quarta-feira, 9 de julho de 2008

CRÔNICA LITORAL - II - REVOLUÇÃO DE 32

CRÔNICA LITORAL
JORNALISTA E HISTORIADOR PAULO MATOS
Amigos da CBN Litoral e Litoral FM:
E por que é feriado hoje? É importante saber da Revolução de 32. Você conhece uma praça que virou rua atrás do Colégio Canadá, no Boqueirão? Pois é, a rua “Voluntários Santistas” homenageia estes mártires, pelo que comemoramos o nove de julho. O “Canadá” fica na Rua Mato Grosso, que era um estado aliado paulista. Lá tem ainda as ruas Eloy Fernandes, a Firmino Barbosa, a João Pinho, a Itapura de Miranda...
Há 76 anos, nessa Revolução, os federais bombardeavam a Baixada Santista, o forte Jurubatuba, em 15 de setembro. Ouça o hino “Paris Belfort” e saiba o que era esse entusiasmo revolucionário que, partindo das classes dominantes através de campanha intensa jornais e rádios, colocou milhares de jovens na luta contra a Ditadura Vargas. Heróica, sem dúvida, mas movimentavam os cordões as velhas oligarquias do PRP...
Era a Revolução Constitucionalista de 1932. Santos, São Vicente e região deram muitos dos seus para o combate. Era a “Revolução Paulista” que no resto do Brasil é chamada de “Revolução Separatista” – embora tivesse apoio de vários Estados. Usamos até a matraca, metralhadora de mentira na falta de armas de verdade, que virou instrumento musical.
Mais de 100 mil cidadãos paulistas, entre homens, mulheres e crianças trabalharam voluntariamente na retaguarda como estafetas, costureiras, enfermeiros e cozinheiros. Os dados sobre os combatentes mortos variam muito. Oficialmente, foram divulgados 934 óbitos, mas estatísticas apontam para mais de 2.200. Cerca de 35 mil revoltosos enfrentaram aproximadamente 100 mil soldados governistas.
Outras fontes dizem que entre os 830 combatentes mortos, 32 eram santistas - a Cidade enviou três mil homens. O primeiro bombardeio aqui ocorreu em 15 de setembro, por volta de 14h30, no forte Jurubatuba. Uma esquadrilha formada por seis hidroaviões “Savoia Marchetti” pertencentes a Aviação Naval Federal, bombardeou o Forte.
Dois dias mais tarde, houve um novo e violento ataque aéreo, que derrubou parte de um muro exterior. As tropas revolucionárias, com poder de fogo quase nulo comparado ao da federação, deslocavam seus canhões constantemente, na tentativa de enganar os federalistas.
A rebelião armada começara em nove de julho e as tropas rebeldes ocupam ruas de São Paulo com apoio da imprensa e da população. Os paulistas esperam o apoio de outros estados, que não chega, e São Paulo é cercado pelos legalistas. Em três de outubro os paulistas se rendem.
A Revolução Constitucionalista de 1932, Revolução de 32 ou Guerra Paulista, foi o movimento armado ocorrido no Brasil entre Julho e Outubro de 1932, onde o estado de São Paulo visava à derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas e à instituição de um regime constitucional após a supressão da Constituição de 1891 pela Revolução de 1930.
Suas contradições: no dia em que explodiu, Vargas atendia suas reivindicações, mas isso de nada adiantava. O Governador “civil e paulista” que nomeara acabou apoiando a Revolução, Pedro de Toledo, nossa avenida, chamado nelas de “Governador” e “Embaixador”.
Foi em 1995 que o governo publicou a Lei Federal nº 9.093/95, que autorizava cada Estado a adotar uma "data magna", ou seja, uma data importante para sua história. Em 1997, o então governador Mário Covas escolheu o dia 9 de julho e, com a Lei nº 9.497, institui feriado estadual nesta data.

Todo ano, a nove de julho, o Estado de São Paulo festeja também o "Dia do Soldado Constitucionalista". Mas o dia 23 de maio de 1932 também foi determinante para os revolucionários. Foi neste dia que o povo saiu as ruas, com o objetivo de lutar pela constituição, e é também o dia que se comemora o "Dia da Juventude Constitucionalista".
O hino da Revolução de 32 era Paris Belfort, uma marcha executada como música de fundo da transmissão da Rádio Record de São Paulo, quando essa emissora - fortemente engajada na causa revolucionária - noticiou o falecimento dos quatro constitucionalistas que, com sua morte, passaram a simbolizar o MMDC da revolução. O tema musical passou a ser reprisado sempre nas locuções de César Ladeira, Nicolau Tuma e Renato Macedo, sobre o desenvolvimento da guerra.
A Revolução Paulista nasceu do Movimento Estudantil, fortemente baseada na Faculdade de Direito. Na noite de 23 de maio de 1932, um grupo de populares saiu da Praça do Patriarca e se dirigiu para a sede do Partido Popular Paulista (PPP), favorável a Getúlio Vargas, na Praça da República.

Dentro do prédio, os legalistas resistiram. Como os revolucionários não conseguiam entrar, chegaram duas escadas para que populares invadissem. Um jovem subiu e tomou um tiro. Mais quatro tentativas frustradas, resultando em cinco mortos, Martins, Miragaia, Dráuzio, Camargo e Alvarenga, o último falecido meses depois – agora é MMDCA.
No dia seguinte ao tumulto, num jantar no restaurante Posilipo, foi fundado o MMDC, as iniciais dos estudantes mortos - uma organização civil que passou a atuar na clandestinidade, e exerceu importante papel na organização e apoio e treinamento aos revolucionários paulistas no episódio de 1932.

O Estado de São Paulo dava início à luta por uma nova Constituição para o Brasil, um movimento que envolveu desde as oligarquias até crianças e mulheres, deixando marcas profundas em todos aqueles que dela participaram.

O número de mortos é seguramente maior do que as perdas brasileiras durante a campanha da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial. Oficialmente os constitucionalistas tiveram 634 mortos em combate. O número de feridos chega a impressionar: somente na Santa Casa de São Paulo deram entrada 1.273 soldados feridos, o número de mortos seria de pelo menos três mil.

Paulo Matos, jornalista e historiador, até amanhã litoral – na ordem do dia.


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