Visconde de Mauá, que tinha mais dinheiro que o governo, não é gratuita porque de origem e formação idênticas em áreas pobres - o Arroio Grande gaúcho e Chão-de-Couce português de Leiria.

Armenio e Mauá tiveram nos números e letras o mistério de sua multiplicação agregadora de almas e aventuras de tanta gente. Armenio não esquece a mestra Esmeralda quem, na verdade, lhe deu o amor pelos números.

Não é outro o sentido de Armenio e sua rota experimentada nos monumentos deslumbrantes, que ele propicia faz desfilar em espetáculo universal das essências pessoais dele para todos - sua forma de transmitir amor -, que envolve em ligação superior de alma e de pele.

A forma dele é esta, sem sentido para quem prefere o recolhimento da reflexão oca, momento este que para ele promove aos saltos de qualidade de vida para cada vez mais gente.

Armenio Mendes é esse sujeito que no espírito de sua comunidade, que gestiona, produz e permite multiplicar agregando mais e mais gente, vive essa alegria do coletivo de pessoas engajadas em sonhos de crescimento e progresso.

Estes sonhos tem nele Armeno o guia dedicado e simples, sem gostar de fotos nem floreios como quem tem a noção das dimensões da vida que ele procria como ninguém na sua azáfama, no seu empenho que também é prazer, este que ele gera.

Disseram-me outro dia na praia que era preciso “... que alguém segurasse esse português” avassalador do concreto colorido e luminoso com que enche as cidades e recupera socialmente núcleos urbanos, em nobre tarefa para a qual o retorno que usufrui é pífio e insignificante.

Diante de tal "levantada de bola", as coisas para o que temos respostas prontas e bombásticas, respondi como ficariam os que mudam para cá, se estabelecem aqui, se alguém “segurar” Armenio - como se sugeria?

“Onde eles vão ficar” foi minha indagação, ó raios, porque ele só tem a sua família e sua casinha em Chão-de-Couce, Distrito de Leiria, perto da casa da mãe de 87 anos e com palmeiras no jardim. E seus vinhos e charutos e amigos, nada mais.

Pergunte por ele lá em Portugal e logo vão te apontar a residência do “Brasileiro das Palmeiras”, estas plantas perenes e altas, soberbas, que ele trouxe para a terrinha por que lembram Santos e o Brasil - que em sua casa lusitana em que vai uma vez por ano é cenário desta sua irmandade de 46 anos.

O trabalho é nossa matéria e nossa história, a precisão seu detalhe. E a precisão exigida por Fernando Pessoa para os navegantes – “navegar é preciso, viver não é preciso....” - define exato de um homem que nos passos de sua profissão se desenvolveu medindo e alinhando objetos materiais.

Eram cenários que Armenio amplificou tornando oníricos, sonhos concretos. Filho e neto de pedreiro, ele nasceu e viveu na pobreza e simplicidade, o que não lhe impediu de projetar na mente e depois no papel e no suor palácios urbanos.

Um painel na parede da sua casa em Portugal mostra Santos e Coimbra, que traz grandes dentro de si, junto com a humanidade que cultua como valor essencial. Valeu o susto, mas agora chega:

Ansiamos por longa vida ao timoneiro das formas ousadas da descoberta ao futuro, as que desenha nas telas que constrói! Agora, nada será como antes, porque navegar é preciso, viver não é preciso, é incerto na Voz de Pessoa. Armenio está conosco: comemoremos!

Nenhum comentário: