sábado, 6 de junho de 2009

A MARINA NO LUGAR CERTO - A redenção turística de Santos

A MARINA NO LUGAR CERTO
A redenção turística de Santos

Paulo Matos (*)

A proposta de instalação de uma marina em Santos, fartamente anunciada, chegará com o atraso de décadas em relação a esse potencial turístico. Capaz de gerar turismo e tributos, renda e empregos, trata-se de uma evolução que marcará a presente gestão municipal, atendendo a uma vocação óbvia da cidade.A Espanha, com uma costa bem menor que a brasileira, tem seu maiorfaturamento no turismo e deste, 60% vem das marinas. Se a fizermos no Valongo, ao lado do porto, teremos que colocar duas placas aos que chegam pela barra: “Marina nos fundos”. E outra: “Cuidado, mar cheio de óleo”, no porto. Não será legal.

Porque ocultá-la no Valongo, na retaguarda da cidade, local em quese instalou o porto há mais de um século? Não há dúvidas de que o centro histórico de Santos, hoje relegado à condição de "periferia", de há muito requer medidas revitalizadoras, mas há estratégias de utilização que muito melhor se instalariam, atendendo inclusive à necessidades regionais, não devidamente consideradas pelo planejamento da cidade...

Como misturá-la com rebocadores e navios? A principal virtude de Santos, em relação às demais cidades que ofertam vagas em marinas, é sua proximidade e acessibilidade à São Paulo - segunda ou talvez terceira maior concentração demográfica do planeta e a maior concentração de renda do país, seu grande pólo emissor de turismo.

Se tomarmos o exemplo de um veleiro que venha a sair do Valongo, em sua marcha de navegação reduzida (mesmo que navegando com seu motor auxiliar), consumiríamos em torno de duas horas até que tenhamos atingido mar aberto. Tempo que adicionado às duas horas de viagem rodoviária, do planalto para Santos, certamente estariam levando esse usuário a repensar noutras alternativas mais cômodas como, por exemplo, Bertioga, Ilhabela ou Ubatuba. Seria uma marina só para santistas, desinteressante para os turistas.

Inspirar-se no modelo "Puerto Madero" traduz pouca lucidez de seusproponentes e defensores, até porque os condicionantes urbano-geográficos lá são outros. A largura do Rio da Prata, fronteiriço ao "Puerto Madero", é tal, a ponto de não se enxergar a margem oposta, obviamente franqueando espaço e lazeira à navegação recreativa. Além do mais, o adensamento populacional de Buenos Aires em torno de Puerto Madeiro não deixa dúvidas no que diz respeito à facilidade de revitalização dessa região da capital argentina, realidades muito distintas do caso santista.

Há 505 anos, em 1502, dois anos após a chegada dos portugueses na faseda expansão dos mercados e na crença do euro-centrismo, chegava a expedição denominadora de Vespúcio. Em 1506 era fundado o Porto de São Vicente na Ponta da Praia. Foi em 1532, no mesmo local e à mesma data de 22 de janeiro, chegaria a expedição de Martim Afonso de Souza, trazendo o que seria o "fundador de Santos" - Brás Cubas - destinado a reprimir a comunidade do Bacharel-fato que culminou num conflito em 1537.

Foi Cubas quem transferiu o porto do Góes para a parte montante do estuário santista, local que além de propiciar os mesmos recursos de "aguada", também oferecia proteção contra os ataques de piratas. Para escondê-lo, o que não poderemos fazer com a marina. Hoje, sem piratas nem corsários, não há porque ocultar-se uma marina.

Projetada e planejada há três décadas, com modernas técnicas ambientaise reconhecido valor no meio científico-acadêmico, a proposta da marinada Ponta da Praia recebeu a adesão entusiástica dos prefeitos Carlos Caldeira, Gilberto Adrien, então secretário municipal de turismo, e do saudoso Aníbal Martins Clemente, fundador e presidente da PRODESAN - arquiteto a quem muito devemos por sua contribuição ao desenvolvimento da cidade, além das obras de inquestionável qualidade que foram realizadas sob sua gestão.

Digno é notar que, devido à poderosa estratégia turística para Santos, a proposta pioneira da Marina da Ponta da Praia fora objeto de diversas contrafações praticadas por entidades privadas e até mesmo pela própria administração municipal, mas, graças à valiosa recomendação de registro de propriedade intelectual sugerida pelo arquiteto Aníbal Martins Clemente, ficaram assegurados os direitos autorais no que diz respeito ao projeto de seu proponente, arquiteto José Carlos Lodovici.

Ao término dos anos 70, época em que foi projetada a marina da Ponta da Praia, o então secretário de turismo da Santos – Gilberto Adrien - chegou a idealizar a formação de uma sociedade de economia mista – a Santos-Tur – visando implantar e administrar a “Marina Santos”. Tratava-se de uma antecipação à “parceria público-privada”, idéia que poderia retomada na atualidade em face da regulamentação da lei que institui essa natureza de participação societária.A marina da Ponta da Praia protegerá aquela costa que vem sendo seguidamente invadida pelo mar.

Recentes administrações pelas quais a cidade passou, também equivocadamente, consentiram e promoveram a construção de obras - ditas turísticas - como píeres, bares e quiosques. Impõe-se assim o desafio de edificarmos algo que se revele à altura dasatrativos naturais dos concorrentes, talvez a redenção turística de Santos.

(*) PAULO MATOS - Jornalista, historiador pós-graduado e bacharel em Direito jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
Fone (13) 97014788

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