domingo, 30 de novembro de 2008

EURICO DO TRANSPORTE COLETIVO GALATRO

Paulo Matos (*)
É simples a concepção de uma empresa pública de transporte coletivo, que não exige investimento prévio e cujos ônibus locados se pagam e a viabilizam, dentro de técnicas de racionalização e estrutura de gestão eficientes. Que permitem custos reduzidos na tarifa, na consagração do ideal coletivo e não individual, evitando sua entrega para interesses outros que não o das pessoas.

E isto é o que repetia e praticava Eurico, o ex-diretor da CSTC de Justo, que nos deixou recente. Seria desrespeitoso não saudar esta memória, no serviço responsável por boa parte da vida de milhares de oprimidos escravos modernos, usuários do sistema em ônibus lotados. E cada vez mais submetidos à precarização desta forma de serviço público, a que se aplicou em todo país a tese da terceirização, com grandes lucros em poderosas organizações – cujo progresso não contribui com as cidades e sua gente.

Esta questão é atual, pois a necessidade de serviços eficientes e confortáveis de transporte é hoje uma exigência das cidades para sua viabilização, não apenas relativa aos direitos populares, mas à sua logística operacional inevitável. De nada adiantam as anunciadas estratégias para evoluir o sistema se o objetivo é atividade empresarial e não serviço público, poucos e ruins veículos impróprios que degradam a condição dos motoristas, retirando os cobradores, inclusive.

A notícia da partida de Eurico, o caminhante aplicado de praia, rápido e diário, adepto da técnica tailandesa de movimentação concomitante dos braços, surpreendeu. Jovem, pela casa dos “enta”, Eurico Del Carmine Galatro foi um administrador daqueles buscados por Justo na COSIPA, para desenvolver o projeto de regeneração da CSTC – a Companhia Municipal de Transporte Coletivo – em seu governo de 1984 a 1988 em que saneou a empresa CSTC então em crise.

Nos filmes do diretor japonês Akira Kurosawa é mostrado, nas cerimônias fúnebres, o culto à memória do desaparecido - uma prática deste povo sábio, que tanto inspirou Justo com seu banchá e o culto que fazia ao Japão e à cidade-irmã de Shimonoseky. Aos mestres de karatê como Yoshide Shinzato, da técnica marcial milenar que tinha salvado sua vida com a macrobiótica e que valorizava na prática e no discurso, no valor da disciplina.

Seria traição à memória do amigo Eurico não falar de seu trabalho, de sua técnica, de suas idéias e comportamento ético, para ele obrigatório no perfil do administrador popular. Eurico, com o também caminhante de praia, administrador Marco Alonso Duarte - que ocupou a presidência da CSTC naqueles tempos de um intenso programa de regeneração que a tornou lucrativa.

Eles eram autores da idéia original de tornar possível e viável uma empresa pública de transporte coletivo, no projeto apresentado em 1985. O que fez na companhia do administrador Marco, junto com o engenheiro Armenio Russo e Vicente di Gregório, os advogados José Coelho e Lupércio Mussi, entre outros que vieram depois.

A memória do lançamento na Prefeitura do livro encomendado por Justo e editado em 1987, que escrevi – “Transporte Coletivo em Santos, história e Regeneração”, em companhia de Ricardo Evaristo dos Santos -, refaz o cenário dessa vitória rara em uma área em que nenhum prefeito consegue sucesso senão cedendo a interesses privados.

Na crise do sistema, em 1985, Justo chamou a todos para contribuir, indo buscar esta eficiência na COSIPA, entre seus técnicos. Para começar, ele plantou flores e transformou a empresa. Quando Justo convidou-me a descrever a tarefa, notou minha atração pelo tema - o que vinha do movimento popular e me fez produzir um TCC na Universidade, na fé da essencialidade do sistema para a população.

Foram coisas simples que tornaram a CSTC pública eficiente e lucrativa, nada complexo, mas sincero. – nos procedimentos que ele fiscalizava pessoalmente na tarefa que era o orgulho de Justo. Foi esta a mensagem popular que eles incorporaram e hoje discutem na logística do céu. Saudações, Eurico. Continuamos a cumprir a tarefa.
“Transporte Coletivo em Santos, história e regeneração” – email: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br

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