quinta-feira, 24 de julho de 2008

O BONDE DA HISTÓRIA - II

O BONDE DA HISTÓRIA - II

Paulo Matos

Os bondes saíram de cena, foram retirados porque, diziam, eles atrapalhavam o trânsito – e hoje se descobre que o trânsito não tem jeito e que temos que apelar para os coletivos, a única solução para a cidade.
Era o trânsito que atrapalhava bonde e não o contrário, triste conclusão depois de desmontar uma estrutura milionária de redes e veículos que duravam um século, doados para cidades pelos interventores que passavam. Estamos trazendo bondes da Europa. Quase não temos mais os nossos bondes, destruídos a machadadas nos anos 70.

Os bondes iam até São Vicente pela praia, o que se iniciou há 135 anos registrados neste 7 de julho, em 1873. Ao invés dos ônibus que carregam seres humanos como gado, estes escravos modernos...econômicos, viáveis, silenciosos, não-poluentes, ah, o velho Justo tinha razão!

O resultado da substituição por ônibus e a privatização do sistema são as superlotações e os sacolejamentos, além da espera e da ausência. O transporte elétrico é melhor, já diria Justo quando era vereador nos anos 60. Convocou o general-presidente da SMTC General Aldévio Barbosa de Lemos, colocado da Ditadura, para provar – em 1967. Levou um ano para trazê-lo. Não adiantou a resistência do mestre, acabaram com os bondes.

Não adiantou a tenacidade do vice-eleito que não deixaram assumir, do prefeito que trouxe os trólebus de volta em 1987. Do prefeito que recuperou a CSTC com Marcos Duarte e Eurico Galatro – que estão aí para fazer a empresa pública de novo, que indicou o prefeito eleito Papa. Não, Aguiar, a luta não parou, vai voltar! Áureo de Carvalho, pode fiscalizar daí de cima! O sonho não acabou Lane, apesar de o padeiro dizer o contrário.

Vamos trazer o bonde de volta, que agora tem que ser buscado na Europa, pois os da maior rede da América do Sul em 1917 – Santos – foram destruídos, quebrados, doados pelos interventores para cidades diversas. Não há de ser nada.

Reconstruiremos o transporte público e os bondes porque eles são eternos, tem frescor em terras tropicais, não fazem fumaça, circulavam a noite toda, alimentavam o comércio e os usuários, não quebravam, não sacolejavam, não esfumaçavam, não deixavam motoristas e cobradores loucos em fazer trocos complicados.

Ah, os bondes... A cidade que os tem como símbolo turístico os traz de volta, modernos porque úteis, silenciosos, inteligentes e serviçais, escravos das pessoas e não das empresas, do petróleo, da borracha. Sua manutenção é a lavagem. Baratos demais, saíram de moda.

Os bondes estiveram por aqui desde 1908 até 1972, os elétricos – antes os puxados a burro, desde 1871. Os que o usaram antes se emocionam ao seu tremor leve, suave da partida. Os jovens se perguntam: Porque tiraram os bondes?

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