sexta-feira, 18 de julho de 2008

1968 II

1968 – II

Paulo Matos

1968 era o tempo de Martin Luther King, um pastor batista de voz forte, parecido com o nosso herói Tarquínio, que cantava “Eu tenho um sonho” – (“I have dream!”) em seus discursos. Nesse tempo, ele levava neste ano uma passeata de quatro milhões sobre Washington, por igualdade e justiça. Foi assassinado, é claro, há 40 anos, em 1968, em um quatro de abril.

Aqui cem mil forravam de gente a passeata na Cinelândia, no Rio de Janeiro, em junho. Protestava-se contra o assassinato de Edson Luiz, que só tinha16 anos, as cassações, às repressões, aos crimes, à censura. O país não era e não seria jamais um quartel. Essa rebelião se espalhava pela era na França, na Itália, na Checoslováquia, no Brasil e na América do Sul e Latina, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra, enfim. 1968 foi mundial.

Era uma gente criativa essa de 1968, colorida e de cabelos longos, igual, intelectual e engajada em mega-soluções e ações diretas - que impregnava de alegria uma geração cujas causas ultrapassavam o umbigo que se discute hoje. Ao contrário do que dizem, 1968 começou no Brasil, concomitante aos estudantes de Nanterre, que brigaram por não poder mais visitar as moças nos dormitórios. Aqui, uma manifestação para melhorar a comida do restaurante Calabouço detonou essa ação coletiva.

Em 28 de março tombou Edson Luiz com 16 anos, baleado pela polícia, inaugurando 68 aqui. Um ano que acabaria, no Brasil, com um ato violento em que a Ditadura se baixava pesado, em 13 de dezembro. Eram dez mil cassados e impedidos de atuar na política, o Ato cinco. Temos heróis que denunciavam a tortura, temos os que morreram. E os que foram soltos depois da ação libertária integrada por Gabeira, letra e música, herói.

Mas o que foi 68? Depois de mais três décadas, ainda está em estudo, garantem os especialistas em análises sociológicas, históricas, psicológicas, pois explodiu em diferentes formas no mundo, a favor e contra o stalinismo, contra o racismo, a guerra, a Ditadura Militar brasileira que torturava e proibia, enfim. O espírito de 1968 correu o mundo sem a Internet, que não existia. Foi a globalização da revolta, ansiosa por um mundo novo, produzida pelo espírito de Eros, a exarcebação da vontade, da libido. 1968 foi profético.

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