quinta-feira, 24 de julho de 2008

O BONDE DA HISTÓRIA - I

O BONDE DA HISTÓRIA - I

Paulo Matos

Eles estão de volta. Santos volta a ter bondes como diversas cidades européias e norte e latino-americanas. Macios, econômicos, não-poluentes, duráveis, aqui foram considerados ultrapassados. Atrapalhavam o trânsito. Não, era o trânsito que atrapalhava o bonde. O vereador Ademir Pestana os defende como transporte efetivo de massas. Sabe o que fala.

Eles carregam muito mais gente do que os carros. Não são velozes? E quem é veloz no engarrafamento? “Bota o retrato do velho, bota no mesmo lugar...”. Agora é o bonde, turístico como propomos em nosso livro de vinte anos atrás. Logo será o transporte oficial, por suas vantagens.

Que bobagem foi retirá-lo, suas linhas, cobrir seus trilhos que estão debaixo de onde estão colocando-os de novo. Ah, santo desperdício! Estão fazendo o mesmo com os trólebus, apagando-os da história, como se pudessem fazer valer vontades imediatistas e individuais imporem-se sobre o bem coletivo. O bonde, marca da cidade que está voltando, havia sido retirado sabe-se lá por que – o lobby do petróleo e da borracha -, com suas redes elétricas e seus trilhos, que estão sendo implantados de novo a que custo!

A cidade já teve a maior rede aérea de bondes da América do Sul em 1917, vejam, um transporte exemplar que fazia mudanças e atendia pedidos para festas, para levar e trazer os convidados. Foram instalados em Santos, puxados a burro, em 1871 - um ano antes de São Paulo. Santos foi a primeira cidade brasileira a fazer transporte de mercadorias por bondes.

Isso além dos bondes serem pontuais, confortáveis e atenderem à demanda de passageiros, em números e veículos quase iguais aos de hoje com a população multiplicada. O prefeito Oswaldo Justo, nos anos 80, tinha especial amor por eles e, em seu tempo, como vereador nos anos 60, lutou por sua manutenção e contra sua retirada.

Depois, prefeito em 1984, Justo me pediu um livro sobre eles, que fiz, lançado em 1987. Era sua memória e a da cidade. Mas Papa os traz de volta, como objeto turístico. Quando voltarão como transporte popular? Quando se cumprir o contrato de concessão do transporte coletivo e instalar os trólebus? Foi obscura essa retirada...

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