domingo, 27 de julho de 2008

68: CAPITÃO SÉRGIO E A MEMÓRIA DO HERÓI

68: CAPITÃO SÉRGIO E A MEMÓRIA DO HERÓI

Paulo Matos

A cada ano, desde que o amigo Miro ressaltou a importãncia deste episódio histórico - e isto faz mais de uma década - que o repito na forma a meu alcance. Afinal, estudei jornalismo para isso. É um tema de 1968, este mundialmente agitado ano que revolveu o planeta e nossas cabeças. A lembrança o maior e o melhor dos profissionais de salvamento do Para-Sar, equipe de salvamento em floresta da Aeronáutica, nos leva ao ano mágico de 68 e suas lições humanitárias. Episódio essencial para compreensão da história brasileira, aprendemos com a trajetória de um quarto de século vivida pelo capitão da Aeronáutica Sérgio Miranda Ribeiro de Carvalho.

Chamado Sérgio “Macaco”, por sua habilidade em escalar árvores na Amazônia para salvar vidas, foi herói das maiorias, mesmo sem nunca ter comandado grandes batalhas e nem promovido genocídios, como os “heróis” que nos são impostos. Seu papel? Ele se recusou a bombardear e matar milhares na Marcha dos Cem Mil, a manifestação estudantil de junho de 68 no Rio de Janeiro. E perdeu sua vida nesse embate em prol da humanidade, herói obstinado de sua gente.

Mas o que é obstinação? Sobre ela diz o escritor Hermann Hesse libertário que é a virtude que ele mais ama, a síntese de todas as virtudes - e que não é obedecer. A quem obedecer? O obstinado, para ele, obedece não às leis feitas pelos outros homens, mas a uma lei única, absolutamente sagrada: a lei em si mesma, ao sentido ("sinn"), do seu próprio ser ("des eigennen"). Dai obstinação, "eigenn sinn", como diz a canção a mais perfeita tradução. Por isso foi sacrificado até a morte.

Falecido em 5 de fevereiro de 1994, durou 25 anos a espera de que se revertesse a injustiça contra ele cometida. Mas quando concedida a devolução de sua patente, um presidente Itamar remeteu o assunto de volta à Advocacia Geral da União, é claro. Podemos compará-lo com o Capitão Sérgio?

Fundador do Pára-sar, grupo de elite da Força Aérea Brasileira treinado para operações de busca e resgate na selva, seu “crime” foi desobedecer ao brigadeiro João Paulo Penido Burnier. Quem determinara que a corporação executasse atos terroristas contra a população, em junho de 1968. O capitão Sérgio ousou dizer não. Tinha apenas 37 anos. E até morrer aos 63, jamais se arrependeu de seu ato nobre, recusando o perdão pois que não cometera crime, ao contrário o impedira.

Diante da agitação política em 1968, que recrudescia após o esmagamento do golpe militar de 1964, uma forte corrente de militares fascistas, então no Governo da ditadura do Marechal Costa e Silva, pretendeu justificar um governo “forte” – que pudessse torturar e matar sem protestos. O porta-voz dos “duros”, brigadeiro João Paulo Penido Burnier, ordenou que seus comandados do Pára - Sar se lançassem em atos terroristas contra o povo. Burnier agia sozinho?

O ministro, ao receber a denúncia do sanguinário projeto através do brigadeiro Itamar Rocha, diretor de Rotas Aéreas da corporação, puniu sim, com rigor, todos os que haviam se recusado a participar dos hediondos atentados. Antes, em abril de 1968, Burnier já havia colocado o Pára-Sar para caçar e matar lideranças estudantis presentes ao enterro do estudante Edson Luiz de Lima Souto, que, com 16 anos, fora assassinado pela PM, em uma manifestação pela reabertura do restaurante estudantil Calabouço.

Enquanto o Serviço Secreto do Exército matava e sequestrava, os radicais de direita invadiam o Teatro Galpão, para espancar os atores da peça Roda Viva. A PM reprimia manifestações populares com cavalos e surgia a “solução mágica” de Burnier: jogar ao mar “comunistas” e lideranças como o bispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, Juscelino Kubitschek e outras expressões militares e civis que ameaçavam, com seu prestígio, o governo arbitrário. Agora tateamos como eles assassinaram Jango e Juscelino, entre outros.

Autor do livro "Não" e personagem do documentário do cineasta francês Olivier Horn, intitulado “O homem que disse não”, o ágil Sérgio era o “Caquinho” – diminutivo carinhoso de “Macaco”. Sua história é como a do almirante negro João Cândido. A Marinha jamais aceitou o heroísmo desse líder da Revolta da Chibata, em 1910 – que conseguiu a revogação dos castigos cruéis impostos aos marinheiros. Quando a Aeronáutica reconhecerá a importância histórica e a grandiosidade humana do capitão Sérgio, que como Cândido, precisou ferir a hierarquia militar para ser correto?

Quantos agiram com sua nobeza de caráter? Quanto obedeceram e torturaram, reprimiram, perseguiram? Quantos foram os que sob ordens trairam sua própria humanidade? O que é obediência senão o sentido do proprio ser um ser formado para o bem que não admitia tergiversações ou covardias, que assumia seu perfil humano e solidário que se encantava em salvar vidas, não martirizá-las a serviço de qualquer causa - compreendendo que o sentido da hierarquia tinha limites. Os militares não gostam do assunto, que significou rompimento a hierarquia sagrada, como fizera o citado "Almirante Negro" João Cândido, outro tema fora de pauta para os fardados. São lições de vida e coragem que não podemos esquecer.

Um comentário:

Prof. Fravão disse...

olá, desculpe mas sou totalmente contra as suas palavras sobre "torres em santos"... isso com ctza não é uma teoria prática para nossa cidade de 39,4 km² de área insular e de 420 mil habitantes (mais ou menos), sendo que em sua grande maioria de classes menores... nossa paisagem linda com misturas do novo com o antigo tb não combinaria com uma vista "americanizada" ou como países asiáticos q choram lágrimas de dinheiro... além do que nosso grande sanitarista já em fins do século XIX com uma visão futurista e mto além do q mtos profissionais do século XXI, já previa q nosso clima não era favorável às grandes construções sem a menor preocupação com o meio ambiente, por isso projetou a nossa cidade da melhor maneira possível (mesmo com várias mudanças no projeto original devido a conflitos de interesses)... fora o acúmulo de pessoas dentro de uma cidade q preza as raízes, que preza seus costumes e q não simpatiza com quem vem para promover a desordem em uma cidade q d tão autônoma e d tão desprendida tem até uma constituição própria.... enfim, chamem de saudosismo ou do que for, mas grande parte dos santistas não gostariam de serem varridas para cidades como são vicente e praia grande por uma super população de não santistas com uma aquisição financeira mais privilegiada para se manter em "torres" espalhadas pela cidade mais maravilhosa q existe no brasil...