quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A VIOLÊNCIA FAZ ESCOLA. O QUE FAZER?

A VIOLÊNCIA FAZ ESCOLA.
O QUE FAZER?

Paulo Matos (*)

O conceito do psicanalista ucraniano Wilhelm Reich tem um papel fundamental em sua obra psicanalítica, designando basicamente o conjunto de sintomas neuróticos. Que, com o denominador comum das tendências sadomasoquistas, impregnam a personalidade do ‘‘homem medíocre’’ contemporâneo.

Idosos e crianças, além de jovens e adultos, não falam outra coisa – a violência é o tema dominante. Reich chama de “praga emocional” essa tendência, presente em setores da classe média ou alta que se identificam com a repressão. E toca a pedir o reforço da “segurança” gerando balas perdidas. As novelas aderiram.

São pessoas favoráveis não apenas à pena de morte, mas à tortura e tratos cruéis, assim como à negação de direitos nas prisões - o que multiplica, geométrica e irracionalmente, a marginalidade. Ouvi certa vez Dona Maria Augusta Capistrano, mãe do ex-prefeito David, dizer que a violência atual é resultante da violência exemplar da Ditadura e da escravidão. É inerente ao capitalismo cruel e o Brasil é um dos países mais violentos do mundo.

A violência está presente na sociedade, como vingança saborosa. É doença social. Ela nega a integridade física ou psicológica e mesmo a vida de outro. É o uso excessivo de força, além do necessário ou esperado. Vem do latim violentia e deriva de vis, força, vigor. Está dentro de nós mesmos e atrai milhões, basta ver seu sucesso na cinema e na televisão. Eliminação em massa de pessoas já não horroriza: quantos aprovaram e aprovam o massacre dos 111 do Carandirú?

Trata-se de um problema grave, a que o estado deve interferir com moduladores culturais e exigências nas telecomunicações. Chamar esta exposição de “liberdade de expressão” é crueldade social. Se algo assusta, este temor é a paixão popular por atos criminais, refletindo o quanto saudável é a sociedade da competição produzindo coisas assim. A violência intrínseca dos expectadores é maior que a dos agentes. Temos muitos adeptos das teorias de eliminação imediata e sem julgamento, cada vez mais numerosas – o que dá medo – pois geram exemplos.

As novelas, mais do que populares, diárias e múltiplas que dão aulas de gritos e pancadarias – até crimes, agora, viraram moda – atraem milhões. São patologias sociais, reflexos de um sistema econômico e político competitivo e opressivo, que exclui a solidariedade e a participação. Esta violência exposta não é um epifenômeno ou um detalhe sem maior importância, exige intervenção. Até que ponto essa infestação de violência não torna a sociedade mais violenta? São tempos dos cronistas policiais.

A violência deseduca? Lance o tema em qualquer roda e não se falará mais em outra coisa: o tema é atrativo. E saboroso, para tantos. Nosso papel é saber até que ponto isso é deletério e maléfico à sociedade, até que ponto a “educa” para a violência. As páginas policiais dos jornais impressos são por muitos buscadas prioritariamente na leitura dos diários.

Presente e freqüente nos canais da TV aberta, quando não investigados “cientificamente” com todos seus detalhes sórdidos e desumanos em “especiais”, estas matérias estão nas telas em todos os telejornais que, competindo pela audiência e pelo lucro – aliás, seus únicos fins, contrariamente à concessão estatal que lhes dá liberdade absoluta de programação.

A impressão é que de algum modo as pessoas tem uma grande atração por este tipo de notícia. basta perceber as atrações que são as ocorrências policiais nas ruas, em torno das quais se aglomeram centenas de pessoas. Esta violência intrínseca explode nas relações sociais, nos esportes, no trânsito. A violência consome o espírito e gera a mortal adrenalina. Mata em todos seus sentidos.


(*) PAULO MATOS
 Jornalista, Historiador pós-graduado e bacharel em Direito. Escreveu o livro “Anchieta, 15 anos, a redenção da loucura” F 13-38771292-97014788 - Email: jornalistapaulomatos@yahoo.com.br
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