JOSÉ HERRERA, ETERNO
Paulo Matos (*)
Tem sentido de eternidade esta partida do cultor de Daguerre e das imagens que só este José viu e registrou além dos seres comuns, o último da epopéia dos Herrera em que era o mais velho mas foi o último a partir, pai das imagens e que por isso assim se chamava. Como nos ensinou a história, que ele produziu com maestria dos locais mais arriscados e dos ângulos que nunca dantes foram percebidos e nem serão.
José Herrera, contador de episódios e escritor de ícones, vai para junto dos cultores de ícones e efígies que fundou como símbolos magistrais de seu discurso sem palavras ôcas, estátuas ambientais homenageadas por sua lente precisa de poeta maior do que a legião de colegas que reunia letras, que em um click ampliava em daguerreótipos instantâneos e surpreendentes por sua amplitude de emoção singela.
Estas gravuras do daguerreocopista, que ele sintetizava na sua visão única de artista criador, sonhador e visionário, zombava dos brutos - ele que percebeu o poder dos bonés militares sobre a mesa da Câmara, então cenário de vilanias autoritárias que ele, sem palavras e sem possibilidade de censura, dizia aos que tinham como ele o poder de pensar. A quem premiava com seu brilho e sua inteligência sintética, sua poesia exponencial da Cidade Libertária que cultuou.
Nosso adeus nunca será o bastante para exaltar este deus calado, falante nas memórias que contava como um garoto no ônibus 17, sem perder a rota nem o sentido que guardava no seu tino e na sua visão única e esguia do ser completo e longevo que só deixou a terra quando sentiu chamarem-no para registrar o sublime. Breve faremos contato neste que agora é seu melhor ângulo, aquele que sempre buscavas. Saudações, até breve.
(*) Paulo Matos é jornalista, como José.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário