TRANSGÊNICOS E A DERROTA DA VIDA
PAULO MATOS
O futuro de nossos filhos depende de impedirmos a vitória dos transgênicos. Ao aceitar a edição da Medida Provisória que permite a plantação de uma única safra, delimitando sua área – que para nós faz, por analogia, a liberação das drogas -, o Presidente Lula preservou os direitos dos agricultores gaúchos que foram no golpe da Monsanto et caterva.
A empresa norte-americana Monsanto vendeu as sementes contrabandeadas e baratas sob a promessa de grandes safras e custos reduzidos. Como na época em que seus colonizadores patrocinavam os piratas e corsários ladrões dos mares, a potência mundial utiliza de métodos ilegais de forçar o ato consumado.
Mentem os patrocinadores da transgenia, pois a tecnologia não se sobrepõe ao clima – a produção pode ser até menor. E nossos compradores ameaçam rejeitar nossas exportações com essa introdução. E faz os custos maiores a longo prazo, aniquilando produtividade e mercados. Há barreiras sanitárias na Europa e na China, que exigem certificados da não-utilização da transgenia.
Mas há outros fatores que condenam a nação neste processo e elas exigem ser impedidas, custe o que custar. É a nossa renúncia ao futuro: é inadmissível a regulamentação da biotecnologia por uma MP, ameaçando a maior biodiversidade do mundo, na teoria do fato consumado, desprezando a teoria científica da precaução – Resolução 305 CONAMA, Lei de Biossegurança, 8.974/95, Decreto 3.871/01. A EMBRAPA garantiu em 2 de setembro último que inexistem pesquisas conclusivas sobre os riscos à saúde dos consumidores.
O Governo federal está dividido quanto aos transgênicos – a Ministra do Meio-Ambiente Marina Silva se juntou ao MST nos protestos contra a MP dos transgênicos, para que plantemos nossa terra como irmãos e não padrastos cruéis. E as posições favoráveis não são assim tão favoráveis, mesmo porque as evidências mostram que se trata de um desastre econômico, político e ambiental sem precedentes – afrontando as leis e o Judiciário, que tem decisões contrárias à plantação e comercialização dos transgênicos. Em risco, a economia, a soberania, o meio-ambiente. Em choque, a lei de Patentes e a Lei Ambiental.
Não existe nenhum estudo de avaliação dos riscos à saúde impostos pelos transgênicos, em discussão desde 1994. As grandes empresas evitam investir nesse cuidado. Só afirmam, falaciosamente, que eles não precisam de agrotóxicos, no que mentem novamente – agredindo sem dó a lei de Proteção ao Consumidor. Um relatório do pesquisador americano Charles Benbrook garante que a soja modificada exige 11 a 30% mais agrotóxicos que a soja natural, que absorve 200 vezes mais venenos que os outros alimentos.
O Glifosato, agrotóxico aplicado até 100 vezes mais nas agriculturas transgênicas, já matou 500 mil no Vietnã e intoxicações por resíduos nos trabalhadores, sem se conhecer seu efeitos nos produtos – configurando crime contra a saúde e a ecologia.
Nos EU, 300 produtos transgênicos foram recolhidos por problemas alérgicos, que enfraquecem sistema imunológico, que resiste a antibióticos e provoca câncer. Foram 35 pessoas mortas em razão de um produto japonês com transgênicos, com danos permanentes em 1.500. Águas contaminadas, terras tornadas improdutivas. Transgênicos.
Os transgênicos são a forma mais perfeita e acabada da dominação capitalista internacional, o monopólio das sementes que não reproduzem e escravizam a seus produtores o potencialmente maiores país do mundo em produção agrícola. A semente que contamina pelos ventos causou a ampliação da miséria nos campos da Argentina.
Os transgênicos são a síntese do sistema econômico que despreza as causas remotas das ações que visam apenas o lucro rápido, como descreveram Marx e Engels há quase um século e meio.
Apenas 3 países do mundo produzem 95% dos transgênicos, Argentina, Canadá e EU, que mantém as 5 empresas capitaneadas pela Monsanto – que quer reservar a vida de 6 bilhões de pessoas. nas mãos de ½ dúzia. A Europa, nosso maior comprador agrícola, em 70% rejeita os transgênicos e em 94% exige a rotulagem, que vai virar lei até para as rações. Vamos matar a galinha dos ovos de ouro com os transgênicos, como os maiores fornecedores de soja do mundo, hoje.
É mais uma mentira que os transgênicos acabarão com a fome no mundo, que já produz o dobro do necessário para alimentar a todos, o que exige distribuição e mudança social. Um texto de Engels de 1876 diz que aprendemos, a cada dia, a compreender as leis da natureza e conhecer seus efeitos, imediatos e remotos, a curto e longo prazo, seu significado em nosso desenvolvimento.
O companheiro de Marx dizia, há 127 anos atrás, que compreendendo as conseqüências sociais de nossos atos na produção, estendemos a estas conseqüências nosso domínio e controle. Mas não basta o conhecimento, reflete: é preciso modificar este sistema que, visando o lucro imediato, condena o futuro do homem na terra.
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