segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O CONFLITO DAS IGREJAS E OS PODRES PODERES

O CONFLITO DAS IGREJAS E OS PODRES PODERES

Paulo Matos (*)


No cerne da questão e no âmago desta história, amarga lembrança de uma época, a feroz disputa capitalista entre desonestos extrativistas do dinheiro público, cultores da barbárie. Em uma visão otimista, ao final da contenda a mútua destruição dos contendores só pode beneficiar a sociedade. É positivo que as massas tenham conhecimentos sobre a podridão dos processos inerentes à gênese destas instituições, que disputam entre si o prêmio da pior e mais imoral trajetória.

Muito se tem proclamado sobre as denúncias de parte a parte sobre o conflito das igrejas Globo x Record, sem que se tenham lidos conceitos de valor senão na defesa de parte a parte. A princípio, é bom esclarecer que busca de uma conclusão sobre quem está certo é uma perda de tempo, para o que jamais teremos resposta porque a razão não está em lugar nenhum desta contenda. Mas estejamos alertas, porque ambos, donos de poderosos meios e comunicação, compõe o círculo do poder, tem forte penetração de seus líderes e já fizeram (e podem fazer) deputados, senadores e presidentes da República. Suas orações são diferentes, mas iguais em sentido. O pior é que o governo depende deles. Oremos. Mas a quem?

Trata-se de um embate feroz e a única conclusão possível até agora é que sem uma forte intervenção do Estado nas telecomunicações, como nos países desenvolvidos como a Itália antes da tragédia Berlusconi, estaremos nas mãos das baratas nesse concerto, abandonados à sanha dos mercadores. E como resposta ao estado de indigência intelectual das massas, atingidas por este liquidificador de informações e culturas que é a TV, basta a pergunta sobre o conteúdo desta que invade os lares e bestifica o populacho com novelas disseminadora de vícios e violência, uma rede de atos marginais a lhes palmilhar a trilha, deixando envergonhados, por sua timidez, os batedores de carteira.

A sociedade que transformou em mercadoria seus valores mais sagrados, como anunciou há 40 anos o psicólogo Cláudio de Araújo Lima em seus livros “Capitalismo e angústia” e “Amor e capitalismo” não pode protestar contra o ingresso de modelos de fé ao estilo Globo ou Record, ambas igrejas deste processo que enlouquece e mata milhões pela violência dos exércitos, das bombas, da propaganda que desperta desejos crescentes para coisas inúteis, que exerce o poder do fetiche multiplicando seus preços e sacrifícios, que enche o mundo de fumaça e de ídolos vazios e efêmeros que acirram as carências.

A ausência de um culto aos valores permanentes da filosofia e das artes cria devoções a elementos bárbaros que não acreditaríamos possíveis - e eles se impregnam deleteriamente a sociedade até que surjam salvadores com métodos assépticos. A igreja da Record com sua antiga teoria da prosperidade apenas percebeu o caminho para extrair dinheiro as massas e com ele exercer o poder que foi concedido na Revolução Francesa aos que o possuem – e exerce rumo ao poder que, nesta marcha, conquistará trazendo de volta a Idade Média.

É como o presidente-ditador nesta fase Getúlio Vargas, que às vésperas da Segunda Guerra e diante da ascensão de Hitler anunciava uma “nova ordem mundial” diante da desorganização liberal: era o “Estado Novo”. Uma tese que teve reações aqui dos comunistas, que com sua luta mostraram o outro lado, ao que ficamos e que nem por isso era muito melhor que o outro.

Aqui o egoísmo e a miséria impostos pelo capitalismo feroz e cruel, levando ao caos da ignorância e do desespero no conflito de classes que apesar de Fukuiama não acabou, a sociedade deságua em crises ridículas e reais sobre um conflito entre poderosos interesses privados, ambos com larga e longa mancha de atos anti-sociais de pregadores de ilusões. Montados em cavalos alados e espalhando a fé em bezerros de ouro, atrelados a crendices milenares crentes na imaterialidade do espírito e da alma, na existência de seres superiores na fé imposta a pobres coitados formados e educados para serem objetos de um processo opressão e exploração abjetos e nojentos – que mata e alucina com seus podres poderes.

A Catedral santista está fazendo cem anos, símbolo maior do catolicismo secular e tradicional em nossa cidade e que arrasta centenas de milhares de pessoas, agora enfrentando os pentecostais e neo-pentecostais evangélicos, com suas canções e soluções rápidas através do Espírito Santo. Quando inaugurada em 1910, os jornais de trabalhadores de cunho anarquista e que apontavam como inimigo maio o obscurantismo religioso, era intenso em sua explanação revolucionária.

Estes jornais escreviam, então, como no jornal “O Proletário”, anarcossindicalista: “No país em que faltam hospitais e escolas, pululam as igrejas”. Eles perderam a guerra da comunicação pós a invasão midiática brutal e avassaladora sobre as consciências, que convive agora com a estupidez de um debate que a sociedade deveria ter superado junto com o sistema cruel que o permite.

(*) Paulo Matos é jornalista, historiador pós-graduado e bacharel em Direito.

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