domingo, 20 de julho de 2008

LIBERDADE DE MATAR - III

LIBERDADE DE MATAR - III
Paulo Matos

Porque devemos firmar o "não" à "liberdade" que querem a indústria das bebidas alcólicas e dos que vivem dela? Ora, porque o filósofo Montesquieu, um daqueles que deram a base da Revolução Francesa, no sentido da razão, argumenta que a liberdade não consiste em fazer o que se quer. Subordina a liberdade à lei, em um raciocínio claro : se um cidadão fosse livre para fazer o que a lei proíbe, já não o seria, pois outros teriam também poder sobre ele. O que traz inerente a igualdade de direitos, que conquistaria o mundo, instituindo o direito comum. Logo, a lei disciplina e garante a liberdade. Diz-se que quem bebe fica "cheio de razão" - e faz bobagens.

A propaganda de bebidas já banida de vários países. Aqui, onde ela é mais eficiente - a massa acata - ela representa a negação da ordem social e do papel do estado. Que permitindo a injeção de veneno daS ampolas de alcóol deixa degradar seu corpo social e descumpre seu compromisso de protegê-lo. É socialmente suicida a admissão de um hábito que mata consumidores e vítimas deles. Que gera o dobro de despesas com a saúde - e a quebra da produtividade de suas vítimas com os impostos que produz. A indústria do alcóol movimenta bilhões de dólares, mas é o único produto no mundo que tem uma relação custo-benefício negativa para a sociedade. Os prejuízos sociais decorrentes do ato de beber são gigantescos, vide acidentes, prisões, agressões...

Quem lucra com isso ? Como admitir esta lógica liberal da defesa de empregos, da produtividade e do lucro? Só se, no processo de exclusão das massas improdutivas e excedentes, adotarem Malthus – o inglês que no fim do século XVIII, propôs superar a insuficiência de alimentos com projetos de ampliação das taxas de mortalidade. Este é mais eficiente. A propaganda alcoólica pela TV, dentro dos lares, atinge indiscriminadamente homens, mulheres, adolescentes e crianças, plantando ilusões de sucesso. Admitir lucro social dessa atividade econômica é inexplicável, fruto de poderosos lobies. Cerca de 90% dos iniciantes tem menos de 18 anos, convencidos pela propaganda.

Para o filósofo Hegel, liberdade é a necessidade compreendida, o conhecimento da necessidade. Não é só teoria, como para Spinosa, mas história – o conhecimento histórico da necessidade. Que não implica em escravizar-se a ela conscientemente, mas a determiná-la. Cabe ao homem liberdade moral, de ação e decisão, com consciência de causa. Necessidade coisificada, fetiche, induzir ao consumo alcólico é negativo. Não é a liberdade um conceito fictício, abstrato e metafísico, mas vital na existência de bilhões de pessoas. Como na máxima de Louis Blanc, de que a liberdade não é só direito, mas poder – que exige seja exercido com regras, para exercício coletivo.

A liberdade não pode mais se tornar apenas privilégio dos mais fortes – favorecendo o predomínio do poder econômico e a escravização do homem pelo homem.Cabe ao estado intervir no equilíbrio entre liberdade e autoridade. ampliado significado ideológico. Liberdade é ousar criar e transformar, não escravizar-se. É
o domínio humano sobre a natureza e sobre a própria natureza. A propaganda alcoólica é inadmissível como a tortura, proibi-la um ato de defesa social. Devemos argüi-la real e suprema, no império da sociedade humana. Vale a pena pensar nisso, antes de você ou ou seus serem vítimas de um destes. A direção está correta.

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