sexta-feira, 18 de julho de 2008

1968 III

1968 - III

Paulo Matos

No pós-guerra em que nasciam os jovens que seria a puberdade de 1968, os que queriam parar com aquela estupidez, iniciou-se imediatamente outra guerra. Esta era fria, iniciada antes mesmo de contados os mortos de Hiroshima e Nagasaky, os que a bomba atômica americana matou no Japão. Era a demonstração do genocídio norte-americano, na afirmação da vontade imperial de Tio Sam. Os jovens que nasceram no pós-guerra queriam o cumprimento da Declaração dos Direitos do Homem, das revoluções francesa e norte-americana do século XVIII – mas queriam também ir além.

Os tempos são diferentes destes de hoje, em que se fazem campanhas para buscar os jovens para a política oficial e não os atraem pelo coração, que vai mais longe. Não existem mais as organizações que pensem em abstrato, em idéias – no espírito transformador de 1968, extirpando os vícios sociais e mortais. Que são produto da violência dos tiranos da América Católica, dos europeus que ficaram satisfeitos com a Revolução Francesa e não quiseram seguir. Ou à Guerra do Vietnã que ocupava com manifestações as ruas dos Estados Unidos, no Movimento Hippie ou na Ação Revoltosa dos negros aptos e conscientes da sua igualdade.

Em 1871, no mesmo mês que 1968 explodiria em Paris, os trabalhadores tomavam o poder na cidade. Mas de 21 a 28 de maio 20 mil franceses foram chacinados. Ao escrever sobre o episódio, Karl Marx disse que a Comuna de Paris, o efêmero da direção da sociedade pelos trabalhadores, foi um frustrado “Assalto aos Céus”. 1968 foi assim, mas produziu a substância do Poder Jovem restaurando a razão.

Como 1968 durou tão pouco e significou tanto, para tantos ? Seria a rebeldia secular? Em 1868, depois de reingressar no curso de Direito da São Francisco, em São Paulo, o poeta Castro Alves explodia libertário no Rio de Janeiro para derrubar a escravidão. Era a causa que não viu atingida, até hoje incompleta.

Em 1868 reunia-se a Internacional Socialista para armar as estratégias da redenção dos povos do mundo, nessa marca que germinou 1968. Castro estava nessa. Os dois, o da poesia e o da ilha do Caribe, mesclando materialismo com romantismo, buscando a liberdade além da mera formalidade – adequação ao futuro, desconstrução, desafio como aquele ao Tio Sam. Ah, 1968! Amanhã, 1968 outra vez.

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