quarta-feira, 20 de maio de 2009

ALERTA PARA A VIOLÊNCIA

ALERTA PARA A VIOLÊNCIA
DE EUCLIDES E CANUDOS

Paulo Matos (*)

Maio 2009

A reportagem sobre a já denominada “Guerra de maio em SP”, no início da noite desta quarta-feira - 13 de maio da Abolição, das flores e casamentos -, reportou uma rebelião popular contra a prisão de jovens adolescentes supostamente traficantes. E pela reação deu sinais, que recordam Canudos e Euclides da Cunha, desta crescente de violência. Quo vadis? Para onde vais, criando guetos miseráveis e resistentes, ó sociedade? Com o crescimento da exclusão social, eles tendem a se expandir. E agora?

Bandos incendiaram ônibus, caminhões e rede elétrica em diversos pontos na Zona Leste da Capital paulistana. Detalhe da reportagem é que ela foi narrada de um lado só – o que já é parte do problema -, sem identificar seus motivos na fonte. Eles estavam errados e pronto: ficamos ignorantes de suas causas, dos que nunca tem voz e nem tiveram. Seria esta uma das matizes históricas de suas ações? Refletir é bom. Pensar não dói, sem medo.

Mas as dimensões e prejuízos do evento assustaram e pedem reflexões mais inteligentes e mais urgentes, sem raciocínios estanques ou maniqueístas. É preciso atentar que não basta uma visão nem uma análise parcial do fato, bandidos versus mocinhos e entender a questão como um fenômeno social indicador de rumo, que é preciso modificar.

Mas se a cobertura parcial é questão de jornalismo, lembremos que já há mais de um século Euclides da Cunha escapou dela, amadurecendo no seu transcurso ao discorrer a Guerra de Canudos. Euclides compreendeu o conflito (1893-1897) em sua essência e o denunciou ao mundo, há cento e sete anos em “Os sertões”, alterando o rígido discurso positivista no discorrer da narrativa.

Não desejamos tanto: sabemos que emburricamos, com as máquinas advertidas por Chaplin. Para dizer o menos, como naquela máquina inventada pelo personagem do filme de Alberto Cavalcanti, “Simão, o caolho”, de uns 50 anos atrás. Atentemos para a questão social e observarmos que a questão do conflito está entrando em uma fase perigosa. E que não basta a repressão cada vez mais incisiva da PM para resolvê-lo - cujos procedimentos precisam ser questionados, pois que indutores de reações violentas e prenunciadoras do caos.

Não adianta os apresentadores de programas populares ficarem elogiando a ação policial, que a característica de acirramento do conflito pelos seus procedimentos não se afasta e o divórcio se consagra. As crianças crescem com medo. Mas o que fazer diante de ações ousadas “do outro lado”, se é que ele existe e se temos autoridade para fazer esta divisão como um bolo de fubá, como esta – endossando as ações sem conhecê-las e tomando partido igual jogo de futebol?

Por que deixamos a situação chegar neste ponto? Ela não chegou a isso sozinha, se há tráfico há consumidores e um mercado de trabalho carente a filiar-se. E se há consumo há um quadro social que o alimenta, na busca da satisfação de ilusões consumistas plantadas e negadas, nas diferenças sociais acirradas pela propaganda que atinge os centros de desejo.

Não será através do cassetete e no tiro a solução, complexa. Alerta, pois a coisa não é assim tão simples. Isto está aqui e em todo o mundo. É preciso amenizar o conflito e amaciar a relação da polícia com o povo – ou a guerra terá contornos cada vez mais graves. Não bastam metralhadoras, bombas de gás, choques elétricos, balas de borracha, desfiles de viaturas, demonstrações de força. Não bastam civis vestidos de militares em clima de guerra. É preciso incorporar professores e intelectuais junto com sociólogos nessa análise em busca de soluções ou caminharemos, como caminhamos céleres, para o caos. Alerta.

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