quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

SANTOS, 464 ANOS MUDANÇA DO DIA DA CIDADE?

SANTOS, 464 ANOS
MUDANÇA DO DIA DA CIDADE?
- Historismo e História

Paulo Matos (*)

A propósito do enunciado do colega historiador Waldir Rueda versando sobre a mudança da data do aniversário de Santos, tenho a comentar que a idéia da mudança, para este modesto intérprete da ciência historiográfica, deveria apenas aceitá-la como valor maior. Por isso, a data deveria ser regional e não municipal, para que não seja apenas historismo - ou seja, apenas narrativa histórica, sem crítica ou análise.

A expedição denominadora que trouxe o bacharel da Cananéia Cosme Fernandes em 1502 deu nomes cristãos à costa brasileira – e esta é a data do surgimento comum de toda a região em 22 de janeiro desse ano, dia de São Vicente. Foi em 22 de janeiro que chegou à atual Ponta da Praia a expedição, onde era possível o aportamento, fantasiosas outras versões encenadas. Santos teria, pois, 508 anos. Mas contamos 464 da elevação á vila na data provável de 1º de novembro, não os 170 da elevação à categoria de município em 26 de janeiro. Ou seja, nesta data comemoramos outra. Deu para entender?

O bacharel fundaria em 1506 o porto de São Vicente. Por coincidência, é mesma data da chegada de Martim Afonso 30 anos depois, na expedição militar que expulsaria o bacharel. Logo, deveria ser esta a data do aniversário da Baixada Santista. A mudança do dia 26 de janeiro para a comemoração santista esbarra no aspecto de que a atual carrega um valor inolvidável para os profissionais de história e, por isso, pesa sobremaneira na escolha: Trata-se da tradição do projeto do deputado Amaral Gurgel, assinado pelo presidente da província Venâncio José Lisboa no dia 26 de janeiro de 1839, a Lei 122- apresentada a 11 e publicada a 28 deste mês. Era a homenagem a José Bonifácio, desaparecido em 1838.

Existem origens possíveis do nome Santos, impossíveis de confirmação antes que se pesquisem os arquivos da Torre do Tombo em Portugal. Pode ter sido o rio dos Santos inocentes o que inspiraria o nome que substituiu a denominação indígena, Guaiaó, o lagamar de Enguaguassu: mas o fato é que se firmou a tradição de marcar como sua data a da elevação à categoria de cidade em 26 de janeiro. A maior probabilidade é de esta data ser a do Dia de Todos os Santos, 1º de novembro.

Guaiaó era o nome indígena da Ilha de São Vicente, que compreende as cidades de Santos e São Vicente, conforme citado na escritura das primeiras terras doadas a Pero de Góis em 1532. Francisco Martins escreve em sua obra da história de Santos que era brasílica (indígena) a origem da palavra, mas revê sua posição e lhe credencia como de origem judaica. 

Encanta-me a possibilidade da fundação real, popular, ser a escolhida – e esta é a da fundação da primeira comunidade pelo bacharel da Cananéia, 30 anos antes de Martim Afonso trazer Brás Cubas - mas inexistem condições históricas para aferição da data. Outras cidades têm como data de fundação a de sua história real, não meramente oficial, de sua fundação comunitária – e esta é a do bacharel. Logo, não se deve promover alegorias e pantomimas historientas e inexistentes como espetáculos pseudo-históricos, como tem anualmente ocorrido. 

Paulo Matos 
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito 
E-mail: 
jornalistapaulomatos@yahoo.com.br 
Blog: 
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Twitter: http://twitter.com/jorpaulomatos 
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