segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

FABIÃO, CANAIS E ENCHENTES - A cidade-água


FABIÃO, CANAIS E ENCHENTES
A cidade-água

Paulo Matos (*)

Como advogamos desde os primeiros movimentos ecológicos há algumas décadas, vislumbramos na capacidade de diálogo democrático do novo secretário, com técnicos e sociedade, as soluções ambientais. Entre elas, com destaque, para a questão dos canais e das enchentes - que não sejam a de nos acostumarmos com elas.

O aumento das precipitações pluviométricas, como se assiste no país, ameaça. São necessárias ações para reduzi-lo ou pereceremos. Quem sabe estes não incluam o surgimento de áreas verdes junto aos canais, como originalmente? E nas calçadas? Por que não usar concreto em vez de asfalto? Ou paralelepípedos?  Por eles, os canais, deixamos de ser uma cidade doente em fins do século XIX (o “Porto de Morte”) para ser a melhor cidade do país.

Uma das mais importantes questões ambientais a serem enfrentadas pelo vereador do PSB, agora secretário, se refere à vocação natural e geográfica que a “a cidade-água” tem em relação às enchentes. Não bastará apenas limpar bueiros e utilizar as comportas para impedir que as águas poluídas cheguem ao oceano, pois a abertura dos canais quando estão cheios força esta contaminação e isto é inevitável.

O aumento do volume de água pela impermeabilização do cimento e do asfalto, assim como a ampliação das construções para os antigos quintais e espaços verticais, fez os canais poluidores do mar: ao invés de separadores absolutos para águas pluviais,não esgotos, tornaram-se mistos também pela lixiviação e esgotos clandestinos. Dizem que vão acabar com eles, como há 30 anos. Esperamos.

O tratamento biológico dos canais com água do mar foi esquecido, mas atendem-se de imediato os pedidos populares (e pouco técnicos) para abrir as comportas nas cheias. Irracional é a idéia de tapar os canais para gerar vagas de estacionamento. Eles em breve se esgotariam ocasionando problemas de morte da fauna (os lebistes catarinenses) e da flora e o entupimento/apodrecimento/assoreamento dos mesmos.

É preciso corrigir a operação das comportas, que se exigem abertas ou fechadas de acordo com as marés para guardar água e não apenas para impedir sua chegada ao mar. O espaço original santista era pantanoso – e a ocupação humana produzindo detritos foi o que gerou o empoçamento e as epidemias que levaram metade da população de 1889 a 1891, época da dragagem do cais que também contribuiu no reforço alimentar da mosquitada.

O ressecamento do solo pelos canais com o rebaixamento do lençol d’água fez destes o depósito natural com capacidade superior a um milhão de litros, neles reservados nos momentos em que coincidem marés altas e chuvas intensas. A operação DAS COMPORTAS se exige, nestes momentos, criteriosa, sua recuperação paralisada.

Nosso pedido de tombamento dos canais, respeitando a formulação de Saturnino de Brito, em 1991, através de nossa entidade AMA-Ação Mar Aberto, junto com o arquiteto José Carlos Lodovici e ambientalistas como Nelson Rodrigues e Madelu Lopes, foi atendido de imediato tão logo ameaçaram cobri-los. Apesar do agravamento das condições construtivas e habitacionais multiplicadas, não devemos sair muito delas. Livres e abertos, os canais vieram para ficar e guardar as enchentes.

Paulo Matos 
Jornalista, Historiador pós-graduado e Bacharel em Direito 
E-mail: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br

Blog: 
www.jornalsantoshistoriapaulomatos.blogspot.com
Twitter: www.twitter.com/jorpaulomatos 
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